Associação “Cantar Nosso” na Golegã tem uma escola de música que é exemplo na formação de jovens
O bom trabalho da Associação Cultural “Cantar Nosso” foi reconhecido desde o primeiro momento em que a colectividade se implementou na Golegã. A associação tem tido um papel importante na formação de jovens e tem uma escola de música com seis dezenas de alunos. O MIRANTE conversou com o fundador, José Dias, em dia de ensaio.
José Dias e Albina Dias fundaram a Associação Cultural “Cantar Nosso”, na Golegã, há 35 anos. O casal conheceu-se quando José Dias integrou um grupo musical que actuava em restaurantes. O projecto acabou e Albina lançou-lhe o convite para ir para a Golegã coordenar um grupo de 15 pessoas. Depois do grupo formou-se um coro com três dezenas de elementos e um projecto de música popular, actividades que marcam o início da Escola de Música “Cantar Nosso”, na Casa Vaz, na Golegã.
José Dias, 66 anos, descobriu a paixão pela música no coro dos pára-quedistas em Tancos, onde exerceu funções como sargento durante 16 anos. A mãe cantava canções de Amália Rodrigues e também foi influenciado pelo avô que tocava guitarra portuguesa, clássica, banjo e bandola num grupo em Lisboa. Não quis seguir contabilidade, entrou no conservatório de música e chegou a professor de música na Marinha Portuguesa. Em 1990 avançou com a escola de música num edifício cedido pela Câmara da Golegã, a Casa Vaz. Conta que a associação chegou a ter três coros infantis. “Os finais dos anos 80 foram anos de ouro. As famílias tinham outra capacidade económica para investir na formação dos filhos”, recorda.
Um delegado do então Instituto da Juventude propôs um projecto de raiz para uma sede própria, mas José Dias acabou por negar os 25 mil euros que pretendiam atribuir. Três meses depois a quantia duplicou, dá-se a entrada do Governo de António Guterres e o valor atinge os 100 mil euros. Com essa verba, o edifício sede da associação começou a ser construído. Mais tarde são atribuídos mais 200 mil euros para os acabamentos e em 2002 o edifício é inaugurado pelo presidente da câmara à altura, José Veiga Maltez, e passa a conservatório oficial. “O melhor reconhecimento que tivemos foi dois Governos diferentes atribuírem-nos verbas para construirmos este edifício e proporcionarmos boas condições de trabalho aos nossos alunos”, refere, acrescentando que a associação foi galardoada três vezes pelo município e tem o estatuto de utilidade pública atribuído por António Guterres.
A importância da cultura
José Dias elogia a iniciativa do actual executivo liderado por António Camilo em elaborar uma agenda cultural, embora afirme que o Ribatejo tem outras prioridades do que promover a música: “os jovens desta região interessam-se pouco pela música. No Norte muitos estudam em conservatórios. Enquanto lá há concelhos com 14 coros, aqui há o nosso e o da igreja”, refere. “O mais importante que ensinamos não é a música. A música é um meio para chegarmos ao desenvolvimento da pessoa no seu todo. Quando chegam às universidades são alunos que estão noutro patamar porque são focados e têm hábitos de estudo”, explica José Dias, enquanto vai mostrando fotos de alunos que vingaram na carreira de médicos, advogados e engenheiros.
A escola de música tem cerca de 60 alunos e apenas uma dezena é do concelho da Golegã. José Dias despediu-se da presidência da associação no ano passado e é o actual tesoureiro. A associação reinventa-se todos os anos e tem neste momento o coro polifónico, coro de câmara, escola de música e um grupo de gaitas de fole. “Não deixa de ser gratificante cultivarmos este ambiente de família e os que foram voltaram sempre e agora trazem os filhos”, conclui José Dias.
O sucesso das Gaitas da Golegã
O terceiro Encontro de Gaitas de Fole e Percussão do Ribatejo, realizado no início de Outubro deste ano, juntou nove grupos de gaiteiros de todo o país numa arruada pelas ruas da Golegã. O grupo Gaitas da Golegã “Cantar Nosso”, onde José Dias e a sua filha mais velha tocam, é composto por seis gaiteiros e três percussionistas. O projecto arrancou após um grupo de deputados ter desafiado a associação para um concerto temático do pós-25 de Abril, em Lisboa, na década de 2000. Em palco estiveram nomes como José Mário Branco e Jorge Moyano.