Cultura | 24-06-2023 07:00

Cláudia Zarro canta o fado com alma e talento

Cláudia Zarro canta o fado com alma e talento
Natural da Nazaré mas a viver há mais de uma década em Azambuja, Cláudia Zarro é uma apaixonada por fado

Cláudia Zarro é fadista de talento e paixão. Tem dias em que se dedica mais ao fado outros à profissão de administrativa que lhe garante estabilidade financeira.

Nazarena a viver há mais de uma década no Ribatejo não vive de ilusões, mas luta para continuar a levar ao público o fado que há na sua voz. Não a choca a fusão entre o fado tradicional e as sonoridades mais contemporâneas, compreendendo que quem vive da música acaba por ter que se tornar mais comercial.

Quem pergunta a Cláudia Zarro o que faz da vida não leva uma resposta única porque além do seu emprego fixo no Estabelecimento Prisional de Alcoentre, que lhe garante estabilidade financeira, não é difícil encontrá-la a cantar fado para um público que tanto pode ser português como estrangeiro. E é no fado que a nazarena, a viver há mais de uma década em Casal de Além, Azambuja, se encontra e se revê entre os trinados de uma guitarra portuguesa e os versos de um poema. “Preciso do fado, nele sou só eu. Todos os dias me levanto para ser a Cláudia que trabalha, que é mãe, dona de casa, cozinheira, e tenho muito pouco tempo para ser só a Cláudia. E a Cláudia é fado”.
Através desse desejo de menina - “de cantar e ser conhecida” - que não abandona, diz querer acima de tudo transmitir aos seus filhos, Renata e Vicente, que os sonhos podem comandar a vida. “Mostrar-lhes que independentemente do caminho que tomarem há sempre espaço para fazer o que mais gostam”. E o seu caminho no fado tem sido feito com ponderação, sem pressas de gravar discos ou pisar grandes palcos. Apesar dessa postura, o marido, o também fadista Hugo Faustino, não hesitou em inscrevê-la no programa da RTP Estrelas ao Sábado, no qual é uma das semi-finalistas e onde interpretou “Rouxinol do Ribatejo”, um dos fados da sua autoria que lhe valeu uma chuva de críticas positivas dos jurados. Também este ano foi uma das artistas convidadas para actuar na Feira de Maio em Azambuja.
Na sua voz ouve-se quase todo o tipo de fados, desde os mais tradicionalistas e “pesados” aos mais “corridinhos” e alegres. É o “poema que tem que [lhe] dizer alguma coisa”, ligá-la a um momento da sua vida, para que consiga cumprir o propósito: “passar a mensagem e a carga de cada palavra porque o fado é isso mesmo, uma transmissão de sentimentos e emoções”. Nada se transmite, assegura, se nada disser a quem o canta. “Não basta ser apenas um poema bonito”. Como não basta a um fadista conseguir fazer longos vibratos e ter uma grande extensão vocal porque “para se ser fadista é preciso ter uma grande alma mais do que uma grande voz”, diz, dando como exemplo os fadistas da “velha guarda” que cantando quase em surdina “conseguem transmitir tanto”.
Cláudia Zarro não quer com isto dizer que não aprecie as grandiosas e eternas vozes do fado como a de Amália Rodrigues, a quem elogia também a qualidade da escrita. Também não é contra as novas variantes do fado, que cada vez mais têm vindo a incluir novas sonoridades e a abarcar diferentes instrumentos. “O facto de o fado ser Património Imaterial da Humanidade não pode fazer dele algo aprisionado numa redoma de vidro e é verdade que hoje em dia o fado está mais próximo do pop”, mas também é verdade que “quem vive da música tem que se tornar mais vendável”. Situações como a pandemia, lembra a fadista de 38 anos, vieram “mostrar que quem vive na música vive no limbo”.

Da Nazaré para o Ribatejo
Filha de pai pescador, que pelas dores da idade virou as costas ao mar, e de mãe que durante anos “trabalhava no que se arranjava” na casa de Cláudia Zarro, na Nazaré, “era muito raro ouvir-se fado”. O gosto pelo estilo musical foi surgindo aos poucos depois de conseguir entrar num grupo e começar a cantá-lo. “Passei por coisas difíceis, até pelo contexto financeiro em que vivia; a Nazaré é uma zona onde não há muita abundância, nem oportunidades”, afirma a fadista que há mais de uma década tem como casa o Ribatejo.
Em Casal de Além, terra do seu marido, toda a gente trata Cláudia Zarro pelo nome. É um lugar calmo para se viver, onde os serviços não abundam, mas o essencial vai “parar à porta” de casa nas carrinhas que vendem peixe, pão, fruta e outros bens. Uma calmaria que contrasta com as suas rotinas quando é dia de ir cantar fado às Caldas da Rainha, a Lisboa, a Coimbra ou para terras mais a norte. “Não é fácil de gerir, mas faço isto porque gosto e porque preciso enquanto mulher e ser individual. É para me realizar ao mesmo tempo que dou algo de mim aos outros. Porque quem ouve espera sempre levar dali alguma coisa”.

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