Cultura | 09-01-2024 18:00

A família que não deixa acabar o Rancho de Vale da Pedra

A família que não deixa acabar o Rancho de Vale da Pedra
O Rancho de Vale da Pedra completou 35 anos em Dezembro de 2023 e O MIRANTE acompanhou o último ensaio do ano

Alda Semedo é presidente do Rancho Folclórico Regional de Vale da Pedra há mais de duas décadas e, em conjunto com vários elementos, entre os quais seus familiares, trabalham arduamente para cumprir a promessa de não deixar o rancho acabar. A O MIRANTE conta como é difícil arranjar alguém para a substituir e como as listas são sempre compostas por “voluntários à força”.

A ideia de formar o Rancho Folclórico Regional de Vale da Pedra, no concelho do Cartaxo, surgiu da vontade de três homens da terra – António Antunes, mais conhecido por António Lagarto, João Bento Sereno e António Mira – decorria os anos 40/50 do século passado. O rancho apresentou-se apenas a público a 17 de Dezembro de 1988, depois de ter iniciado ensaios em Maio desse ano, e só em 2004 se formou como associação. António Lagarto deixou a presidência em 1999 e pediu à sucessora, Alda Semedo, que nunca deixasse o rancho acabar. Alda Semedo tem cumprido a promessa, mas admite estar cansada. O mandato de três anos chegou ao fim a 31 de Dezembro de 2023, mas já lá vão mais de duas décadas sem ninguém para a substituir. Em conversa com O MIRANTE, Alda Semedo diz que vai dando sugestões para listas, mas “ninguém quer compromissos, são sempre voluntários à força”, lamenta. A presidente compreende que “quem tem responsabilidade numa direcção acaba por ter uma espécie de prisão” por ter de abdicar da vida pessoal, mas refere que “é triste vermos que trabalhámos tanto e que outros antes de nós já trabalharam e chegar aqui e a porta estar fechada”, afirma.
A vontade de ser mais teimosa que os contratempos tem mantido a presidente no leme da associação, que durante o dia trabalha como administrativa numa empresa de tractores agrícolas na zona industrial de Santarém. O rancho está sem ensaiador há vários anos e vão sendo os elementos mais velhos a guiar o grupo. O Rancho Folclórico “Os Campinos” de Vila Chã de Ourique, com o ensaiador Carlos Albuquerque, foi o braço-direito dos primeiros ensaios.
Alda Semedo, de 52 anos, entrou na colectividade influenciada pelos grandes festivais de folclore que via na televisão, o brilho das roupas e a agitação. Num dos primeiros ensaios dançou com Paulo, o actual marido, e do matrimónio nasceram duas filhas também elas apaixonadas por folclore, Beatriz e Margarida, de 27 e 22 anos, respectivamente. Além de partilhar o palco com Margarida e o marido, tem uma das irmãs no rancho, sobrinhos e a neta de cinco anos que já toca ferrinhos. “Quem vem de fora acha um grupo diferente porque brincamos muito. Vamo-nos corrigindo e ajudando uns aos outros”, explica.
A maior fonte de rendimento da colectividade tem sido a exploração da tasquinha na Festa do Vinho do Cartaxo. O rancho chegou a andar em negociações para integrar o Centro Social de Vale da Pedra, onde ensaiam numa pequena sala. A colectividade chegou a assumir a marcha de Vale da Pedra, a última realizada em 2006. A de 2007 só não se realizou por falta de pessoas e verba, explica. Em 2006 iniciou o cicloturismo com alguns passeios e houve ainda um grupo de teatro com os elementos do rancho, cuja última revista se realizou antes da pandemia. “Gostava de ver sangue novo na direcção para reactivar o grupo de teatro e o cicloturismo”, diz.

Maria André toca no Rancho de Vale da Pedra e é conhecida pela sua boa disposição

Touros, fado e folclore são as paixões de Maria André

Maria André, conhecida em Vale da Pedra por Manuela Campino, toca cana, reco-reco, ferrinhos e faz parte do Rancho Folclórico Regional de Vale da Pedra, no Rancho Folclórico Ceifeiras de Porto Muge e no Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja. É o elemento mais velho do Rancho de Vale da Pedra, com 71 anos, e tenta conciliar todos os ensaios. Touros, fado e folclore são as suas grandes paixões e quando soube do surgimento do rancho em Vale da Pedra quis logo juntar-se. “Tinha de ter qualquer coisa para me ocupar porque só o trabalho é pouco”, afirma, explicando que trabalha em limpezas, mas que foi sempre “a mulher dos sete ofícios”, tendo sido tractorista, funcionária em fábricas e cabeleireira.
Quem a conhece afirma que é uma pessoa “cheia de vida”, dinâmica e brincalhona como o pai, que não chegou a conhecer. O rancho serve para se distrair e garante que a longevidade e a saúde vêm da sua personalidade. Fez teatro durante 12 anos, participou na marcha e tem saudades. Embora tenha uma concertina em casa, não acabou de aprender, mas gostava de saber tocar. Lamenta que os jovens de hoje não estejam tão predispostos a dar o seu tempo às colectividades. “Cheguei a vir do rancho, mudar de roupa e ir trabalhar. Hoje ninguém faz isto”, refere. Considera a sala de ensaios pequena para cerca de 30 pessoas que normalmente ensaiam e os apoios às colectividades uma lacuna da autarquia.

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