Cultura | 19-08-2023 21:00

Cortejo Histórico e Etnográfico de Coruche faz viagem ao passado

Cortejo Histórico e Etnográfico de Coruche faz viagem ao passado
No estaleiro do município de Coruche os funcionários e técnicos da câmara preparam os carros do cortejo alegórico

O Cortejo Histórico e Etnográfico está de volta às ruas de Coruche. 35 carros decorados vão retratar cenas do passado e momentos significativos da história local, desde a vida familiar à antiga Feira de São Miguel.

Funcionários do município, associações, juntas de freguesia e entidades privadas unem-se para transportar o passado até ao presente.

Regressa a 17 de Agosto às ruas da vila de Coruche o Cortejo Histórico e Etnográfico que tradicionalmente se realiza durante as Festas em Honra de Nossa Senhora do Castelo. O “Tempo das Nossas Memórias” é o tema deste ano que vai ser retratado em 35 carros que participam no desfile neste feriado municipal.
No estaleiro da Câmara de Coruche os carpinteiros, serralheiros e pintores montaram as estruturas em cima dos carros para serem decoradas a preceito. As madeiras fazem a base da estrutura e em alguns casos a cenografia total. Há materiais que se reciclam e estruturas cenográficas que são reutilizadas. Os temas do desfile exigem um trabalho preparatório. Primeiro acerta-se o tema global e depois as sub-temáticas são discutidas com as juntas de freguesia. Após a decisão os técnicos do município passam ao trabalho de campo, investigam e falam com as pessoas mais velhas para retratar as memórias de forma mais real possível.
Maria do Castelo é arquitecta na câmara há 32 anos e responsável pelo cortejo há 18 anos. Elabora o desenho dos carros mediante as representações que foram decididas. Este ano, por exemplo, coube a Santana do Mato o tema do tempo da família. O carro do desfile vai ter um casal que se conhece na fonte, casa-se na igreja de Santana e constitui família. Depois plantam árvores para os filhos.
Outros dos temas do cortejo é a recriação da velhice, o tempo da morte e do luto, a interpretação das estações, as brincadeiras das crianças noutras épocas e as senhoras que aprendiam costura e faziam os próprios vestidos para irem para o baile da pinha. O rio também terá representação alusiva à época em que era usado para transporte de mercadorias e pessoas.
Um dos eventos mais marcantes e que será retratado é o tempo da Feira de São Miguel. “Antigamente era um marco importante em termos sociais e económicos. As pessoas vinham à vila para comprar roupas e botas para o Inverno. Faziam-se os novos contratos entre patrões e proprietários depois do fim da campanha agrícola. Inclusive as pessoas só tiravam um retrato nesta altura da Feira”, explica a vereadora da Câmara de Coruche, Susana da Cruz.
O cortejo etnográfico conta com a participação de cerca de mil pessoas. As associações estão praticamente todas envolvidas e entidades privadas cedem, por exemplo, os reboques. Para explicar todos estes tempos de memórias aos mais novos o tema este ano do programa educativo é “Coruche é a nossa sala de aula”. Através do núcleo rural e nas visitas ao museu municipal a mensagem é passada às crianças para ficarem a conhecer os seus antepassados.

José Rosado e Joaquim Pereira trabalham com afinco nos adereços dos carros para o desfile

A estreia de Maria da Conceição no cortejo

Maria da Conceição, conhecida em Coruche por “Bia”, participou na sua juventude nas marchas dos santos populares no Bairro Alegre, na década de 60. Na altura com 16 anos a inspiração para os fatos era o Parque Mayer. “Éramos pobres e fazíamos coisas simples. Pagava-se 25 tostões para entrar no recinto das marchas. Era para pagar aos artistas convidados”, relembra. Apesar da envolvência na comunidade e de assistir todos os anos ao desfile é a primeira vez que vai participar no cortejo etnográfico.

“Bia” vai participar na recriação das marchas onde ela própria fez parte em 1966

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