Autobiografia de Mário Viegas em nova edição para celebrar 75 anos do actor
Obra vai ser apresentada na tarde de sexta-feira, 15 de Dezembro, no Círculo Cultural Scalabitano, em Santarém
A “autobiografia não autorizada” de Mário Viegas foi editada este mês pela Tradisom, numa versão que inclui quatro CD com gravações inéditas do actor natural de Santarém que teria feito 75 anos em Novembro. Perto de 28 anos depois da edição fotocopiada que o actor e encenador elaborou em 15 dias e distribuiu por amigos, e de uma edição ‘fac similada’ editada pela Câmara Municipal de Cascais com uma tiragem muito reduzida, já depois da morte do actor, em 1 de Abril de 1996, “Mário Viegas – Auto-photo biografia (não autorizada)” chega agora às livrarias, assinalando os 75 anos de nascimento do autor, que se completaram no dia 10 de Novembro.
Com uma tiragem de mil exemplares e editado em formato pouco mais pequeno do que o A3 original, o livro, em capa dura, contém ainda "como suplemento" quatro CD, dois dos quais com as gravações de um café-concerto que Mário Viegas fez no Porto, em 1986, e em que ensina ao público como recitar poesia, e outro com uma gravação do actor no dia em que cumpriu 9 anos, disse à agência Lusa o editor da obra, José Moças. “É impressionante”, frisou o editor da Tradisom, acrescentando que aquela gravação – tal como outras em que o actor surge a ler em voz alta, deitado de barriga para baixo para poder controlar o diafragma - denota a “genialidade” do artista, que viria a morrer, em 1996, aos 47 anos.
Recortes de jornais, bandas desenhadas feitas pelo ator em criança, entrevistas a jornais quando já adulto, fotografias, entre muitos objetos artísticos, constam da obra que é apresentada esta quarta-feira, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e que terá nova apresentação na sexta-feira, pelas 17h30, no Círculo Cultural Scalabitano, em Santarém, numa iniciativa que, para a irmão do actor, Maria Hélia Viegas, tem “uma importância enorme”.
“Porque, ele, nos seus 75 anos, anda por aí, ainda está no ar. No ar das rádios, no ar da televisão”, disse Maria Hélia Viegas, em entrevista à agência Lusa, considerando a obra “o presente de anos para o irmão” de quem foi cúmplice na construção de peças, realização de figurinos ou na elaboração de um jornal que fizeram para vender na vizinhança em Santarém. “Dos seus 75 anos é este presente que nós podemos oferecer para ele estar cá connosco e continuar connosco”, frisou a irmã de Mário Viegas.
O livro editado agora pela Tradisom acaba por ser também uma demonstração do amor que o actor tinha pelo teatro, sobre o qual dizia que foi sempre a sua “vida” e a sua “morte”. A récita com que Mário Viegas se estreou em palco, interpretando um anjo em 23 de Dezembro de 1962, ou a estreia profissional, ainda na década de 1960, são outros episódios retratados no livro, editado tal como o artesanal elaborado pelo actor, no ano em que acabaria por se candidatar às eleições presidenciais de 1996.
“Mário Viegas - Auto-photo biografia (não autorizada)” que agora chega às bancas é assim um “retrato fiel” do pretendido pelo artista que a elaborou em 15 dias já depois de saber “que tinha a morte à espreita”, sublinhou a irmã. Por isso, e apesar de não ser a primeira vez que a obra é editada depois de o irmão “ter partido”, Maria Hélia Viegas sublinhou que nenhuma das edições anteriores teve “o impacto” que terá esta.
Textos de autores que faziam parte da vida pessoal e profissional de Mário Viegas, entre os quais António Barahona, Eugénio de Andrade, Mário Cesariny, Mário Henrique Leiria, Fernando Pessoa e seus heterónimos, Bernardo Santareno, Miguel Rovisco, Raul de Carvalho, Luis Miguel Nava, Mécia de Sena ou Luiz Pacheco, constam também da obra agora editada.
Tal como José Carlos Alvarez, que prefacia a obra e que classifica a original de Mário Viegas “um incunábulo”, Maria Hélia Viegas sublinha a “actualidade” do livro elaborado pelo irmão. "Se o público conseguir ouvir algum espectáculo do ‘Europa não! Portugal nunca!’, que é dos últimos que fez quando se candidatou para a Presidência da República, está tudo lá, até o ‘Manifesto anti-Cavaco’, que não podia estar mais actual”, concluiu Maria Hélia Viegas.