Juventude garante o futuro do Grupo Académico de Danças Ribatejanas
Santarém recebeu mais uma edição do Festival Celestino Graça, organizado pelo Grupo Académico de Danças Ribatejanas. Há bastantes crianças e jovens interessados pelo folclore que garantem a continuidade do projecto e a preservação e divulgação da etnografia ribatejana.
João Estevão tinha quatro anos quando começou a ver vídeos na internet de folclore e começou a dançar em casa, a imitar o que via. O que melhor recorda desses vídeos é a cor, o movimento da dança e as saias das mulheres a rodar. A mãe disse-lhe que o levava para o rancho mas João não queria, tinha vergonha. Até que houve um dia, aos 10 anos, que aceitou o desafio e entrou no Grupo Académico de Danças Ribatejanas, de Santarém, e não mais parou.
Aos 17 anos admite que andar num grupo folclórico não é considerado moderno pelos jovens mas isso não o desincentiva. “Os meus amigos acham piroso mas aceitam e não gozam, mas se os convidar para assistir a um espectáculo não vêm”, lamenta, acrescentando que o Festival Celestino Graça, que decorreu em Santarém de 6 a 10 de Setembro, é o momento mais importante do ano para o Grupo Académico de Danças Ribatejanas.
José Santos, 41 anos, sempre gostou de dançar e entrou no grupo fundado por Celestino Graça aos seis anos. Após mês e meio de ensaios fez a sua estreia e nunca mais parou. O director nacional de vendas na área da transição mecânica, natural de Santarém, conciliava o rancho com o futebol. No entanto, quando havia um dia em que fosse necessário optar escolhia sempre o folclore. “Identificava-me mais com o espírito de união que sempre se viveu no rancho”, conta a O MIRANTE.
José Santos recorda que na adolescência pensou em sair porque os amigos diziam que andar no rancho “era piroso e coisa de velhos”. No entanto, não teve coragem de dar esse passo. “Quando disse à minha mãe o que pretendia fazer ela disse-me que tinha que entregar a farda à D. Graça, filha de Celestino Graça, e directora do grupo na altura, a pessoa que me ensinou tudo no folclore. Não tive coragem e continuei. Foi a melhor decisão que tomei”, garante. A sua filha, Maria Leonor, ainda não fez quatro anos mas já vai dando alguns passos durante os ensaios a que o pai a leva. “É impossível não me emocionar vê-la a gostar do rancho”, afirma.
Perto do busto de Celestino Graça, no já tradicional momento que assinala o arranque do festival, está Maria Francisca Delgado, de 12 anos. Trajada a rigor com lenço colorido na cabeça e traje de camponesa, conta que anda no rancho desde os três anos. Foi pela mão da mãe, que também frequentou o mesmo grupo, e porque o seu irmão mais velho, João Francisco, também já frequentava o rancho. O que mais gosta é de dançar e garante ser feliz sempre que vai aos ensaios e participa nos espectáculos.
Temos que nos adaptar às transições e assegurar as tradições
Cristina Graça Rodrigues não esconde a emoção durante a homenagem a Celestino Graça, seu avô, e também durante a evocação de sua mãe, Graça Graça. Aos 51 anos recorda que nasceu já dentro do grupo que foi fundado em 1956 durante a festa de aniversário da sua mãe, que celebrava 12 anos. Nessa festa, Celestino Graça convidou um acordeonista e constatou que havia em Santarém muitas crianças que gostavam de folclore. Foi daí que nasceu o grupo.
O Grupo Académico de Danças Ribatejanas foi ganhando nome e é hoje uma das principais referências do folclore a nível regional e também nacional. “Pertencer a um grupo folclórico é preservar a cultura e identidade do nosso povo. Num mundo cada vez mais global o que nos distingue enquanto nação é a nossa língua e a nossa cultura que tem que ser preservada e passada às novas gerações”, considera.
Cristina Rodrigues critica o facto de, na sua opinião, o Governo não considerar o folclore uma “área louvável” mas, defende, é uma arte com muita identidade. “Pelo mundo fora há muitas crianças e jovens que pertencem a grupos folclóricos e mostram como era a nossa identidade e o nosso povo há um século”, sublinha. A ensaiadora diz ser fácil recrutar jovens para o folclore. O problema é as crianças e jovens encontrarem um equilíbrio entre as muitas actividades que têm depois das aulas. “Acredito que o futuro está assegurado desde que nos adaptemos”, refere sublinhando que o grupo é uma família e que as crianças e jovens que integram o grupo vão ser homens e mulheres responsáveis no futuro.