Em Ortiga, no 1º de Maio cumpriu-se a centenária tradição do Enfeitar as Fontes
Esta festividade, pelos elementos envolvidos, estará relacionada com velhos cultos das árvores e cereais, numa perspectiva muito próxima das Floralia romanas, ao tempo organizadas nos primeiros dias de Maio, em honra de Flora e da Primavera, como símbolo do renascer da natureza.
As gentes de Ortiga têm, ainda hoje, uma forma muito particular de viver em comunidade e assim mesmo, de enfrentar os problemas que se lhes vão deparando, no dia a dia da realidade.
Estamos em presença de uma consciência colectiva muito bem gerada e praticada, não só no seio da família, como no da própria comunidade.
Uma cultura muito própria, que corresponde ao que os naturais foram recebendo do ambiente social em que estão inseridos. De tudo aquilo que, enquanto crianças e jovens, aprenderam dos pais, avós e pessoas mais velhas e, até, dos próprios companheiros de brincadeiras, das descobertas, da organização e da execução das tarefas colectivas a que obrigavam as festividades cíclicas tradicionais .
Estes padrões de comportamento porque transmitidos de geração em geração, constituem aquilo que Ralph Lincon designou de herança social.
De entre essas festividades cíclicas tradicionais, o Enfeitar as Fontes na noite de 30 de Abril para 01 de Maio de cada ano, surge como uma das mais marcantes.
Esta festividade, pelos elementos envolvidos, estará relacionada com velhos cultos das árvores e cereais, numa perspectiva muito próxima das Floralia romanas, ao tempo organizadas nos primeiros dias de Maio, em honra de Flora e da Primavera, como símbolo do renascer da natureza.
Atente-se que, no Enfeitar as Fontes, se utiliza unicamente vegetação e flores naturais.
Porque se trata de uma festividade que faz parte dessa herança social, todos os ortiguenses sentem ter uma quota de responsabilidade para que essa herança não deixe de ser respeitada, com a consciência de que uma sociedade que não preserva e não respeita o seu passado e a sua memória colectiva é uma sociedade sem futuro.
Desde há vários anos que o envolvimento nestas actividades deixou de ser exclusivo dos jovens e bairro a bairro, as mulheres e os homens nele residentes ou neles nascidos – há bastantes que embora não residindo em Ortiga, por amor às suas raízes, se apresentam para participar – mediante lideranças informais surgidas no seio de cada um dos grupos de trabalho organizados em função da sua Fonte, é concebido o desenho floral a executar e procede-se à recolha das verduras e das flores necessárias, pelos jardins e campos de Ortiga.
Foi assim que, na passada noite de domingo, dia 30 de Abril, para segunda-feira, dia 1 de Maio, desde a Fonte do Centro/João d’Oliveira Casquilho a celebrar o seu centenário em Junho próximo, à do Monte Novo, passando pelas duas da Fonte Velha, Fundo da Rua/Adro da Igreja, Porto, Estação dos Caminhos de Ferro e Fonte dos Burros, todas mereceram os devidos trabalhos de embelezamento.
Durante toda a noite, dezenas de mulheres, homens, jovens e muitas crianças trabalharam e/ou acompanharam os trabalhos.
Acreditamos que, mentalmente, todos e todas as participantes reviveram, de per si, muitas das suas juvenis acções nocturnas de Primeiros de Maio, tão saborosas quão longínquas.
Pela manhã, foi lindo de constatar que a avaliação de toda a população e do imenso número de visitantes era notoriamente positiva.
Para além das muitas dezenas de visitas às Fontes é de referir, por muito importante na componente formativa, o facto da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Mação ter promovido um Passeio Pedestre de Avós e Netos de visita às Fontes, interessante caminhada que juntou as duas gerações da família, em ambiente de imensa sensibilização para a cultura imaterial ligada à imensa beleza da Natureza.