Cultura | 24-03-2024 07:00

“A mulher que cozinhou o marido” assinala 2ª vida do Centro Dramático Bernardo Santareno

“A mulher que cozinhou o marido” assinala 2ª vida do Centro Dramático Bernardo Santareno
Centro Dramático Bernardo Santareno comemora 34 anos a 27 de Março, Dia Mundial do Teatro

O Centro Dramático Bernardo Santareno celebra 34 anos a 27 de Março, Dia Mundial do Teatro.

Teve o seu auge quando conseguiu ser uma companhia de teatro profissional nos anos 90, que gostava de reactivar. Durante alguns anos o grupo esteve quase inactivo devido à falta de apoios, mas entretanto ressurgiu. Dinamiza um Curso de Iniciação Teatral para jovens há uma década, que tem sido um sucesso, e tem em cena a peça “A mulher que cozinhou o marido” com boa adesão do público.

O Centro Dramático Bernardo Santareno (CDBS) foi uma companhia de teatro profissional na década de 90 do século passado e gostava que voltasse a ser viável uma companhia de teatro profissional em Santarém, com actores de outros grupos de teatro e com apoios públicos. A ideia é de José Manuel Rodrigues, um dos fundadores do CDBS e encenador do grupo, em conversa com O MIRANTE a propósito do Dia Mundial do Teatro que se assinala a 27 de Março. É nessa data que o CDBS assinala 34 anos de existência.
O grupo, que tem cerca de uma dezena de elementos, tem em cena a peça “A Mulher que cozinhou o marido”, que vai subir ao palco do cine-teatro de Almeirim, na sexta-feira, 23 de Março, depois de ter esgotado salas em Alpiarça e no Cartaxo. Também estão a ensaiar uma peça, que pretendem estrear em Junho ou Setembro, que conta a história de três amigos. Art é o nome dessa peça, da autoria da francesa Yasmin Reza.
José Manuel Rodrigues conta que em 1989 um grupo de gente ligada ao teatro em Santarém juntou-se para criar um grupo que deu origem ao Centro Dramático Bernardo Santareno. O objectivo era promover e fazer teatro sempre com preocupação na formação de actores. Zé Pedro, Gomes Vidal, Carlos Oliveira (Chona), Paula Nunes e José Manuel Rodrigues estavam entre o grupo de fundadores. Em 1995 conseguiram apoios do Ministério da Cultura e realizaram esse sonho, que durou até 2007. Eram a companhia residente do Teatro Sá da Bandeira, em Santarém. Deixaram esse espaço municipal quando foi para obras e desde então têm andado com a casa às costas. A sede do grupo é no chamado edifício do associativismo. No entanto, como não há espaço nesse local a Câmara de Santarém cedeu uma sala na Incubadora de Artes, onde conseguem ensaiar com condições.
O CDBS gostava de voltar a ser um grupo profissional de teatro e aponta críticas ao ex-presidente da Câmara de Santarém, Francisco Moita Flores, que na sua óptica afectou o tecido associativo do concelho. “A política cultural que Moita Flores seguiu prejudicou quase todo o movimento associativo em Santarém porque, segundo o que o autarca nos disse na altura, não havia dinheiro para pagar às colectividades, o que impediu de cumpriu os protocolos. O município ficou-nos a dever dinheiro. Realçamos que o executivo de Ricardo Gonçalves reverteu esta situação há uns anos e pagou tudo o que devia, a nós e a todas as associações. Foi isso que permitiu que ressuscitássemos das dificuldades em que estávamos”, refere o presidente da direcção.

Curso de Iniciação Teatral ensina jovens e é um sucesso
Paula Nunes é actriz e formadora do projecto CIT – Curso de Iniciação Teatral – que existe há uma década e funciona durante o ano lectivo para jovens entre os 10 e os 17 anos. Todos os anos há cerca de 15 jovens que sonham seguir uma carreira artística. Todos os anos apresentam uma peça de teatro. Este ano estão a ensaiar “As memórias do Estado Novo”, que reúne vários textos de Bernardo Santareno que o encenador adaptou de uma das últimas obras escritas do dramaturgo escalabitano.
A coordenadora do projecto explica a O MIRANTE que não têm dificuldade em captar jovens. “Temos muitas pessoas que vão ver os espectáculos que fazemos no final do ano lectivo e são elas próprias que divulgam”, diz. Muitos destes jovens seguem o caminho do teatro. Todas as quartas-feiras, durante duas horas, Paula Nunes trabalha com os jovens. “O primeiro passo é cativá-los, fazê-los chegar até mim através de jogos e exercícios em que se divertem e, ao mesmo tempo, expõem emoções e fragilidades. Depois é conseguir retirar o melhor que têm dentro deles”, refere Paula Nunes.

“Todos os sacrifícios valem a pena quando estamos
em cima do palco”

José Manuel Rodrigues, 66 anos, e Paula Nunes, 61 anos, são dos principais rostos do CDBS desde a sua fundação. O presidente da direcção e encenador é professor de História e deu os primeiros passos no teatro em Vale de Figueira, concelho de Santarém, onde viveu até aos 18 anos. O seu pai era ensaiador no grupo de teatro da colectividade da aldeia e José Rodrigues participou na peça “Uma noite de Natal”, quando tinha dez anos, e gostou da sensação de estar em cima do palco. Quando foi estudar para Santarém desligou-se um pouco mas depois do 25 de Abril começou a sugerir ao pai outras peças que poderiam apresentar.
Licenciou-se em História na Universidade Clássica de Lisboa e também no Conservatório de Teatro de Lisboa, que conciliava ainda com um trabalho. Chegou uma altura em que teve que fazer uma opção e escolheu o ensino. É professor há mais de 40 anos na Escola Secundária do Cartaxo e nos últimos anos dá aulas de teatro na Universidade Sénior local. Também dá aulas de teatro no Agrupamento de Escolas Marcelino Mesquita. Paula Nunes estreou-se no Grupo Académico de Danças Ribatejanas aos cinco anos mas não gostou e foi para o ballet com uma bolsa de estudo da Gulbenkian que pagava as aulas no Círculo Cultural Scalabitano. Estudou ballet durante uma década tendo feito o Conservatório de Dança durante dois anos e cursos na Companhia Nacional de Bailado, além de ter dado aulas de ballet.
Aos dez anos participou em duas peças do Veto Teatro Oficina mas detestou e nunca mais ligou ao teatro. Aos 27 anos foi desafiada para ir para o Centro Dramático Bernardo Santareno. Apaixonou-se e nunca mais desligou do teatro. “Não sei explicar a sensação de estar em palco. Todo o processo de criação e estar em cima do palco é um desafio. É uma luta contra os nossos medos e inseguranças. Em cima do palco esqueço-me de tudo e sinto-me livre. Todos os sacrifícios valem a pena quando estamos em cima do palco”, conclui Paula Nunes.

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