Charros, obras por fazer e política dominaram Entrudo de Alhandra
Foliões despediram-se do Carnaval com o tradicional Enterro do Entrudo em Alhandra, num último momento de paródia antes da Quaresma. Num ambiente alegre foram lidas 12 páginas de testamento.
Os charros do ex-ministro João Galamba, os preços das rendas, a rivalidade com Vila Franca de Xira e as promessas políticas por cumprir na vila ribeirinha de Alhandra - como o impasse na requalificação do teatro Salvador Marques - dominaram o testamento do Santo Entrudo que foi lido na Quarta-Feira de Cinzas em Alhandra. Os foliões do principal carnaval do concelho de Vila Franca de Xira choraram a morte do santo num último momento de paródia antes da quaresma e, como habitualmente, depois de um velório na Sociedade Euterpe Alhandrense o cortejo percorreu as ruas até à pira onde o Entrudo foi queimado, junto ao rio, debaixo de um céu pintado por fogo-de-artifício e onde o testamento foi lido. No concelho de Vila Franca de Xira também o vizinho Grémio Dramático Povoense, da Póvoa de Santa Iria, realizou o seu tradicional enterro do chouriço, também com leitura de versos, mas não chegaram à redacção de O MIRANTE a tempo do fecho desta edição. Aqui ficam alguns dos versos mais animados do testamento do Entrudo em Alhandra:
Com tanta reviravolta
Em tamanho anda, desanda
E foi tal o trinta e um
Que já nem me lembro do Galamba
Também ele não se lembra
Sequer onde pôs o carro
Tal era a broa que levava
Depois do último charro
E assim fomos vivendo
Com o poder de mão em mão
Tudo aos gritos, Deus nos acuda
Mais a crise da habitação
Ora, pois, a coisa é dura
Um inferno que não tem fim
O preço da renda já vale
Um pulmão e mais um rim
No mundo lá estoiram as guerras
Raios parta maldita sorte
Se a moda por aqui pega
Ainda tomamos Alhandra Norte
Era a sorte que lhes saía
Só por estarem aqui ao lado
Era tudo São João
E sem Colete Encarnado
Mas agora que falei
Desta terra tão amada
Que se passou cá n’Alhandra
Que mereça ser contada?
Mudou tudo? Está na mesma?
Pois então que hei-de eu dizer
A obra do teatro
Continua por fazer
Mas vejamos cá na terra
A quem enviar a factura
Dos contentores todos partidos
Até quando a coisa dura
Não compreendo esta malta
Se nos querem ver feliz
Metam lá um cabo de fibra
E a net na Calhandriz
Aqui ficava por dias
Por aqui rimando adiante
Lembrando que está por fazer
O Mercado do Levante
E a Euterpe, velha senhora
Bem se chora ao presidente
O Zacarias pica o Fernando
O outro azeda e não mente
Mas também ó Zacarias
O que foi o desatino
De achares que o outro em Alverca
Embalava o Deus menino
E do namoro que aí andava
Do presidente da junta
De mão dada com o PS
Que tamanha marabunta
Pelos vistos bem se entenderam
Lá continua Rei e Senhor
Pelo andar da carruagem
Ainda vai a vereador
Sim que a terra é profícua
Em gerar seus candidatos
A Cláudia tentou a junta
E agora vai para os deputados
Na vila há coisa nova
É assim que as coisas são
Finalmente deu à luz
O nosso espaço cidadão
E agora quando lá vais
Para pedir um atestado
A seca levas na mesma
Só que agora esperas sentado
Pois se doente estiver
E a garganta me doer
Pode saltar uma hemorróida
Que ninguém me há de valer.