Dois jovens de Santarém que se querem afirmar no mundo do cinema
Chico Noras e Joana de Sousa são realizadores de cinema naturais de Santarém e apresentaram obras recentes na cidade natal numa sessão onde falaram também da cidade e dos seus percursos de vida.
Francisco Noras e Joana de Sousa têm muito em comum: são ambos jovens, naturais de Santarém, apaixonados por cinema e realizadores de filmes. E na noite de 17 de Janeiro estiveram no Teatro Sá da Bandeira, na sua cidade natal, para apresentarem as suas obras “Entre a Luz e o Nada”, de Joana de Sousa, e “Maria José Maria” de Chico (nome artístico) Noras, e para falarem um pouco sobre o seu percurso de vida e na sétima arte.
Joana de Sousa contou um pouco da sua experiência associada ao cinema na cidade de Santarém, relembrando um antigo videoclube ou o antigo cinema no antigo centro comercial Feira Nova, tal como as histórias que a sua avó costuma contar do antigo Teatro Rosa Damasceno no centro histórico da cidade. Chico Noras também aproveitou para mencionar uma ida ao antigo cinema com o irmão quando tinha sete anos para assistir ao filme “Blair Witch Project”, enquadrado no género de terror que acabou por explorar também como realizador.
No início da curta “Maria José Maria”, terror psicológico, é possível identificar a rosácea da Igreja da Graça, no centro histórico de Santarém. A história macabra da película a preto e branco que se segue não impede que a mesma contenha elementos cómicos e também outras referências à região como os coelhos que são utilizados numa cena gravada na Póvoa da Isenta, onde a sua família paterna tem as origens. O filme contém cenas gravadas em Santarém, em locais como a Igreja da Misericórdia e a Igreja de Jesus Cristo, e constituiu também uma homenagem ao actor José Neto que interpreta na película a personagem do padre Aníbal. O actor faleceu em Setembro de 2023.
Para Chico Noras o cinema é uma forma de aceitar o lado sombrio do ser humano. O jovem realizador diz que o género de terror tem margem de crescimento artístico e poder de narrativa actualmente. E informou que está a realizar a pós-produção de um novo filme que, à semelhança com o exibido, foi gravado em Santarém em Abril de 2023 e tem lançamento previsto para meados de 2024. Para o realizador, Santarém tem potencial para continuar a ser palco de produções, porém, para tal acontecer é preciso existir uma promoção do concelho e dar as ferramentas necessárias para a produção de cinema pela comunidade local.
O cinema como arquivo de momentos e vivências
A curta “Entre a Luz e o Nada” de Joana de Sousa, nascida e criada em Santarém, começa com uma narração em língua inglesa e retrata momentos de convívio vividos entre um grupo de jovens. Os actores que fizeram parte da produção, apesar de não serem profissionais, preservaram a sua autenticidade ao não terem de estar sujeitos a uma linguagem formal e restrita. “Uma das texturas que queria manter no filme para além da própria identidade e maneira de ser das pessoas era também a maneira como falam”, disse a realizadora e curadora ao nosso jornal. As raves, festas que se distinguem por sons electrónicos pesados e pela utilização de vários efeitos luminosos, também fazem parte da curta-metragem. Joana de Sousa, que trabalha atualmente na Cinemateca Portuguesa, diz que o filme “Entre a Luz e o Nada” partiu de um desejo de arquivar um tipo de pessoas, um momento e uma vivência.