Nos quartéis de bombeiros também se aprende música

O MIRANTE foi conhecer a Banda dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Santa Iria e a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários da Castanheira do Ribatejo que têm, com a música, acompanhado o percurso dessas associações humanitárias. São escolas de vida e de companheirismo entre gerações.
Conservatórios do povo, espaços de companheirismo e palcos para muitas histórias e memórias, assim são as bandas e fanfarras das corporações de bombeiros. Dois exemplos desse percurso de dedicação à comunidade são a Banda dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Santa Iria e da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários da Castanheira do Ribatejo, ambas com mais de três décadas ao serviço da comunidade.
Dedicado à música e à banda dos Bombeiros da Póvoa de Santa Iria desde os oito anos, Tiago Trigo, hoje com 41 anos e um dos elementos mais antigos da banda, toca trompete e viu no seu avô a inspiração para seguir o caminho da música. Engenheiro electrotécnico de profissão, hoje o seu principal objectivo é perpetuar a banda e continuar a fazer a diferença na vida das crianças e jovens que por ali passam.
A prima de Tiago, Carolina Batista, de 18 anos, é também um exemplo da evolução das diferentes gerações que fazem parte da banda. Depois de muita insistência e trabalho de persuasão sobre os benefícios de crescer dentro de uma banda de música Carolina acabou por se juntar ao grupo. Confessa que no início não estava muito convencida que a música era para si, mas também por influência de um avô decidiu experimentar tocar bombardino, que diz ter sido a peça que lhe faltava. Actualmente está no primeiro ano do curso de Gestão de Recursos Humanos, mas não pensa abrir mão do tempo que passa na banda e das amizades que construiu ao longo dos anos.
O ‘milagre’ de António Lopes
Já na fanfarra dos Bombeiros de Castanheira do Ribatejo, António Lopes, 67 anos, é o membro mais antigo. Bombeiro de profissão, deu os primeiros passos dentro da corporação com 20 anos. Diz que foi nos bombeiros que aprendeu a ser homem e na fanfarra teve a oportunidade de tocar praticamente todos os instrumentos ao longo dos anos.
“Fomos um dia tocar nas festas de Alenquer e eu estava a tocar bombo. Fizemos a volta para depois terminarmos junto à igreja. Eu tinha a mania de mandar as baquetas ao ar e ficou uma presa nuns fios. Ainda tentei abanar e não caía. Continuei o percurso só com uma, até que, no regresso, quando eu ia a passar ela caiu directamente na minha mão. As pessoas começaram a dizer que era um milagre, ajoelharam-se e começaram a sentir-se mal de tanta emoção”, recorda a O MIRANTE.
A coordenar a fanfarra desde o seu retorno e como presidente da assembleia-geral, Mara Almeida sempre esteve ligada aos bombeiros. Com vários membros da família a vestirem a farda foi em homenagem ao pai que decidiu voltar a apostar na fanfarra. “O meu pai era tetraplégico, mas era bombeiro. Ele ajudava muito na central e cresci junto disto. Quando surgiu a oportunidade de fazer parte da assembleia-geral e de retomar a fanfarra aceitei logo. Vejo isto como uma maneira de o deixar orgulhoso”, conta.

Desafios e caminhos comuns
A Banda dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Santa Iria foi fundada há 32 anos, completados em Outubro. O seu formato actual nasceu em 2008 com a aposta em professores específicos para os diferentes tipos de instrumentos (metais, percussão, clarinete, flauta, entre outros) ao estilo de um conservatório. Actualmente com cerca de 40 elementos na banda e com 60 alunos inscritos na escola de música, o principal objectivo é continuar a formar as crianças e mantê-las motivadas e em contacto com a música.
Já a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários da Castanheira do Ribatejo tem mais de quatro décadas de história, sempre com foco em representar da melhor maneira possível a corporação dos bombeiros da Castanheira. Com altos e baixos, a fanfarra voltou à actividade há seis meses, depois de ter estado parada desde 2019 por falta de elementos. O grupo está com vontade de fazer mais e melhor e tem lançado recentemente uma campanha de angariação de fundos para compra de novos instrumentos.