Cultura | 01-01-2024 18:00

No mercado de Alhandra há uma biblioteca que ajuda a matar a fome da leitura

No mercado de Alhandra há uma biblioteca que ajuda a matar a fome da leitura
Maria Dulce Domingos (à direita), Maria Glória Câncio (à esquerda) e Manuela Peleteiro são três dos rostos da Gente em Alhandra

Associação Gente em Alhandra concretizou o sonho de abrir uma biblioteca com livros doados para permitir a toda a gente descobrir novos autores e apaixonar-se pela leitura. Um protocolo firmado em Novembro com a biblioteca municipal de VFX veio confirmar o mérito da iniciativa.

Ir ao mercado municipal de Alhandra comprar fruta, legumes, peixe e trazer um livro emprestado para ler é algo que já é possível desde Novembro, na “Biblioteca do Mercado”, um espaço dinamizado pela comunidade que quer estimular o gosto e a paixão pela leitura. Por detrás da ideia está a associação Gente em Alhandra, que até Julho de 2019 era apenas um grupo de cidadãos da vila que se empenhava a deixar livros nos bancos de jardim, o chamado projecto “Semear Livros”. Dos bancos de jardim passaram a um armário junto do Museu Sousa Martins e até abrir a biblioteca foi um ápice. “A iniciativa foi um sucesso e começámos a receber muitas doações de livros. Mas, com o tempo, percebemos que alguns livros eram demasiado bons e raros para estarem na rua daí termos pensado na ideia de concretizar uma biblioteca”, explica Manuela Peleteiro, presidente da associação, a O MIRANTE.
Um dos problemas era precisamente o roubo de vários livros das caixas que a associação deixava pelas ruas. “De vez em quando havia uma razia. Doía-nos ver alguns livros desaparecer e que estivessem a fazer negócio com eles. Chegámos a apanhar livros com o nosso carimbo à venda em feiras em Algés”, lamenta Maria Glória Câncio, vice-presidente da associação. Com a ajuda do presidente da Junta de Alhandra, Mário Cantiga, foi arranjada a loja do mercado municipal para a associação transformar em biblioteca. Abriu portas em Novembro e em apenas dois meses já tem meia centena de leitores registados e a expectativa é que esses números venham a subir rapidamente. “Queremos estimular o gosto da comunidade pela leitura e promover a literacia das nossas gentes. Isso é o que nos move. Queremos que as pessoas leiam os livros e os discutam. O gosto pela leitura está esquecido. Queremos promover a divulgação da língua e das ideias”, explica Maria Dulce Domingos. O grupo, que diz que hoje em dia “lê-se pouco e mal”, ambiciona tornar o livro tão pessoal como um familiar nas pessoas de Alhandra.

Divulgar os neo-realistas
A 14 de Novembro foi assinado entre a associação e a rede de bibliotecas municipais um protocolo que abre ainda mais os horizontes aos leitores de Alhandra. “Até aqui apenas disponibilizávamos os livros que tínhamos. Agora fazemos muito mais. Uma pessoa que queira ler determinado livro, se ele não existir aqui, pode requisitar e depois pode vir buscá-lo uns dias depois sem ter de sair de Alhandra. É-nos trazido pelo bibliomóvel da câmara municipal que nos visita uma vez por semana. A nossa dimensão passou a ser enorme”, destacam os dirigentes. O melhor de tudo é que não é preciso estar inscrito na biblioteca municipal de VFX para pedir determinado livro nem tão pouco é preciso sair de Alhandra para o levantar e entregar. Da mesma forma vários livros que só existem na “Biblioteca do Mercado” vão ficar à disposição dos leitores de todo o concelho de VFX, quando os seus títulos acabarem de ser introduzidos na base de dados da Fábrica das Palavras. Livros de poesia, história, literatura portuguesa e estrangeira, literatura fantástica, clássicos e escritores neo-realistas são algumas das obras disponíveis.
A Gente em Alhandra diz estar a preparar, no âmbito dos 50 anos do 25 de Abril, uma maior divulgação da obra de Soeiro Pereira Gomes junto das crianças da vila. A biblioteca está aberta às terças e quartas-feiras das 10h00 às 12h00, às quintas-feiras das 16h30 às 18h30 e aos sábados das 10h00 às 13h00. A associação sonha também ampliar as instalações para um espaço que lhes permita promover tertúlias literárias e apresentações de livros juntamente com encontros com escritores.

Uma associação dinâmica

Além da biblioteca a Gente em Alhandra também dinamiza a “Casa das Estórias”, instalada no parque infantil junto ao coreto, que funciona todos os fins de semana de manhã e dá apoio aos agrupamentos escolares com teatro, ateliês, livros e jogos para os mais pequenos, tudo promovido pelos membros da associação de forma voluntária. A associação também promove quatro exposições por ano na vila e tem até ao final do ano uma mostra dedicada a Júlio Graça na galeria Augusto Bértholo. Para 2024 a Gente em Alhandra, que tem 65 associados, está apostada em continuar a recolher a memória afectiva de Alhandra - com entrevistas a figuras mais velhas da localidade - e também a promover o seu clube de fotografia.

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