Barry Chattington decidiu abandonar Inglaterra e mudar-se para Portugal no momento em que escrevia um livro sobre o realizador David Lean. A decisão foi tomada há 17 anos e desde essa altura que Ferreira do Zêzere é a sua casa. Escreveu “David Lean: An Intimate Portrait [um retrato íntimo]” em co-autoria com Sandra Lean, a sua última esposa. “Quando ia a casa dela a empregada estava lá e elas falavam o que parecia ser russo. Afinal era português. A Sandra tinha 18 anos quando se apaixonou por um homem português. Foi assim que aprendeu”, explica, acrescentando que foi desafiado pela esposa de David Lean a vir a Portugal. “Na minha ideia Portugal estava cheio de ingleses aborrecidos que gostam de jogar golfe. Sandra, que faleceu há cerca de quatro anos, explicou-me que isso acontecia apenas no Algarve. A culpa de aqui estar hoje é da Sandra Lean”, afirma o realizador a O MIRANTE, numa conversa realizada na sala de sua casa, no Carril, concelho de Ferreira do Zêzere.
Fez uma lista de hipóteses e foi junto ao rio Zêzere que se fixou, depois de ter começado a procura mais a Norte. Barry Chatington assume que ficou surpreendido porque não esperava que as pessoas em Portugal fossem tão genuínas. “Nos países do Norte da Europa há a lógica de seres pago para ajudar. Aqui, em particular no Ribatejo, há uma tradição de voluntariado”, refere, considerando que “a maioria das pessoas tem uma positividade sobre a vida que em Inglaterra não existe”. Sobre o facto de continuar sem falar português, Barry Chattington afirma, em jeito de brincadeira, que a população local lhe facilita muito a vida por saber falar a língua oficial do Reino Unido.

Paul McCartney, Pink Floyd e Charlie Chaplin
Começou a trabalhar para a indústria cinematográfica antes dos 18 anos, mas desde os 12 que queria ser realizador. Antes de abraçar a profissão foi muitos anos editor (ou montador, termo português em desuso). A maioria da sua obra caracteriza-se pelo documentário. “Nunca quis fazer um filme de ficção porque demora a ser feito. Na minha carreira fiz uma série de documentários em que viajava por todo o mundo. Em quatro dias fazia-se um programa de uma hora”, recorda. Trabalhou com Paul McCartney, já depois do desmembramento dos Beatles e foi um dos primeiros realizadores a filmar no Vaticano, com a princesa Grace Kelly. Também trabalhou com a banda Pink Floyd. Na tour do álbum “Dark Side of the Moon” era Barry Chattington que fazia os vídeos que apareciam no palco. Fez uma versão para os concertos em França e outra para os espectáculos em Inglaterra. “Também era suposto fazer uma versão para os EUA, mas nessa altura eu e o Roger Waters desentendemo-nos”, recorda. A briga surgiu quando o jornal “Le Figaro” publicou uma crítica de oito colunas após um espectáculo em Paris. Sete e meia eram sobre o filme, meia coluna era sobre a música.
Ajudou a gerir durante muitos anos a empresa Roger Associates Limited. Todos os filmes dos Monty Python tiveram o som misturado pela empresa. Barry Chattington também se orgulha da presença de Charlie Chaplin todos os anos nos estúdios. “Passava lá um mês seguido, estava a comprar de volta os filmes que tinha feito e a editar a banda sonora. E gostava de chá à tarde”, lembra. Há vários anos que é membro dos BAFTA, como um dos jurados que vota nos candidatos aos prémios britânicos do cinema e da televisão.