Tomar viajou ao passado para recordar quando se vivia à luz das candeias
Rancho Folclórico e Etnográfico de Alviobeira recriou diversos cenários dos serões do povo rural quando se vivia à luz das candeias, numa iniciativa que se realizou na Biblioteca Municipal de Tomar. Os participantes contaram histórias do passado e reviveram memórias dos tempos “em que a felicidade residia na simplicidade”.
A Biblioteca Municipal de Tomar foi palco de uma recriação dos serões nas aldeias à luz das candeias de azeite promovida pelo Rancho Folclórico e Etnográfico de Alviobeira, no âmbito do Dia da Nossa Senhora das Candeias, que se comemorou a 2 de Fevereiro. O sarau cultural e etnográfico, com o mote “Estórias de candeias às avessas”, reuniu dezenas de pessoas de todas as idades que revisitaram memórias antigas e cantaram músicas temáticas juntamente com o rancho, nomeadamente cantigas de trabalho, religiosas e de embalar.
O Rancho Folclórico e Etnográfico de Alviobeira apresentou um repertório variado enquanto recriaram diferentes cenários de um povo rural durante os serões à luz das candeias. As mulheres embalavam os filhos à luz da candeia, dedicavam-se à costura e ao croché ou escolhiam o feijão. Os homens reuniam-se para jogar às cartas, acompanhados por um copo de vinho, numa representação das tradições de convívio.
O azeite, elemento essencial nas casas das famílias antigas, desempenhava papéis diversos, desde iluminar as candeias até à alimentação e uso em mezinhas para curar dores e feridas. Anabela Silva, de 58 anos, participante na iniciativa e membro do rancho, recordou práticas como torrar uma fatia de pão com açúcar amarelo e um fio de azeite para acalmar as crianças, ou massajar a barriga dos bebés com azeite morno e uma folha de couve para aliviar cólicas. A apanha da azeitona prolongava-se durante vários meses desde madrugada e era acompanhada por cantorias dos ranchos.
Céu Silva, de 71 anos, também membro do rancho, partilhou memórias de velórios nocturnos a que ia em criança com a mãe, onde as candeias de azeite iluminavam os falecidos nas próprias casas, quando não havia casas mortuárias, e eram cobertos com o lençol do casamento. Ao relembrar os tempos de infância, durante a conversa com O MIRANTE, destacou a simplicidade das pessoas que viviam do trabalho no campo. As noites à luz da candeia e, mais tarde, com os candeeiros a petróleo, era quando as mulheres remendavam meias ou a roupa dos maridos e dos filhos depois da ceia. As crianças brincavam na rua e jogavam às escondidas, ao berlinde ou à macaca. Os fins-de-semana eram marcados por bailaricos e idas à missa. Céu Silva, que começou a trabalhar aos 13 anos numa alfaiataria, até casar, explicou que eram tempos muito felizes, apesar de serem duros, numa época em que as pessoas eram unidas e se ajudavam umas às outras.