Uma pintora da Chamusca que acorda a meio da noite para dar asas à imaginação
O nome de Catarina Centeno passou de ser conhecido na Chamusca a constar de exposições colectivas da curadoria de Santiago Belacqua e outros artistas de renome. O seu quadro O Sopro de Deus esteve este ano em Itália e um desenho seu no Brasil. Participou ainda na primeira Bienal de Arte Cristã, em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude.
Catarina Centeno nasceu com o dom do desenho e pintura e durante anos guardou os seus trabalhos para si. O talento nunca passou despercebido a familiares e amigos e quando aceitou participar numa exposição nas Festas do Império do Divino Espírito Santo, em Alenquer, vários artistas interessaram-se pelo seu trabalho, inclusive Santiago Belacqua, o primeiro artista português a expor no Vaticano, que lhe prometeu usar da sua visibilidade para promover o seu trabalho. O MIRANTE esteve nos aposentos da pintora de 55 anos, na Chamusca, que olha para a arte como uma forma de estar na vida.
Na sala-de-estar, onde decorre a conversa, há quadros espalhados por toda a parte; uns por terminar, outros a aguardar viagem, como é o caso do que ilustra a medieval corrida de cavalos Palio di Siena, que vai para Itália. As referências à Chamusca e ao Ribatejo são muitas: uma aguarela do Clube Agrícola da Chamusca, um desenho a carvão da ganadaria de Norberto Pedroso e o primeiro quadro que pintou, com o pão e o vinho à mesa. Catarina Centeno revela que se levanta a meio da noite para pintar e que muitas vezes adormece no sofá com os óculos postos a olhar para os quadros. O marido, Hélder Coelho, que acompanha a conversa, confirma tudo o que é dito.
Em criança Catarina Centeno desenhava nas laterais das gavetas e depois fechava-as para ninguém ver, um pouco como fez ao longo da sua vida com os seus quadros. Aos quatro anos copiava o boneco da Michelin dos jornais que o pai comprava e foi aí que a mãe, com jeito para o desenho e pintura, e o pai, que fazia alguns esboços de desenhos e figuras humanas, se aperceberam do talento. Depois dos trabalhos de casa colocavam uma mesa no quintal e desenhavam e pintavam as personagens dos livros infantis. No secundário fazia retratos dos colegas a carvão e algumas caricaturas. Seguiu Línguas e Humanidades por falta de opção das artes e tirou o curso de educadora de infância, estando na equipa de intervenção precoce que actua em Jardins e domicílios da área de Santarém. Concilia as duas vertentes e tenta incutir nas crianças a sensibilidade e importância das artes, colocando-as a mexer em materiais e a dar asas à imaginação. Na última actividade desenhou a Frida Kahlo enquanto a colega lia a história.
Com o nascimento dos filhos e os cheiros intensos das tintas em casa, optou por parar durante uma década e dedicar-se apenas aos retratos em casamentos. Há um ano e meio que pinta arte cristã e os seus trabalhos já correm mundo. O Sopro de Deus esteve este ano em Cittadella e Veneza, em Itália, e um desenho seu no Congresso Mundial da Paz Ada Aharon, em São Paulo, no Brasil. Em 2023 proporcionou-se a primeira Bienal de Arte Cristã, em Lisboa, durante a Jornada Mundial da Juventude. Catarina Centeno foi catequista e esteve ligada a grupos de jovens católicos. “Preocupa-me a falta de paz e a pouca tolerância. Se não somos tolerantes não conseguimos ter uma perspectiva de ajuda, não damos tempo aos outros para se mostrarem nas suas diversidades nem a nós mesmos. A arte dá-me a paz interior”, sublinha.
Catarina Centeno tem realizado pinturas em murais em Ulme, expôs na biblioteca municipal da Chamusca, e um pouco por todo o país. A artista acredita que uma exposição itinerante de arte cristã em Santarém podia ser uma boa ideia para atrair turistas e que podia ser lançado um tema para artistas de várias áreas terem oportunidade de mostrar a sua arte.