No Pinheiro Grande a população junta-se durante um mês para as Verbenas de Verão
Todos os fins-de-semana de Agosto, a aldeia do Pinheiro Grande está em festa com as tradicionais Verbenas de Verão. A iniciativa é ponto de encontro entre as pessoas e o tecido associativo da aldeia, que prepara com amor à camisola um evento único no concelho da Chamusca.
Todos os fins-de-semana, de 28 de Julho a 27 de Agosto, a aldeia do Pinheiro Grande está em festa com as tradicionais Verbenas de Verão. Apresentada como “uma festa com alma e identidade”, a iniciativa reúne um conjunto de actividades como exposições de artesanato, espectáculos musicais e de dança, largadas, conversas temáticas, jogos tradicionais, actividades para crianças, gastronomia, entre outras. As associações da freguesia trabalham durante meses para proporcionar à população do concelho da Chamusca um evento único e que se realiza há vários anos.
Uma das associações que nunca falta é o Rancho Folclórico e Etnográfico do Pinheiro Grande, que conta actualmente com cerca de meia centena de elementos, sendo uma das colectividades de referência do concelho. A procura por angariar novos elementos, especialmente mais jovens, é uma das preocupações diárias da sua direcção. “Infelizmente não temos conseguido que os mais novos se interessem por este tipo de tradições. Mudámos o chip e estamos a ir ter com a velha guarda que tem aderido em massa”, refere Ema Santos, tesoureira da colectividade, que faz parte da associação há uma dezena de anos. A falta de associativismo é uma coisa que a preocupa. A participação de mais de uma dezena de associações na organização das Verbenas de Verão é um ponto positivo, mas na sua opinião há muita falta de entreajuda e espírito de voluntariado no concelho. “Trabalhamos por amor à camisola e para não deixar o nosso concelho cair no marasmo, onde não existe respeito nem vontade de dar continuidade às tradições. É muito mais difícil encontrar pessoas com esta vontade quando existe pouco apoio do poder local”, vinca. A 19 de Agosto realiza-se o 21º festival do Rancho Folclórico do Pinheiro Grande, que vai contar com a participação de várias associações vindas de todo o país. “Queremos que venham à nossa aldeia demonstrar a sua etnografia local. São convívios importantes também para estabelecer uma rede de contactos para actuarmos noutras zonas do país”, explica Ema Santos, acrescentando que recentemente actuaram duas vezes no Algarve, em Coimbra e Arganil. A tesoureira explica que os elementos ensaiam de duas em duas semanas e só não ensaiam mais porque contratar acordeonistas é muito dispendioso. Nas Verbenas de Verão vendem alguns bolos feitos pela comunidade que, embora à distância, continua a acompanhar as iniciativas onde o rancho está presente.
Um artesão com história
Manuel Clemente tem 74 anos e é mestre de artesanato, sendo que a paixão pela arte surgiu não há muito tempo. Começou a dedicar-se à actividade em 2005, depois de uma vida inteira dedicada à construção civil e à agricultura. Começou a trabalhar aos 11 anos para ajudar a pagar as contas em casa e só aos 16 anos é que teve dinheiro para comprar as primeiras botas, recorda a O MIRANTE com emoção. Reformado por invalidez aos 55 anos, por causa de duas hérnias na coluna, Manuel Clemente encontrou no artesanato um escape para a falta de ocupação. Como gosta muito de aviões começou por criar peças em madeira relacionadas com o sector da aviação. Actualmente faz de tudo um pouco; as ideias surgem-lhe de forma espontânea e não precisa de muito tempo para as colocar em prática. Não vende o seu trabalho a não ser nas Verbenas de Verão porque, afirma, trabalha por gosto e não para fazer dinheiro. Manuel Clemente tem uma vida activa e, em conjunto com a sua esposa, Maria Nunes, com quem vive há 45 anos, faz parte da Universidade Sénior da Chamusca. “Já aprendi cavaquinho, faço parte do coro, faço ginástica e desenvolvo as minhas ideias”, refere.
Um rosto conhecido na Chamusca
Ivone Carrinho é uma referência no concelho da Chamusca pela ligação que sempre teve com o público mais jovem, tendo sido um dos rostos da ludoteca durante vários anos. No entanto, sempre encontrou nos mais velhos um porto de seguro e exemplos de sabedoria. “Nesgas, trapos e farrapos são pedacitos de gente. Aproveita bens os trapos, serás uma nesga diferente”. É um ditado popular que Ivone Carrinho utiliza para valorizar a população idosa e a sua importância na sociedade. “Os mais velhos precisam de ser respeitados por aquilo que fizeram e por aquilo que ainda nos ensinam”, acrescenta. Foi operária têxtil até ter tido um grande acidente que a limitou e a colocou de baixa médica. Alguns meses depois, começou de raiz a ludoteca na Chamusca, um espaço que há 34 anos é ponto de encontro de dezenas de crianças. Esteve no projecto durante 24 anos e só o deixou porque deixou de ver para conduzir, explica. Vai todos os anos às Verbenas de Verão para vender, e também oferecer o famoso “Arroz doce da Ivone”. Para além disso, todas as semanas, durante os últimos 15 anos, junta na aldeia senhoras mais velhas para conviverem. “Acho que os mais velhos não têm que estar em casa só porque não têm suporte familiar. Na altura comecei com sete pessoas, mas já chegámos a ser 30. Alguns já faleceram infelizmente”, conta, acrescentando que “envelhecer é gratificante” e que “as rugas não a assustam”.