Cultura | 04-06-2023 15:00

Associação trabalha para que Alcorriol deixe de ser uma aldeia esquecida no mapa

Associação trabalha para que Alcorriol deixe de ser uma aldeia esquecida no mapa
Dirigentes da Associação Cultural e Recreativa de Alcorriol, concelho de Torres Novas, pretendem desenvolver projectos que dinamizem a freguesia

Na pequena aldeia do concelho de Torres Novas há uma associação feita de homens e mulheres que contrariam o fado de viverem numa terra “votada ao esquecimento”. Três dirigentes da Associação Cultural e Recreativa de Alcorriol contam como conseguiram requalificar a antiga escola primária, falam dos projectos que querem desenvolver e das lutas que estão por vencer, como é o caso da instalação da rede de esgotos reivindicada há mais de quatro décadas.

Desviada da estrada nacional, e com acessos sinuosos, marcados por curvas e caminhos estreitos, a pequena aldeia de Alcorriol, no concelho de Torres Novas, passa despercebida. A escola primária fechou há 15 anos por falta de alunos, a rede de esgotos não é ainda uma realidade e os cafés e a mercearia há muito que fecharam portas. O cenário apresentado pode não parecer cativante, mas em Alcorriol, onde as janelas das casas se abrem para a Serra de Aire e a igreja do século XVII se impõe à chegada, há uma associação feita de gentes da terra que diariamente luta para que aquela aldeia seja um lugar melhor.
O plano de actividades, admitem os dirigentes, pode até parecer “utópico”, mas a pouco e pouco a Associação Cultural e Recreativa de Alcorriol vai somando conquistas, como é o caso da requalificação da antiga escola primária, um espaço de memórias para grande parte dos cerca de 200 habitantes da aldeia que ainda ali aprenderam a contar, a ler e a escrever. Resultado de uma requalificação profunda, que decorreu de Abril a 18 de Maio, e que contou com o apoio da EDP e da associação sem fins lucrativos Just a Change, a antiga escola está agora pronta para o próximo passo: pôr a comunidade a “voltar a aprender na escola” ofícios e matérias que vão desde a área do ambiente, literacia financeira, cultura, agricultura biológica, gastronomia, aos antigos lavores como o croché, os bordados e as pinturas, explica a O MIRANTE a presidente da Associação Cultural e Recreativa do Alcorriol, Ana Oliveira.
“A escola estava fechada e em vias de cair. Estávamos com medo que fosse parar a uma lista de vendas como muitas vão”, refere a dirigente, sublinhando que aquele edifício não é um dos que foi construído pelo Estado Novo, mas com doações da população da aldeia. “O povo construiu-a e agora voltou a lutar pela sua reconstrução”, sublinha o vice-presidente, Gonçalo Cavalheiro, adiantando que já estão em curso negociações com a Câmara de Torres Novas para a elaboração de um protocolo de cedência que permita à associação ali desenvolver iniciativas abertas ao público.
Enquanto se faz a conversa, na sede da associação 15 mulheres com idades para lá dos 65 anos iniciam uma aula de ioga semanal com a professora voluntária, Ana Silva. “Esta sede funciona como um espaço de convívio e é fundamental para a população”, explica a secretária da direcção, Sónia Ferreira, filha da terra que regressou a Alcorriol há oito anos para gozar a reforma. Porque, apesar da idade, completa Gonçalo Cavalheiro, trata-se de uma população muito activa, que “trata do gado, das hortas e que gosta de conviver”. Mas por entre as casas mais antigas e intocadas há outras que se levantaram recentemente de raiz ou que foram reconstruídas para serem morada de jovens casais. E são esses, salienta o vice-presidente, que a associação “precisa de captar” para que seja possível “voltar a unir a aldeia” e trazer sangue novo para o movimento associativo local.
“Temos que nos esforçar por envolver a população abaixo dos 30 anos e também temos que nos reinventar porque as actividades culturais e recreativas de 2023 não são iguais às dos anos 90”, afirma o dirigente que regressou há dois anos à aldeia onde em tempos fundou o clube de jovens da associação, entretanto extinto.

Associações culturais e recreativas precisam de se modernizar
Para Gonçalo Cavalheiro é fundamental que as associações culturais e recreativas se modernizem e se capacitem para que consigam tornar-se úteis para as comunidades e acompanhem a actualidade. “Este tipo de associações ficou parada no século XX. Não se modernizaram, não se capacitaram, mantêm tudo muito informal e isso torna-as mais fracas”, afirma, sublinhando que a Associação Cultural e Recreativa de Alcorriol não é excepção. Entende, por isso, ser fundamental que os dirigentes invistam em parcerias com outras associações, entidades e empresas que ajudem a levar a cabo projectos e ambições.
Na calha, para a direcção empossada em 2022, está também a criação de uma “marca para a aldeia” que irá destacar o que Alcorriol tem de melhor para oferecer nomeadamente a vista desafogada para a Serra de Aire e os figos e as amêndoas ali produzidos. Outro dos objectivos passa por promover um estudo da biodiversidade existente na aldeia, onde para já estão identificadas 12 espécies de borboletas e 30 espécies de aves e a marcação de um trilho e de uma rota interna pelas várias fontes que já começaram a ser recuperadas. Em simultâneo, a associação vai continuar a apostar na festa da Quinta-Feira da Ascensão, no Festival das Sopas (em Novembro), nos Petiscos de Verão e no almoço-convívio do feriado de 25 de Abril.

Rede de esgotos é reivindicada há 48 anos

A Associação Cultural e Recreativa de Alcorriol foi oficialmente constituída em 1977 com o propósito de dar mais e melhores condições a uma aldeia “votada ao esquecimento”, onde as estradas asfaltadas eram praticamente inexistentes, o fornecimento de água era ineficaz e a construção de uma rede de esgotos era prioritária, lê-se num documento que a comissão de moradores - que depois deu origem à associação - entregou em 1975 na Câmara de Torres Novas. Mais de quatro décadas depois, a implementação da rede de saneamento continua a ser uma reivindicação da associação e população da aldeia. “Mas já sabemos que tão cedo não serão instalados esgotos em Alcorriol”, lamenta Ana Oliveira.

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