Crónicas dos Bons Amigos na Biblioteca António Botto em Abrantes
Santana-Maia Leonardo voltou a Abrantes para apresentar o seu último livro que conta de forma admirável as histórias dos seus cães e como todos fazem ou fizeram parte da família.
Santana-Maia Leonardo voltou a Abrantes para apresentar e falar do seu último livro, Crónicas dos Bons Amigos, que conta as histórias dos seus cães e gatos que fizeram ou fazem parte da família. A primeira vez foi na Escola Solano de Abreu, agora foi na Biblioteca Municipal António Botto. Vítor Grácio, veterinário municipal, foi a figura principal na apresentação do livro. O autor aproveitou o momento para contar que o livro fala dos seus animais, mas todas as histórias estão ligadas a episódios da sua vida familiar, profissional, política e sociocultural.
Desta vez contou que está retirado da política há mais de dez anos e que embora não tenha filiação partidária foi convidado, em Abrantes, para fazer parte de um grupo de cidadãos que queria que a cidade continuasse atractiva para os seus filhos viverem. No encontro com as pessoas que estavam convidadas soube, pouco depois da conversa já adiantada, que era o único que tinha os filhos a viver na região, os filhos dos outros estavam todos ou em Lisboa, no Porto ou em cidades estrangeiras.
Estava dado o mote para uma das questões mais pertinentes das Crónicas que é o facto de muitas vezes os cães e os gatos serem os únicos companheiros de vida de muita gente que fica sozinha em casa, na aldeia, ou na vila, enquanto os seus filhos e netos vivem nas grandes cidades. Para acentuar a crítica ao país centralizado na capital do reino, Santana-Maia Leonardo contou que tomou boa nota do facto de terem escolhido Portalegre para festejar o Dia de Camões e das Comunidades Portuguesas, tendo convidado para presidir às comemorações um alentejano que é residente em Lisboa; “não encontraram ninguém de valor que viva em Portalegre que merecesse fazer as horas do Dia de Camões. Este é o país onde vivemos. Quem não vive e trabalha em Lisboa não existe. Por isso é que hoje só quem vive na capital ou é rico pode frequentar as melhores universidades. Quem é pobre ou remediado não tem dinheiro para pagar propinas e muito menos casas e quartos para os filhos viverem. Ao contrário dos países mais desenvolvidos da Europa, Lisboa é a capital do reino e o resto é paisagem. Até os juízes recusaram que o Tribunal Constitucional fosse para Coimbra porque, disseram eles, a cidade não tem dignidade para ter a sede do Tribunal Constitucional”.
Crónicas dos Bons Amigos começa com a história de um cão que mordeu um dos seus filhos, e que depois de ficar preso a uma árvore durante 24 horas, para o despiste da raiva, recusou a liberdade da rua e pediu para ser parte da família de Santana-Maia Leonardo, o que veio a acontecer. Desde essa altura que o autor iniciou uma relação com os cães e os gatos que nunca tinha experimentado. Este livro, escrito com mestria e por quem tem o dom de saber contar histórias, é sobretudo um relato sobre a vida dos animais que tiveram impacto na sua vida e da sua família.
“Crónicas dos Bons Amigos” teve a sua primeira apresentação em Lisboa, na Casa da Imprensa, e algum tempo depois em Ponte de Sor para um auditório repleto de familiares e amigos de Santana-Maia Leonardo. Desde essa altura que em todas as sessões o autor fala do livro partilhando as várias histórias que viveu com os seus animais e, em jeito de brincadeira, compara-os aos seus dois filhos e às pessoas em geral, referindo que os animais “sabem ouvir, percebem o que dizemos e nunca vão contar nada a ninguém”. O autor já partilhou também um momento que mudou a sua forma de estar na vida. “Este é um livro sobre a vida e sobre a morte. No dia em que o Tommy (seu neto) nasceu estava num consultório em que o médico me disse para me preparar para o pior. A partir daí comecei a viver os dias como se fossem os últimos. Há determinadas doenças que têm essa faculdade de nos despertar para a vida”, sublinhou Santana-Maia Leonardo, concluindo com uma citação de Freud: “a devoção do cão ao dono é o único amor incondicional”.