Cultura | 28-01-2023 07:00

Attila Mendly: um artista que se apaixonou pela lezíria

Attila Mendly: um artista que se apaixonou pela lezíria
Attila Mendly nasceu na Hungria mas o artista plástico viveu grande parte da sua vida em Benavente, onde está patente uma exposição sobre a sua vida e obra

Benavente homenageia Attila Mendly com exposição e livro sobre a vida e obra de um artista plástico que, em meados do século passado, se fixou no Ribatejo e fez da paisagem da lezíria fonte de inspiração para múltiplas obras.

Circunstâncias relacionadas com um processo judicial em que era acusado levaram o artista húngaro Attila Mendly de Vétyemy até Benavente. Corria o ano de 1957 e o pintor já vivia no nosso país desde a década de 30. O advogado que o defendeu nesse processo, relacionado com o atropelamento de um polícia, era de Vila Franca de Xira e presidente da Câmara de Benavente, vila sede de um concelho onde o artista acabaria por fazer vida e que inspiraria muitas obras.
O episódio foi contado pela filha do artista que, emocionada, marcou presença na inauguração da exposição de homenagem ao pai no Cineteatro de Benavente. A vida e obra de Attila (1911-1964), que chegou a Portugal em meados da década de 30, foi explorada por António Augusto Joel, que colaborou com o sector da cultura do município de Benavente, o que resultou para além da mostra, num livro de 200 páginas sobre o percurso deste artista e dos seus trabalhos no nosso país.
A filha, Verónica Mendly, perdeu o pai com apenas 11 anos, e por isso disse desconhecer muitos dos episódios que foram analisados pelo autor e que estão patentes neste livro com a chancela da câmara municipal. Attila Mendly estabeleceu-se em Benavente em 1957 e por lá permaneceu até ao fim da sua vida. Moveu-se nos círculos de influência da época e foi acolhido por António Gabriel Ferreira Lourenço, presidente da câmara e co-proprietário do Colégio de Benavente, onde a sua filha estudava.
O facto de ter saído muito jovem da Hungria poderá ser um dos motivos pelo qual Attila Mendly não tem grande destaque no seu país de origem ao contrário do seu pai, também ele artista. O próprio embaixador da Hungria, presente na inauguração que decorreu no sábado, 21 de Janeiro, admitiu desconhecer a obra de Attila. “Pode haver aqui uma possibilidade de dar a conhecer o seu trabalho na Hungria. Vou levar este conhecimento comigo”, referiu.
O sector da cultura do município mereceu rasgados elogios pelo trabalho apresentado e que resultou de um desafio lançado ao autor da obra. “Agradeço ao Augusto e à câmara porque se não fossem eles ninguém teria feito isto”, disse comovida Verónica Mendly. Para o presidente do município, Carlos Coutinho, a Câmara de Benavente cumpriu um compromisso com a família do artista e com a comunidade porque agora é possível dar a conhecer a sua obra e a importância que teve ao evidenciar nos seus trabalhos a identidade cultural de Benavente e do Ribatejo.
As xilogravuras de Attila encheram o olho a quem visitou a exposição, mas o desenho, a gravura e a pintura também fazem parte do seu espólio. A lezíria ribatejana como pano de fundo e os quadros tauromáquicos ligam o artista ao Ribatejo. “Temos um acervo grande do Attila, deixado por António Ferreira Lourenço, e tivemos oportunidade de adquirir mais obras do solar de Benavente. O Museu Municipal vai ter um espaço dedicado a Attila. O empreiteiro faliu e por isso a obra atrasou, mas vamos conseguir concretizar”, afiançou Carlos Coutinho.

António Augusto Joel reconstruiu a vida e obra de Attila Mendly em colaboração com o município de Benavente

A ligação à lezíria ribatejana

O primeiro registo público da colaboração de Attila Mendly com o Estado Novo e com o secretariado da Propaganda Nacional, instituído em 1933 por António de Oliveira Salazar, surge com a publicação do seu álbum de doze gravuras alusivas a Lisboa. A O MIRANTE, António Augusto Joel explica que esta conotação com o Estado Novo (a seu ver erradamente) pode ter levado a que a obra do artista não tenha tido o devido destaque.
Nas pesquisas do autor é relatada a ligação de Attila com António Gabriel Ferreira Lourenço. O presidente da Câmara de Benavente da época era apoiante da União Nacional e membro da Legião Portuguesa, pelo que “a sua acção terá sido decisiva para a realização das exposições do artista em vários locais como, por exemplo, em Vila Franca de Xira (1960)”. Esta relação terá contribuído também para Attila passar a dedicar-se mais à pintura a óleo com a lezíria como paisagem dominante. Este tema já surgia no catálogo da exposição de Torres Vedras, realizada em 1953, onde são referidos oito óleos com títulos explicitamente ligados ao Ribatejo.

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