Génio de Mário Viegas partilhado por quem privou com o actor de Santarém
Mesa redonda no Fórum Actor Mário Viegas, em Santarém, recebeu amigos e familiares de Mário Viegas, actor e declamador de poesia escalabitano, que faria 75 anos no dia 10 de Novembro.
O objectivo da mesa redonda que reuniu amigos e familiares de Mário Viegas, actor e declamador de poesia natural de Santarém, que faleceu em 1996 aos 47 anos, era “desfiar memórias” e recordar histórias de uma pessoa que consideram ter sido genial. Hélia Viegas, irmã do actor, começou por recordar as férias em família e os “espectáculos” de teatro que o seu irmão realizava numa pensão onde ficavam hospedados. Mário Viegas, segundo conta, aprendeu a ler sozinho. Quando tinha cinco anos o actor lia letra a letra até perceber como se formavam palavras. Lia frequentemente e em voz alta. Hélia Viegas recorda as actuações de teatro realizadas com o irmão nos jantares de Natal em Santarém referindo também que Mário Viegas nasceu com a capacidade e intuição para falar e ler.
Jorge Custódio, historiador, não tem dúvidas de que Mário Viegas já era um génio na infância. Começou a conviver com ele na escola primária e no liceu, e desenvolveu com o actor uma amizade forte na altura em que integraram uma organização cultural que foi extinta pela PIDE. A organização tinha como lemas “jovem, não desperdices o tempo”, “jovens, cultivai a cultura” e “jovens de todo o mundo uni-vos”. O grupo tinha 16 elementos, entre os quais Hélia Viegas. Jorge Custódio afirma que estão gravados acima de 300 textos de poesia declamados pelo actor, o que considera ser um património insubstituível.
A genialidade de Mário Viegas é também sublinhada por Vicente Batalha, actor e promotor cultural, considerando-o um “bom irreverente”. Vicente Batalha conheceu Mário Viegas numa festa em Pernes e aprendeu com ele que se podia fazer as coisas de forma diferente. Na mesma festa, recorda, o actor saltou para o palco para declamar poesia. Estreou-se com Mário Viegas na peça de teatro “Antepassados, vendem-se”, de Joaquim Paço d’Arcos. Acompanhou o declamador por várias tertúlias por Lisboa. Para Vicente Batalha, Mário Viegas tinha uma capacidade para brincar com a sua personalidade.
A actriz e encenadora Maria do Céu Guerra admite que teve, e tem, por Mário Viegas a paixão por um artista que viu crescer. A actriz destaca a gesticulação em palco e a capacidade do actor escalabitano em ser um artista completo, com paixão e um forte empenho no trabalho. A actriz diz que Mário Viegas tinha tempo para as suas paixões, para mostrar os seus defeitos e coragem para dizer quando não gostava de algo. Maria do Céu Guerra salienta, no entanto, que Mário Viegas também tinha os seus medos; era um herói frágil a quem o medo não fazia recuar, mas sim avançar. A actriz destaca também a capacidade que tinha em criar uma atmosfera capaz de sensibilizar o elenco e a audiência. Maria do Céu Guerra refere o facto de nunca mais ter encontrado um actor com quem se entendesse tão bem a contracenar. Em cena Maria do Céu Guerra menciona que conseguia ser cúmplice de Mário Viegas e estabelecer com actor um entendimento único.
Na mesa redonda houve oportunidade para o público intervir. Hélia Viegas deixou a nota de que o livro “Voz-própria - Jorge Ginja e Mário Viegas” vai ser reeditado e o lançamento está marcado para 15 de Dezembro no Teatro Taborda, em Santarém.
Novembro é mês de Bernardo Santareno e Mário Viegas em Santarém
O programa ‘Novembro, Viegas e Santareno’, organizado pela Câmara de Santarém, Centro Cultural Regional de Santarém, Círculo Cultural Scalabitano, Comissão das Comemorações Populares do 25 de Abril, Sociedade Recreativa Operária e a família de Mário Viegas começou na sexta-feira, 3 de Novembro, com a inauguração da exposição comemorativa dos 75 anos de Mário Viegas, no Fórum Actor Mário Viegas. A exposição vai estar em exibição até 18 de Novembro e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 15h00 às 18h00 e aos sábados, entre as 10h00 e as 13h00.
No sábado, 4 de Novembro, o Teatro Sá da Bandeira recebeu a peça de teatro ‘As mulheres de Santareno’, pelo Veto Teatro Oficina, sobre o dramaturgo escalabitano Bernardo Santareno, pseudónimo de António Martinho do Rosário. O espectáculo volta à cena no Teatro Taborda, do Círculo Cultural Scalabitano, no dia 10 de Novembro e a 17 de Novembro, às 21h30.
‘Novembro, Viegas e Santareno’ prossegue com uma homenagem a Mário Viegas intitulada ‘Ilustre Amigo do CCS’, no sábado, 11 de Novembro, às 17h00, no Teatro Taborda do Círculo Cultural Scalabitano. A programação estende-se até final do mês.