Carmen Ferreira é o rosto da Biblioteca de Ourém que procura ser ponto de encontro da comunidade
Biblioteca Municipal de Ourém é muito mais do que estantes com livros; a equipa que a compõe tem trabalhado para fazer daquele espaço um ponto de encontro para toda a comunidade através de actividades para todas as idades. Fundada há 65 anos procura adaptar-se às mudanças da sociedade e aos meios digitais.
A bibliotecária Carmen Zita Ferreira, 48 anos, é a responsável pela abertura das portas da Biblioteca Municipal de Ourém, pelo seu funcionamento e pelas actividades inseridas no programa. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na variante de estudos portugueses e frequentou a pós-graduação com o objectivo de ser professora do segundo ciclo ao secundário. Foi professora de Português durante um ano, mas a incerteza na fixação dos professores anualmente levou-a a seguir um caminho diferente. Após trabalhar durante 10 anos na Câmara de Ourém, no apoio aos órgãos executivos, a paixão pela leitura levou-a, aos 37 anos, a frequentar o mestrado em Ciências da Documentação na variante de Bibliotecas. O seu objectivo era torna-se bibliotecária e ajudar a incentivar hábitos de leitura na população do concelho. Capacidade de adaptação, cultura geral, resiliência e vontade de estar informada são algumas das características que considera essenciais numa bibliotecária.
Depois de 13 anos a trabalhar na biblioteca admite que se tem tornado mais difícil ler “por prazer” devido ao desgaste da profissão e do dia-a-dia. No entanto, nas férias mantém o hábito da leitura com os livros dos seus autores favoritos como Valter Hugo Mãe, Ana Margarida de Carvalho e Isabela Figueiredo. “Um cão no meio do caminho” foi o livro que a acompanhou durante as últimas férias de Verão. O livro mais marcante que já leu foi “O remorso de Baltazar Serapião”, de Valter Hugo Mãe, sobre a violência doméstica num casal que parece de outro tempo, mas não é. “Foi um livro que me provocou sensações que ainda nenhum outro livro me tinha provocado”, vinca a bibliotecária, acrescentando que “cheguei a ficar maldisposta com algumas descrições. O livro é muito forte e real e talvez por isso seja tão impactante”.
Um ponto de encontro
A primeira biblioteca em Ourém surgiu há 65 anos, designada por Biblioteca Pública Ouriense. Mais tarde tornou-se na Biblioteca Fixa Nº1 da Gulbenkian até ao espólio da biblioteca passar para o município transformando-se naquela que é conhecida nos dias de hoje como a Biblioteca Municipal de Ourém. A ideia pre-concebida de que as bibliotecas são apenas estantes com livros está desactualizada, afirma a O MIRANTE Carmen Zita Ferreira, uma das responsáveis pelo espaço. A bibliotecária diz que tem sido feito um trabalho para adaptar e fazer da biblioteca um espaço dinâmico com actividades para todas as idades, como apresentações de livros e autores, exposições temáticas de novos artistas do concelho, festas do livro, “Hora do Conto”, “Yoga entre Livros”, caminhadas literárias e diversas actividades para o público infantil, juvenil, sénior e familiar. Para além disso, é um espaço de acesso livre e gratuito que permite os utilizadores requisitarem livros, DVD’s, música e jogos e acederem aos computadores e internet.
A variedade de públicos que frequentam a biblioteca reflecte a diversidade de serviços e actividades. Aos fins-de-semana a biblioteca é maioritariamente visitada por famílias e durante a semana por jovens e adultos que encontram naquele espaço um sítio agradável para estudar ou trabalhar. Apesar do afastamento dos jovens da leitura em papel, essencialmente entre o 7º e o 9º ano, Carmen Ferreira diz não ter notado menos presença dos jovens na biblioteca. Esse afastamento tem sido combatido com actividades interessantes e que vão ao encontro dos novos tempos e dos desejos dos jovens, explica. A bibliotecária revela que o livro mais requisitado é infantil e tem como título “Não abras este livro”, de Andy Lee. Segue-se o livro juvenil “Heartstopper”, de Alice Oseman, e “Margarida Espantada”, de Rodrigo Guedes de Carvalho. Os autores mais requisitados são Alice Oseman e Clara Cunha, escritora portuguesa de literatura infantil.