Cultura | 31-01-2024 18:00

Carlos Lopes trabalha há meio século na arte do restauro

Carlos Lopes trabalha há meio século na arte do restauro
Carlos Lopes começou a aprender a restaurar móveis quando tinha dez anos para ajudar a família em Tomar

Carlos Lopes começou há meio século, com 10 anos de idade, a trabalhar na arte de restaurar móveis antigos em Tomar. Lamenta que exista cada vez menos profissionais da área e considera que um móvel deve preservar o passado, mantendo as marcas da sua história ao longo do tempo.

Carlos Lopes, 61 anos, é marceneiro e restaurador de móveis antigos há mais de meio século em Tomar. Começou na arte aos dez anos. Depois de fazer a quarta classe foi trabalhar para uma marcenaria para ajudar financeiramente os pais que tinham sete filhos. “Não foi por escolha própria que fui para a marcenaria, mas por acaso adoro aquilo que faço”, conta com um sorriso. Com a prática foi aperfeiçoando o trabalho, lendo e aprendendo também com outras pessoas mais experientes, até abrir o próprio estabelecimento aos 20 anos, na Rua São João.
Há 40 anos havia muita oportunidade de negócio quando os jovens procuravam móveis restaurados. Carlos Lopes aproveitava para comprar móveis antigos, restaurá-los e vendê-los. Hoje, o cenário mudou com a geração mais nova a preferir móveis “descartáveis”, feitos a partir de materiais com pouca durabilidade. No entanto, o restaurador continua a não ter mãos para tanto trabalho de restauro. Carlos Lopes explica a O MIRANTE numa conversa a propósito do Dia Internacional do Conservador-Restaurador, que continuam a existir muitas pessoas a querer restaurar móveis de qualidade ou de família, que, em geral, têm conhecimento e algum poder económico para pagar um bom restauro, que fica dispendioso.
Os 12 euros por hora que cobra não pagam um trabalho minucioso que exige muita paciência e longas horas ou até meses. “Trabalho muito por gosto. Com todo o respeito, mas não chego a ganhar tanto quanto uma senhora a lavar escadas”, lamenta.
A primeira coisa que faz a uma peça é analisá-la detalhadamente para explicar ao cliente o que pode fazer e o que é mais correcto, sendo que “quem manda é o cliente”. “Para fazer um bom restauro nunca devemos tirar as marcas que a madeira foi ganhando ao longo dos anos. Costumo dizer que é o “bilhete de identidade” da peça e não devemos apagar a história do móvel”, esclarece o restaurador, acrescentando que não se deve utilizar produtos muito abrasivos para que o móvel continue antigo com as marcas que tem. Entre as diversas peças que lhe passaram pelas mãos e lhe deixam saudade, recorda-se de uma para ser exposta na Sinagoga de Tomar.
Carlos Lopes mostra-se preocupado com a falta de restauradores no país e, especialmente em Tomar, explicando que a industrialização e a falta de interesse dos jovens por trabalhos manuais contribuem para a extinção gradual do ofício. “O curso de Conservação e Restauro do Instituto Politécnico de Tomar é excelente e os alunos ficam com muitos conhecimentos, mas quando terminam o curso não vêm arranjar cadeiras e cómodas como eu faço, querem ser directores de um museu ou trabalhar em restauro museológico”, lamenta.

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