Cultura | 16-12-2023 21:00

Coleccionar selos é uma actividade em extinção

Coleccionar selos é uma actividade em extinção
Manuel Augusto Soares fundou o Núcleo Filatélico e Numismático de Benavente

Ainda há quem continue a coleccionar selos, como Manuel Augusto Soares, apesar de se ter perdido o hábito de enviar cartas. O coleccionador de Benavente considera que é uma actividade que corre o risco de desaparecer por falta de interesse. No dia 1 de Dezembro assinalou-se em Portugal o Dia da Filatelia.

Os coleccionadores de selos estão a desaparecer. Os selos foram substituídos por carimbos e já poucas pessoas têm interesse em manter as suas colecções. A opinião é de Manuel Augusto Soares, um dos mentores do coleccionismo em Benavente. Começou a coleccionar selos e moedas há meio século e desde aí nunca mais parou. Aos 78 anos, por carolice, continua a organizar anualmente a Expo-Feira de Coleccionismo de Benavente.
Fundou o Núcleo Filatélico e Numismático de Benavente (NFNB), juntamente com seis pessoas com interesse na área. Hoje vai mantendo o núcleo activo com a ajuda de mais dois ou três sócios. Os restantes, pela idade avançada, já não participam nas actividades. “O núcleo começou a ganhar consistência porque frequentávamos feiras em todo o país. Naquela altura começámos a ver selos que vinham das cartas que os portugueses mandavam do Ultramar e que não conhecíamos”, conta. Uma colecção de selos até pode ser valiosa mas ninguém os compra. Se um coleccionador não frequentar os encontros que se fazem um pouco por todo o país é difícil aumentar o espólio dado que os selos caíram em desuso.
O distrito de Santarém já foi um dos que mais feiras de coleccionismo tinha em todo o país. Hoje só tem duas ou três por ano, incluindo a de Benavente. Barroselas, Lisboa, Porto e Covilhã são as zonas do país onde a filatelia e a numismática ainda se vão mantendo por conta dos coleccionadores. A colecção de moedas é a que mais cativa Manuel Augusto Soares. Em casa já perdeu a conta a quantas tem. Começou aos poucos a comprar moedas e notas e a ir a feiras e encontros com outros coleccionadores.
“Antigamente as moedas eram as colecções mais comuns por causa da emigração. Começaram a aparecer moedas de França e de outros países e começaram as trocas”, recorda. A moeda que teve mais valor para o coleccionador foi a do lobo, que saiu em 1992, e que ainda hoje raramente se encontra. Todos os coleccionadores querem ter uma moeda dessas. Manuel Augusto Soares garante que os coleccionadores não estão interessados na vertente económica mas sim em adquirir os artigos mais raros. Mas a verdade é que conhece um coleccionador já muito antigo com uma colecção avaliada em 400 mil euros.

Coleccionismo em declínio
A família de Manuel Augusto Soares acompanhou o passatempo ao longo dos anos mas nunca se interessou em dar-lhe continuidade. Os netos ainda são pequenos e os filhos pedem-lhe para parar de coleccionar, apesar de ajudarem na participação do pai nos encontros. É peremptório em dizer que a filatelia e numismática deverão acabar porque os coleccionadores morrem e não há quem queira prosseguir com a actividade. “Este ano realizei o encontro de coleccionadores em Benavente e entusiasmou as pessoas. Tive gente do Minho ao Algarve. Tive um casal italiano pela segunda vez a participar e já me convidaram para ir a Itália”, diz.
Esta actividade exige um grande conhecimento das moedas e selos que saem para depois os adquirir. É preciso tempo e disponibilidade para participar nos encontros. Só assim se conseguem fazer trocas para ampliar as colecções particulares. As trocas devem ser feitas sempre presencialmente e nunca pela Internet. Mesmo assim é preciso ter atenção para não ser alvo de roubo. “As pessoas têm medo de dizer as colecções que têm. Mesmo em deslocações para encontro com outros coleccionadores é preciso ter cuidado. A Feira da Ladra ainda é um ponto de encontro para quem quer fazer trocas mas é preciso estar atento”, afirma.
Para além de moedas e selos, o coleccionador tem em casa mais de cinco mil esferográficas e dezenas de baralhos de cartas. Garante que vai continuar a manter o Núcleo Filatélico e Numismático de Benavente e a realizar o encontro anual, até a saúde permitir. Deixa um conselho a quem tem gosto pela actividade: “Façam trocas entre si e ampliem o conhecimento. Iniciem alguém neste mundo porque senão o coleccionismo vai entrar em extinção”, avisa.

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