A modista que venceu vários concursos com os seus vestidos de chita
Sandra Anastácio tem quatro vestidos de chita em exposição na mostra “Chita – Tradição e Identidade” onde podem ser vistos 72 vestidos de chita que participaram em diversos concursos de vestidos de chita realizados no concelho do Cartaxo.
Preto e vermelho salpicado de bolas brancas e pretas, com duas violas portuguesas e a partitura da música do filme “A canção de Lisboa” estampadas. Assim se sintetiza o modelo criado por Sandra Anastácio com que venceu um dos concursos de vestidos de chita que se realizam no Cartaxo. Este é um dos quatro vestidos que a modista tem em exibição na exposição “Chita – Tradição e Identidade”, no Museu Rural e do Vinho, no Cartaxo, até 21 de Janeiro de 2024, que inclui 72 vestidos de chita de várias modistas.
Desde criança que Sandra Anastácio pegava nos panos que a mãe e a avó já não utilizavam e criava os vestidos para as suas bonecas. Adorava fazer vestidos de noiva. Foi com naturalidade que se tornou modista e a intenção era trabalhar em conjunto com a sua mãe, que morreu aos 50 anos vítima de doença oncológica. A jovem modista, na altura com 23 anos, conta a O MIRANTE que só não desistiu do curso porque a sua mãe insistiu muito para que o concluísse. Trabalhou numa fábrica de cogumelos, no concelho do Cartaxo, e depois numa farmácia, empregos que conciliou com o curso de modista em Lisboa. “Foram tempos difíceis, se não tivesse tido apoio de professores e colegas, e da minha família, não sei se teria conseguido”, afirma.
Um ano depois do falecimento da mãe, criou o seu primeiro vestido de noiva, que estava previsto ser feito pela sua mãe mas a doença não permitiu. Foi convidada desse casamento e ver a noiva entrar na igreja com o vestido feito por si fê-la regressar à infância quando inventava esses mesmos vestidos para as suas bonecas. Foi Sandra quem fez o seu próprio vestido de noiva com a ajuda de uma prima que tirou medidas e fez a prova. O dia do seu casamento foi agridoce porque estava combinado ser a sua mãe a fazer-lhe o vestido.
Sandra Anastácio trabalha no restaurante do marido, que já era dos seus sogros. Continua a fazer roupa mas sempre a conciliar com o trabalho na parte de café do estabelecimento comercial. Quando se recuperou a tradição dos concursos de vestidos de chita no Cartaxo, Sandra Anastácio começou a participar e ganhou quatro vezes. Um desses vestidos representa o mundo e tem o mapa de Portugal desenhado no vestido - azul claro e branco às bolinhas - incluindo Açores e Madeira. No xaile está debruado todo o mapa do mundo.
Também faz vestidos para os concursos Rainha das Vindimas e nessas alturas, confessa, por vezes tem cerca de uma semana para os confeccionar e há muitas noites passadas a costurar para cumprir com os tempos. Tem um espaço em casa que funciona como ateliê e onde dá asas à sua imaginação. Cria muitos vestidos de jovens para baile de finalistas. “Há quem traga fotografias de vestidos que viram na televisão e querem igual e há outras que me dizem o que pretendem e confiam em mim. Consigo visualizá-las com as ideias que me dão e depois é mais fácil criar”, explica.
Sandra Anastácio admite que o vestido que mais prazer lhe deu fazer foi o da sua filha mais velha. “É uma tradição que se cumpre. A minha filha mais velha participou no concurso de vestidos de chita e também na Rainha das Vindimas, com fatos feitos por mim. É um orgulho e a concretização de um sonho”, confessa.