Paula Morais e o Kodak do Quotidiano
A professora de filosofia e de yoga, que já viveu muitas vidas e tem outras tantas para viver, escreveu um livro mas já só pensa no romance que tem para escrever e que quer que seja a sua obra prima.
Paula Morais escreveu um livro de contos que os amigos anunciaram como “um hino à vida”. Kodak do Quotidiano é uma reflexão em textos curtos, na sua grande maioria inspirados na vida de uma professora de filosofia, praticante de yoga, mulher livre que diz que gosta de praticar a vida de forma divertida, sempre que possível escrevendo contos e um diário, que um dia há-de ser a grande ferramenta para o romance que quer publicar.
Leitora dos grandes autores portugueses do neorrealismo, mas tarde de John Steinbeck , Gabriel Garcia Márquez, Hermann Hesse, Halldór Laxness, e mais recentemente de Elena Ferrante, entre outros, Paula Morais assume que sempre se sentiu perto dos grandes autores, embora em certa altura da sua vida, quando praticou yoga de forma intensiva, o vício da escrita abrandou para dar lugar a uma prática de vida que ia muito para além da massagem do seu ego. Faltou falar da portuguesa Adília Lopes, a mais contemporânea de todas as escritoras que admira, a quem gostava de oferecer o livro se isso fosse possível.
“Kodak do Quotidiano é mesmo o meu livro de iniciação”, diz, assumindo que o que gosta mesmo é de escrever poesia, para que um dia se sinta preparada para escrever o romance que sabe que lhe vai dar trabalho, mas que certamente a compensará espiritualmente enquanto persegue o caminho dos autores que sonham escrever a sua obra prima.
“Vivo poeticamente. Hoje vivo e trabalho das minhas aulas de yoga, depois de viver da profissão de professora de filosofia. Mas vou mudar outra vez. Vou mudar de vida, não sei muito bem para onde vou, mas sei o que quero; nunca tive uma vida estável, parece uma sina, que aceito sem refilar, porque gosto de tudo aquilo que vai acontecendo e me faz crescer; se há coisas que não me metem medo é procurar, sabendo que vou encontrar-me mesmo depois de me sentir perdida, ou exatamente quando sinto que estou realmente perdida é que me encontro verdadeiramente comigo própria”, diz, depois de explicar como se movimenta em Lisboa, seja entre amigos, ou praticando a meditação sozinha nos seus retiros.
Paula Morais vive rodeada de amigos, alguns retratados neste seu primeiro livro; sente-se uma pessoa de comunidades, mas assume que precisa de ficar sozinha de tempos a tempos para poder recuperar o desejo da criação, nomeadamente da escrita, que é a sua grande paixão.
Quando Paula Morais aceitou falar do seu livro com O MIRANTE, Kodak do Quotidiano já tinha passado pela mão de mais de meia centena de amigos que ajudaram a lançar o livro ou compareceram no lançamento. Na altura ainda alimentava o desejo de o divulgar na Sertã, a sua terra de nascimento, mas também em Almeirim, “porque muitos desses contos têm referências da Sertã, da infância, e de Almeirim, porque foi por lá que também cresci e vivi muitas das minhas amizades”, confessa, enquanto esclarece que o livro também é construído de ficções, que é aquilo em que se transforma a vida enquanto tudo vai acontecendo e mudando com mais ou menos dramatismo, com mais ou menos felicidade .
Embora viva em Lisboa há muitos anos, Paula Morais diz que quer regressar às raízes, e tanto pode ser para o Ribatejo como para a Beira Baixa; o importante é que encontre um lugar que a satisfaça nesse desejo de ficar perto da terra e do rio, das raízes mas também dos ramos altos das árvores.
Paula Morais tem 58 anos mas ainda se identifica com a mulher de província de outros tempos, que, entretanto, para além de tudo o que viveu e aprendeu, ainda fez teatro, dirigiu um grupo amador, criou e alimentou uma mente cinematográfica no sentido de ver as coisas, de ver o espetáculo, a encenação, tudo o que gira em cima de um palco e é motivo para festejar a arte da palavra da representação; fez parte de um grupo coral, foi directora de uma revista de yoga e ainda encontrou tempo para continuar sempre a estudar.
Vegetariana, sem ser extremista, Paula Morais, confessa que toda a gente devia praticar yoga para se conhecer melhor nas alturas em que é preciso mudar de vida e de hábitos. “Sou uma pessoa altamente ativa, e gosto de realizar coisas, acho que me defino pelas obras que vou criando. No entanto foi a prática do yoga que me ajudou a perceber melhor o mundo de onde vim, qual a minha relação com o cosmos. O yoga proporciona a transformação da consciência, é uma ferramenta para a escrita, e todas as outras atividades artísticas”.
Kodak do Quotidiano é uma edição da editora Cordel d`prata e pode ser encomendado para o sítio da editora que se encontra facilmente numa pesquisa na internet.