Diana Lopes: da avó costureira à Moda Lisboa
Diana Lopes, do Sobralinho, participou na Moda Lisboa com uma colecção de roupa sustentável. Aos 20 anos a designer viaja todos os dias para Coimbra, onde estuda design têxtil, ao mesmo tempo que tem a própria marca de roupa infantil.
Aos 20 anos Diana Lopes, designer de moda, participou, de 6 a 8 de Outubro, na edição deste ano da Moda Lisboa. Foi criada no Sobralinho, concelho de Vila Franca de Xira, no meio dos tecidos, com a avó que é costureira. Começou por aprender a fazer roupa para as bonecas mas tomou-lhe o gosto e quis aprender cada vez mais. Com os pais a trabalhar em Lisboa saía da escola e passava os dias com a avó. Quando descobriu aos 13 anos os cursos da Maria Modista não hesitou e inscreveu-se. Aprendeu a fazer roupa simples e a primeira criação foi a confecção de um macacão. Quando terminou o 9º ano inscreveu-se no curso de Design de Moda, onde fez o ensino secundário. Chegou a ingressar na faculdade em Design de Moda mas optou por sair e estudar Marketing de Moda noutro estabelecimento de ensino.
Durante o curso percebeu que a indústria da moda é a que mais polui a nível mundial. As pessoas desconhecem que a roupa que compram muito barata não tem em atenção os factores de produção, como o facto de não tratar bem os trabalhadores. “Muitas marcas já são amigas do ambiente e sustentáveis. Mas as marcas têm de ensinar às pessoas o motivo da roupa ser mais cara, que são éticas em toda a produção que os trabalhadores recebem o que devem e que os materiais não poluem o ambiente”, afirma.
Durante o curso apaixonou-se pela moda infantil e o projecto final foi a criação de uma colecção de roupa de criança. Criou a própria marca e vende através da loja online, além de ter as peças expostas em lojas multimarcas. “A roupa é sustentável e ecológica. Uso dead stock e faço produções pequenas para não gerar desperdício. A minha avó ajuda-me com os bordados como forma de valorizar o que é feito à mão e tradicional”, explica.
Diana Lopes tem o futuro profissional já desenhado. Todos os dias apanha o comboio às 06h00 para Coimbra para estudar Design Têxtil. No regresso ao Sobralinho aproveita a viagem para adiantar trabalho. O espírito empreendedor valeu-lhe reconhecimento da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira que a nomeou Embaixadora da Juventude. “Todos os meus amigos são da moda, não tenho amigos externos. É quase tudo conversas sobre trabalho”, conta.
Projecto na Moda Lisboa
Em Maio Diana Lopes soube que foi uma das cinco designers vencedoras do programa beat by be@t da Moda Lisboa. A escolha fez com que participasse no programa de aceleração e desenvolvesse um projecto têxtil sustentável e circular. Durante três dias acompanhou a indústria Riopele, no norte do país. Viu fábricas e assistiu a palestras sobre sustentabilidade. Com base no que aprendeu desenhou uma colecção de roupa de criança em parceria com uma empresa de malhas sustentável. Desenvolveu peças que podem ser usadas dos dois aos sete anos.
A roupa foi criada com atilhos, para poder ser usada ao longo dos anos, é reversível, e a malha usada ia ser desperdiçada pela produção da empresa por ter defeitos imperceptíveis ou borbotos.
Além disso, a compra da peça de roupa inclui serviço de reparação, caso se danifique ao longo dos anos, e serviço de reciclagem para quando chegar ao final de vida útil.
A ideia foi exposta ao público da Moda Lisboa nos dias 6 e 8 de Outubro. No final de Outubro a designer saberá se leva o prémio final. O prémio inclui a possibilidade de comercializar o projecto num ponto de venda internacional, acesso a consultoria especializada, formações e eventos exclusivos da edição de 2024 do beat by be@t, bem como a presença em comitivas portuguesas que participem em acções e feiras internacionais.
A O MIRANTE Diana Lopes aconselha os consumidores a serem mais exigentes com as empresas e a pedir certificações como forma de incentivar a ética. As peças, por lei, vão passar a ter um passaporte digital, ou seja, obrigam as empresas que produzem em grande escala, em países como a China, a serem controladas. “Em Portugal as nossas empresas já têm muitas certificações que atestam a ética. Percebo que as pessoas não possam gastar 100 euros num vestido mas pelo menos consumam menos fast fashion”, apela.