Cultura | 17-09-2023 18:00

Juventude garante o futuro do Grupo Académico de Danças Ribatejanas

Juventude garante o futuro do Grupo Académico de Danças Ribatejanas
O Grupo Académico de Danças Ribatejanas juntamente com alguns grupo convidados no arranque do Festival Celestino Graça em Santarém

Santarém recebeu mais uma edição do Festival Celestino Graça, organizado pelo Grupo Académico de Danças Ribatejanas. Há bastantes crianças e jovens interessados pelo folclore que garantem a continuidade do projecto e a preservação e divulgação da etnografia ribatejana.

João Estevão tinha quatro anos quando começou a ver vídeos na internet de folclore e começou a dançar em casa, a imitar o que via. O que melhor recorda desses vídeos é a cor, o movimento da dança e as saias das mulheres a rodar. A mãe disse-lhe que o levava para o rancho mas João não queria, tinha vergonha. Até que houve um dia, aos 10 anos, que aceitou o desafio e entrou no Grupo Académico de Danças Ribatejanas, de Santarém, e não mais parou.
Aos 17 anos admite que andar num grupo folclórico não é considerado moderno pelos jovens mas isso não o desincentiva. “Os meus amigos acham piroso mas aceitam e não gozam, mas se os convidar para assistir a um espectáculo não vêm”, lamenta, acrescentando que o Festival Celestino Graça, que decorreu em Santarém de 6 a 10 de Setembro, é o momento mais importante do ano para o Grupo Académico de Danças Ribatejanas.
José Santos, 41 anos, sempre gostou de dançar e entrou no grupo fundado por Celestino Graça aos seis anos. Após mês e meio de ensaios fez a sua estreia e nunca mais parou. O director nacional de vendas na área da transição mecânica, natural de Santarém, conciliava o rancho com o futebol. No entanto, quando havia um dia em que fosse necessário optar escolhia sempre o folclore. “Identificava-me mais com o espírito de união que sempre se viveu no rancho”, conta a O MIRANTE.
José Santos recorda que na adolescência pensou em sair porque os amigos diziam que andar no rancho “era piroso e coisa de velhos”. No entanto, não teve coragem de dar esse passo. “Quando disse à minha mãe o que pretendia fazer ela disse-me que tinha que entregar a farda à D. Graça, filha de Celestino Graça, e directora do grupo na altura, a pessoa que me ensinou tudo no folclore. Não tive coragem e continuei. Foi a melhor decisão que tomei”, garante. A sua filha, Maria Leonor, ainda não fez quatro anos mas já vai dando alguns passos durante os ensaios a que o pai a leva. “É impossível não me emocionar vê-la a gostar do rancho”, afirma.
Perto do busto de Celestino Graça, no já tradicional momento que assinala o arranque do festival, está Maria Francisca Delgado, de 12 anos. Trajada a rigor com lenço colorido na cabeça e traje de camponesa, conta que anda no rancho desde os três anos. Foi pela mão da mãe, que também frequentou o mesmo grupo, e porque o seu irmão mais velho, João Francisco, também já frequentava o rancho. O que mais gosta é de dançar e garante ser feliz sempre que vai aos ensaios e participa nos espectáculos.

Temos que nos adaptar às transições e assegurar as tradições
Cristina Graça Rodrigues não esconde a emoção durante a homenagem a Celestino Graça, seu avô, e também durante a evocação de sua mãe, Graça Graça. Aos 51 anos recorda que nasceu já dentro do grupo que foi fundado em 1956 durante a festa de aniversário da sua mãe, que celebrava 12 anos. Nessa festa, Celestino Graça convidou um acordeonista e constatou que havia em Santarém muitas crianças que gostavam de folclore. Foi daí que nasceu o grupo.
O Grupo Académico de Danças Ribatejanas foi ganhando nome e é hoje uma das principais referências do folclore a nível regional e também nacional. “Pertencer a um grupo folclórico é preservar a cultura e identidade do nosso povo. Num mundo cada vez mais global o que nos distingue enquanto nação é a nossa língua e a nossa cultura que tem que ser preservada e passada às novas gerações”, considera.
Cristina Rodrigues critica o facto de, na sua opinião, o Governo não considerar o folclore uma “área louvável” mas, defende, é uma arte com muita identidade. “Pelo mundo fora há muitas crianças e jovens que pertencem a grupos folclóricos e mostram como era a nossa identidade e o nosso povo há um século”, sublinha. A ensaiadora diz ser fácil recrutar jovens para o folclore. O problema é as crianças e jovens encontrarem um equilíbrio entre as muitas actividades que têm depois das aulas. “Acredito que o futuro está assegurado desde que nos adaptemos”, refere sublinhando que o grupo é uma família e que as crianças e jovens que integram o grupo vão ser homens e mulheres responsáveis no futuro.

Crianças e jovens garantem futuro do rancho folclórico de Santarém

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo