Rogério Devesa é um construtor de Vale da Pinta com jeito para a arte
Rogério Devesa é um apaixonado por pedra e aos 72 anos gostava de dar a conhecer o seu trabalho. Na sua casa em Vale da Pinta, no concelho do Cartaxo, tem mais de três dezenas de figuras desenhadas com pedra, desde a caravela portuguesa a uma réplica do Poço de São Bartolomeu.
Rogério Devesa, 72 anos, nunca conheceu outra vida senão a da construção civil. A O MIRANTE conta, com orgulho, que ainda não tinha uma década de vida e já acompanhava o pai nas obras. Vive sozinho em Vale da Pinta, no concelho do Cartaxo, na moradia que construiu no terreno de vinha que era dos avós. Não tem companheira nem filhos e passa os dias a fazer biscates para amigos, e para si próprio, ou a idealizar a próxima figura em pedra para compor paredes da sua casa, embora refira que o espaço é cada vez menor. No total tem mais de três dezenas de figuras, algumas com bastante significado para si. O MIRANTE foi conhecer o trabalho do construtor septuagenário que quer mostrar, em conjunto com o seu amigo desenhador, a sua arte a mais pessoas.
Nas paredes da casa de Rogério Devesa são eternizadas as memórias de infância e adolescência, dos tempos em que acompanhava o pai pelos concelhos do Cartaxo e Azambuja. Algumas figuras são representativas dos três anos em que esteve na Marinha Portuguesa, para onde entrou com 18 anos, como o escudo da bandeira nacional e a caravela portuguesa na mesma parede. A caravela portuguesa, a primeira figura que criou, demorou uma hora e meia a ser desenhada a carvão pelo amigo e depois foi colando as pedras no seu “jogo de paciência”. As restantes, como algumas sequências de figuras e uma réplica do Poço de São Bartolomeu, situado em Vale da Pinta, onde se diz que D. Afonso Henriques saciou a sua sede antes da Batalha de Ourique, em 1139, foram desenhadas por si. O carinho pelo monumento religioso vem não só pelo amor à terra como por, enquanto funcionário da junta de freguesia local, ter ajudado a restaurá-lo.
Rogério Devesa edificou vários prédios, poços e lagares, chegou a ter a sua empresa de construção civil e tem em mente replicar o Poço de São Bartolomeu à escala real. A última obra que fez foi um pelourinho de três metros no centro do seu jardim. Não sabe tirar fotografias e recorre a vizinhos, apreciadores do seu trabalho, para mandar fazer calendários e distribuir pela população. Esteve cinco anos em França a trabalhar na construção, mas hoje reconhece que “devia ter lá ficado 20 ou 30”. Sobre se gostava de ter seguido a carreira na Marinha, Rogério Devesa afirma que “quando somos novos pensamos de outra maneira”, embora tenha orgulho no tempo que lá passou, sobretudo da sua viagem para a Guiné, onde permaneceu seis meses. Apesar da vida dura e de muito trabalho, diz que não tem feitio para estar parado e que vai continuar a dar asas à imaginação enquanto a cabeça e o corpo lho permitirem.