Na Passerelle d’Ouro em Vila Franca de Xira a moda serve de mote para a inclusão
População sénior do concelho e pessoas com deficiência foram os protagonistas no desfile inclusivo mais antigo do país. Nos bastidores a preparação faz-se pelas mãos de cabeleireiras e maquilhadoras voluntárias que ajudam a dar cor e brilho ao evento que mostra as colecções de lojas da região.
Já os primeiros modelos se cruzavam na passarela, dando o arranque da 27ª edição da Passerelle d’Ouro em Vila Franca de Xira, quando Maria Agostinho, sentada na sua cadeira de rodas, começa a ser maquilhada pela cabeleireira Isilda Pinto. A utente da Misericórdia de Alhandra mostra uma serenidade invulgar, talvez ganha pela idade, para quem vai desfilar pela primeira vez aos 87 anos para uma plateia composta por largas centenas de pessoas. Em redor, nos bastidores improvisados nas traseiras da Praça de Toiros, onde decorreu o evento na noite de 16 de Junho, há mais meia dúzia de senhoras à espera da sua vez enquanto outras aproveitam para dar uma última mirada no espelho e afagar os cabelos cobertos de laca e purpurinas douradas.
Mais à frente, Noémia Pinho, já de penteado armado e maquilhagem finalizada, pede “desses brilhos para o cabelo” para dar o toque final antes de passar para os bastidores da roupa. “Não é com este vestido que vou desfilar”, esclarece a mulher, de 67 anos, que vai desfilar em representação da Casa de São Pedro de Alverca do Ribatejo. “Este ano até disse que não ia desfilar, mas mete-se um bichinho” e não resiste em pisar, mais um ano, a passadeira vermelha onde diz sentir-se “feliz da vida e mais bonita”.
O grande propósito da Passerelle d’Ouro, evento promovido pela Câmara de Vila Franca de Xira, é precisamente esse: valorizar e trazer felicidade à população sénior do concelho que se assume como a grande protagonista da noite num espectáculo intergeracional que alia a moda à inclusão. “É um evento maravilhoso. Para eles é uma alegria e para nós também”, atira a cabeleireira Isilda Pinto, que desde há sete anos é uma das mãos voluntárias na estação de cabelos e maquilhagem da iniciativa.
Aos mais velhos juntam-se também pessoas com deficiência de todas as idades a desfilar com as colecções da estação, disponibilizadas por várias lojas de vestuário da região. Previamente já se sabe o que cada um vai vestir e qual o tamanho para que não haja margem para falhas. É junto aos bastidores que encontramos as amigas Arminda Fernandes e Ilda Coelho, que desfilam há quatro anos pela Associação de Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira (ABEIV) e, mais à frente, o grupo de oito elementos que sobe a palco pela Associação para a Integração de Pessoas com Necessidades Especiais (AIPNE) de Alverca, acompanhados, entre outros funcionários, pela coordenadora Patrícia Tomé. “Como é que vocês se sentem?”, pergunta aos utentes que prontamente respondem em uníssono: “muito felizes e contentes”.
Em palco a descontração dos oito foi notória e nem mesmo os imprevistos, desde calças a escorregar pela cintura ou uma e outra volta a mais na passarela, os impediram de se divertir e contagiar, com a sua energia e boa disposição, o público que esgotou os lugares disponíveis na Praça de Toiros Palha Blanco, onde decorreu mais uma edição do evento com direcção artística de Joaquim Salvador e apresentação a cargo de Vanessa Oliveira e Tiago Goes Ferreira.