Alves Redol vai ter uma casa com o seu nome em Vila Franca de Xira
Os herdeiros de Alves Redol estão a oferecer uma casa no centro da cidade para a instalação de um espaço museológico que pode ser uma continuação do serviço que o Museu do Neo-Realismo presta à história da literatura portuguesa e dos escritores mais importantes deste movimento.
António Mota Redol, filho de Alves Redol, seu herdeiro e um dos grandes dinamizadores do Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira, propôs à câmara municipal a cedência de um edifício do qual é proprietário para a instalação de um espaço dedicado à memória do pai, assim como de outros escritores do seu tempo. Mota Redol deu ainda conhecimento da proposta à direcção e alguns associados da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, que depois do nascimento da obra se constituiu como uma espécie de Liga de Amigos.
António Mota Redol confirmou a O MIRANTE que, em Outubro de 2022, apresentou o projecto ao presidente da autarquia, Fernando Paulo Ferreira. A ideia é ligar o futuro espaço Alves Redol ao Museu do Neo-Realismo, uma vez que a sua actividade será sempre complementar ao trabalho realizado no museu e vice-versa. A ideia é mesmo que a casa tenha uma exposição permanente que seja o retrato e o testemunho das obras mais emblemáticas do escritor assim como do meio onde decorrem as tramas dos livros, nomeadamente Glória do Ribatejo, região do Ribatejo, os Avieiros, o Douro, Nazaré e Lisboa.
O espaço, que será cedido pelos herdeiros de Alves Redol, tem área suficiente para instalar as duas bibliotecas do escritor, uma das quais se encontra no museu, assim como bibliotecas de outros escritores neo-realistas, já que o museu tem as suas reservas muito saturadas e necessita de espaço para receber mais obras e documentação, segundo foi partilhado com o nosso jornal. Os materiais a expor serão reproduções, para evitar grandes investimentos e a ideia é manter o espaço aberto ao público, em particular às escolas, mas continuando ao serviço dos grandes objectivos do museu.
A ideia de uma Casa-Museu Alves Redol surgiu logo após a morte do escritor por parte dos seus amigos e de pessoas de Vila Franca de Xira, como se descreve pormenorizadamente no livro “A Génese do Museu do Neo-Realismo”, de Joana Lima, de 2017. Em 1979 a comissão constituída para a criação da Casa-Museu de Alves Redol decidiu que era altura de implementar a ideia mas, atendendo à realidade das casas-museu em Portugal, nasceu a ideia de trabalhar no Museu do Neo-Realismo, o que foi aceite por todos e acabou por ser apadrinhado pelo poder político de VFX, nomeadamente pela presidente da câmara da altura Maria da Luz Rosinha.
Recorde-se que Alves Redol é, provavelmente, o mais importante cidadão nascido em Vila Franca de Xira e um dos mais importantes escritores do Séc. XX em Portugal. Alves Redol dá nome de rua e de escola em várias cidades, aldeias e vilas do país, e mereceu estátuas, bustos e outras memórias.
200 mil euros para patrocinar obras de outros autores
António Mota Redol contribuiu para a fundação do Museu do Neo-Realismo e sua construção em Vila Franca de Xira e é reconhecido como um dos mais destacados dinamizadores da Associação Promotora do Museu do Neo-realismo de Vila Franca de Xira. O filho do autor de “A Fanga”, “Avieiros”, “Gaibéus” e o “Cancioneiro do Ribatejo” tem ajudado a financiar obras literárias ligadas na sua grande parte aos escritores neo-realistas e à história da literatura desses tempos. António Mota Redol, em entrevista a O MIRANTE em Junho de 2022, revelou que já gastou do próprio bolso cerca 190 mil euros a financiar iniciativas.
António Redol explicou que o seu pai deixou escrito que gostava de ver cumprido o desejo de os direitos de autor de um dos seus livros contribuírem para financiar actividades culturais. Ele próprio, que foi o único herdeiro, decidiu que deveria investir a totalidade dos direitos de autor, dinheiro que nos últimos anos tem recebido cada vez com menos frequência uma vez que a obra de Alves Redol deixou de fazer parte do Plano Nacional de Leitura.
À Margem / Opinião
O exemplo de António Mota Redol
“Não pergunte o que é que o seu país pode fazer por si; pergunte o que é que você pode fazer pelo seu pais". A celebre frase de John F. Kennedy ajusta-se ao que o herdeiro do escritor Alves Redol tem feito pela memória do seu pai e, conjuntamente, pela memória de todos os escritores do movimento neo-realista que marcou um dos períodos mais ricos da nossa memória colectiva mais recente como país. António Mota Redol não desiste de continuar a construir um legado, para que fique ao alcance de todos os portugueses, que honra a história da cultura portuguesa mas também o génio dos grandes vultos que, como seu pai, deixaram para a posteridade obras que são testemunhos únicos da história do povo português antes e depois do 25 de Abril de 1974.