O compositor de Vila Chã de Ourique que se inspirou na terra natal para mudar de registo
João Ribeiro é compositor e músico do Projecto Pouca Pena, nascido da forte ligação do autor à sua terra natal, Vila Chã de Ourique.
Depois de anos a cantar e tocar rock e pop, o artista dedicou-se a escrever letras sobre a sua infância, cerimónias religiosas e até nomes de ruas, num regresso às raízes que o tem preenchido. O Dia Mundial do Compositor assinala-se a 15 de Janeiro.
João Ribeiro, 43 anos, é um compositor e músico natural de Vila Chã de Ourique que contacta diariamente com a música na Sociedade Portuguesa de Autores. Pertenceu às bandas de punk rock Cross The Line e Defying Control, onde dava voz às letras que compunha. Depois do registo rápido e interventivo passou mais tarde a escrever sobre a vila que o viu crescer, no Projecto Pouca Pena. O primeiro álbum do grupo - “Largo da Memória” – foi apresentado no Verão de 2022 na Praça Francisco Jacinto Nogueira, em Vila Chã de Ourique, vulgarmente conhecida pelo nome do disco.
O baixo eléctrico foi o primeiro instrumento do compositor, que só por volta dos 14 anos se iniciou no mundo da música. “Toda a gente tocava guitarra, eu queria ser diferente. Nunca fui daqueles músicos com tendência para aprender música, sempre fui muito desleixado. Mal peguei no baixo a minha tendência foi começar a fazer coisas minhas, mas é um caminho que não recomendo. Um bom músico tem de aprender música a sério”, admite, revelando que sente dificuldades em compor por falta de bases.
Aos 14 anos, João Ribeiro não pensava seriamente em compor, ouvia bandas como Queen e The Doors influenciado pelo irmão mais velho e gravava o som do baixo em cassete enquanto cantarolava. Em 2003, prestes a ir para o ensino superior, juntou-se a uns amigos e formaram a banda Cross The Line, onde sentiu necessidade de colocar voz nas músicas que já compunha. “A cena na altura era o punk rock e o skate, gostava daquelas bandas americanas e inglesas e seguia essa linha muito básica com letras interventivas”, descreve.
Uma década depois, a banda desmantelou-se e alguns membros evoluíram para os Defying Control, um projecto “mais a sério” com dois álbuns gravados, uma tour por França e uma viagem de 15 dias ao Brasil para actuar. Depois dos Defying, formou a Ás de espadas, com a qual lançou o álbum Âncora, e apresentaram-se em televisão com o tema “Dia de bola”, em 2014. Embora fosse encarada como um passatempo, João Ribeiro tinha vontade de que o projecto fosse avante. Passada a onda do punk, compôs música pop em inglês para tentar entrar no mercado, aproveitando o contacto com os editores mas percebeu que a concorrência era muita.
Com a chegada dos filhos e a viver num apartamento em Odivelas, comprou uma guitarra clássica e entre experimentações surge a “epifania” de um tributo a Vila Chã de Ourique, muito por culpa do cansaço da cidade, refere. Escreveu letras sobre a sua infância, cerimónias religiosas e até nomes de ruas. A ele juntam-se um amigo de Lisboa e outro da Nazaré, baixo acústico e jogo de percussões. Assim nasce o Projecto Pouca Pena, com o apoio do fundo cultural da Sociedade Portuguesa de Autores.
João Ribeiro explica que é uma forma de levar Vila Chã de Ourique até casa e tem pena de que os filhos não estejam a viver num sítio calmo e desafogado como a sua vila natal, optando por regressar às origens em alguns fins-de-semana e nas férias. “Há tanta gente que escreve sobre Lisboa e Coimbra, por que não escrever sobre Vila Chã de Ourique?”, afirma. “O Projecto Pouca Pena dá para o resto da vida. Música calma, agradável e que não cansa. Daqui é que queremos partir para o resto do país”, conclui, revelando que está a compor para o novo álbum.
Licenciado em Secretariado nunca chegou a exercer
Licenciado em Secretariado e Assessoria de Administração pelo Politécnico da Guarda, nunca chegou a exercer. João Ribeiro é responsável pela área internacional da Sociedade Portuguesa de Autores, lidando com contratos, direitos de autor e editores, além de actualizar o repertório dos editores em Portugal. Tem um arquivo de músicas pop em inglês, português, e algumas que podem ser adaptadas para fado. “Não sei se algum dia vão servir para alguma coisa”, afirma, deixando no ar o desejo de o Projecto Pouca Pena vir a ser basilar no ensino da música para alunos de guitarra.