Associação Rasgo quer agitar as águas da cultura em Santarém
A Rasgo é um projecto cultural arrojado criado em Dezembro de 2022 pelos jovens Miguel Canaverde, Luís Calixto, Ivo Santos, Afonso Calixto e Afonso Prata. O grupo quer agitar as águas da cultura em Santarém e chegar a um público mais abrangente.
Em Tremês, concelho de Santarém, havia uma tradição chamada ‘Largar as Pulhas’ em que as pessoas iam para um ponto alto da terra divulgar, alto e em bom som, os mexericos locais e pôr a comunidade a par das novidades mais picantes. Esta tradição oral foi contada à associação cultural de jovens Rasgo e serviu de mote para uma das residências artísticas realizadas a pedido da Câmara de Santarém, onde se descobriu que essa tradição popular era desconhecida de muita gente, mesmo na freguesia de Tremês.
A Rasgo, criada em 15 de Dezembro de 2022, é composta pelos jovens Miguel Canaverde (licenciado em Vídeo e Cinema Documental, na Escola Superior de Tecnologias de Abrantes e freelancer na área de Cinema e Audiovisual desde 2016), Luís Calixto (licenciado em Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra), Ivo Santos (formado em História com mestrado em Gestão Cultural na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha), Afonso Calixto e Afonso Prata, licenciados em Design Gráfico, desempenhando essa função no Rasgo. Apenas Ivo Santos não é natural de Santarém.
Miguel Canaverde e Luís Calixto começaram por criar a associação Waves of Youth em 2020, um grupo informal, depois de terminarem a licenciatura, com o objectivo de continuarem as produções que faziam durante o curso. No final de 2019 receberam o convite da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) para realizarem um documentário sobre um conjunto de residências artísticas. Durante uma semana, em cada concelho pertencente à CIMLT, fizeram uma produção que resultou num documentário com jovens. Ao todo foram 11 residências artísticas com temas propostos por cada município. Este foi o primeiro trabalho da associação. No final de 2020 criaram a Rasgo, um grupo mais pequeno e ligado a Santarém com o objectivo de levar mais cultura ao concelho, mas também à região.
O grupo de jovens pretende criar uma programação cultural que diferencie. “Queremos ser uma mais-valia para Santarém e trazer novidades. Gostávamos de trazer projectos mais modernos, sabendo que o concelho é ainda muito tradicional no que respeita à cultura. Queremos, aos poucos, introduzir novidades. Sabemos que é difícil entrar com o nosso trabalho em Santarém. Como não existe oferta cultural em Santarém de experimentação artística as pessoas não estão despertas porque não existe. Estamos a dar o pontapé de saída nessa área”, afirma Miguel Canaverde.
Ivo Santos refere que o grupo tem que perceber como pode melhorar a comunicação para chegar a um público mais abrangente. “Existe uma dormência generalizada em Santarém em relação a coisas novas. Tudo o que é diferente causa reticência, é difícil darem oportunidade aos projectos arrojados mas estamos cá para não desistir e criar uma mudança na forma como se vê a cultura”, sublinha Luís Calixto.
Como o projecto é recente, com apenas um ano de actividade, a Rasgo desenvolveu workshops, conversas, oficinas e mostras para dar a conhecer o seu trabalho. Durante o Verão tiveram uma proposta do município de Santarém para fazerem três residências artísticas: em Alcanede, Pernes e Tremês. Deambularam pelo território e trabalharam sempre com grupos de jovens. Também vão às Escolas Dr. Ginestal Machado e Sá da Bandeira dar a conhecer o trabalho que estão a desenvolver. O objectivo é chegarem a um público mais jovem.
Grupos culturais do concelho de Santarém poderiam trabalhar mais em conjunto
A última apresentação de 2023, em Dezembro, aconteceu no Fórum Actor Mário Viegas, onde funciona a sede da Rasgo, a convite do Centro Cultural Regional de Santarém. “Recriamos uma maneira divertida e moderna de entreter os espectadores e são actividades para um público generalizado. Queremos trazer projectos diferentes que possam tirar as pessoas de casa e que as divirtam”, refere Ivo Santos.
Todos concordam que aprenderam muito no último ano e querem continuar o processo de aprendizagem para chegar ao maior número de pessoas. Em 2023 receberam pela primeira vez apoio do PAAC (Programação de Apoio à Ação Cultural) que lhes permitiu desenvolver alguns projectos. Os jovens da Rasgo consideram que Santarém tem muito potencial cultural que não é bem aproveitado. Lamentam que não exista um espaço que possa acolher residências artísticas. A Incubadora de Artes tentou fazer esse papel mas não funcionou bem. A Rasgo considera que os grupos culturais poderiam trabalhar mais em conjunto. “Era mais positivo, sobretudo para o concelho e para o público, que as associações e grupos culturais trabalhassem em conjunto em vez de o fazerem só para si. A interacção é sempre mais vantajosa”, defende Miguel Canaverde.