Cultura | 07-10-2023 15:00

A alma e as raízes de um povo estão espelhadas na poesia popular

A alma e as raízes de um povo estão espelhadas na poesia popular
Fabião Coutinho, que vive na Póvoa de Santa Iria, lançou o seu primeiro livro com a chancela de O MIRANTE

Fabião Coutinho, 73 anos, é um rosto conhecido da Póvoa de Santa Iria que ao longo dos anos foi acumulando poemas agora publicados em livro através da O MIRANTE Editora. Além de poeta é dirigente associativo, canta o fado e toca viola e cavaquinho.

A poesia popular é o que de mais próximo existe das raízes e da alma de um povo e por isso há que continuar a lutar para lhe devolver o lugar de destaque que, nas últimas décadas, foi perdendo. A convicção é de Fabião Coutinho, 73 anos, um rosto conhecido da Póvoa de Santa Iria, terra onde é dirigente associativo do Centro Popular de Cultura e Desporto (CPCD) e que agora reuniu alguns dos seus melhores poemas em livro, publicados através da chancela de O MIRANTE Editora.
A arte está-lhe no sangue, seja quando escreve a poesia dos dias que passam seja enquanto cantor e tocador de viola e cavaquinho no grupo de música popular do CPCD. “Cada região tem os seus temas peculiares. A alma do nosso povo está espelhada na poesia popular. Tanto canta uma pessoa alegre como alguém que sofre. É para todos”, considera o autor, para quem a mensagem dos seus poemas é muito importante.
Fabião Coutinho diz que é preciso falar dos rostos enrugados, das histórias e tradições do passado e das dificuldades da vida de antigamente. “São letras que nos falam ao coração e da vida real das pessoas. Não temos de ter vergonha da poesia popular”, diz Fabião Coutinho, que tem em António Aleixo uma das suas referências.
É natural de Seda, concelho de Alter do Chão, onde diz que o seu coração está sempre presente e onde sonha voltar um dia para viver. A Póvoa de Santa Iria é a sua segunda casa, onde vive desde 1975 e onde espera também vir a lançar publicamente o seu livro. “Gosto de viver aqui, mas Seda tem outro encanto”, diz e confessa ainda que a Póvoa fica para sempre marcada na sua vida por ter sido a terra onde nasceram os filhos. Nessa altura também entrou nos corpos sociais da Associação Popular de Apoio À Criança (APAC) da Póvoa de Santa Iria.
Questionado sobre o facto da Póvoa de Santa Iria merecer tão poucos poemas no seu livro Fabião Coutinho confessa: “Não é que a Póvoa não me inspire mas estou mais virado para a minha terra”, admite. Para o poeta popular a cidade precisa de muita coisa para se tornar apelativa, começando por uma sala de cinema, um teatro, mais jardins e melhorar o espaço onde decorre a festa anual. “Antigamente, do outro lado da linha de comboio era melhor, como está agora as pessoas dispersam-se muito”, critica.

Duas décadas de poemas
Fabião Coutinho começou a escrever poemas há duas décadas, primeiro por brincadeira e depois mais a sério a partir de 2009 quando, desempregado, voltou aos bancos da escola para frequentar o programa Novas Oportunidades e uma professora lhe deu umas dicas sobre como melhorar a sua escrita.
“Fui sempre uma pessoa simples que se limita a fazer o melhor possível”, confessa o homem para quem a inspiração está quase sempre presente. “Há momentos em que as palavras vêm à mente e querem sair”, confessa. Escreve ao computador e diz que, mais do que a rima, o importante é obedecer a um sentido e saber passar uma mensagem. Na infância guardou gado até aos 15 anos depois mudou-se de Seda para a Trafaria e começou a trabalhar nas antigas oficinas gerais de material de engenharia, onde hoje se situa o Museu dos Coches. Ainda foi serralheiro, trabalhou na construção naval e encontrou emprego na fábrica de cerveja de Vialonga.
“Gosto muito dos poetas populares. Pessoas sem saber ler nem escrever que faziam grandes quadras na perfeição. Como o Jaime da Manta Branca, um homem do campo que fez quadras de 40 pontos e quintilhas que era um espectáculo”, elogia. Diz-se uma pessoa calma, que não se irrita facilmente e que tem como sonho de vida ter saúde e ver os netos a crescer. “Não quero parar. Parar é morrer. Importante é manter as paixões depois da pessoa se reformar”, conclui.

Livro de Fabião Coutinho foi lançado em Seda no Adro da Igreja Mariz

Poemas de Fábio Coutinho foram pretexto para reunir uma centena de amigos em Seda, terra do poeta. A edição do livro tem a chancela de O MIRANTE
O livro de Poemas de Fabião Coutinho teve lançamento no passado dia 1 de Outubro, às 17 horas, ao ar livre no adro da Igreja Matriz de Seda, freguesia de Alter do Chão de onde o autor é natural e a quem dedica boa parte do livro.
Manuel Marques, presidente da Junta, que patrocinou o livro, elogiou o autor e disse que era uma honra contribuir para o conhecimento dos poemas de Fabião Coutinho e Maria do Rosário Palhas Narciso, autor do prefácio, elogiou o poeta mas também “o músico autodidacta que toca cavaquinho e é um exímio fadista”. Fabião Coutinho agradeceu às cerca de uma centena de pessoas que compareceram ao lançamento do livro e que encheram o adro da Igreja.

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