Cultura | 04-04-2024 17:48

Ainda há quem chame “cobarde e maricas” a quem fugiu à Guerra Colonial

Ainda há quem chame “cobarde e maricas” a quem fugiu à Guerra Colonial

Carlos Neves e Fernando Cardoso contaram a sua história numa conversa à porta fechada sobre a Guerra Colonial Portuguesa destinada a alunos da Escola Básica e Secundária Dom Martinho Vaz de Castelo Branco na Póvoa de Santa Iria.

Se fugir ao fascismo, à fome, analfabetismo, tortura, falta de liberdade, prisão, exploração e guerra faz de alguém traidor da Pátria então esses são bons motivos para o ser, falou-se num colóquio destinado a alunos sobre a Guerra Colonial realizada na Escola Básica e Secundária Dom Martinho Vaz de Castelo Branco da Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira.

Os alunos ouviram dois rostos - Carlos Neves e Fernando Cardoso - dar o seu testemunho sobre como decidiram sair do Portugal da ditadura por recusarem fazer uma guerra de que discordavam e que aterrorizava a sua juventude. “Ainda hoje os desertores são considerados traidores à pátria. Eu assumo a minha condição de traidor à pátria, traidor à pátria do fascismo, da fome, do analfabetismo”, disse Fernando Cardoso, citado pela Lusa. Já Carlos Neves foi mais longe recordando que o Governo os acusava de serem “medricas, cobardes e traidores” e que, 50 anos depois do 25 de Abril de 1974, essa narrativa se mantém válida para alguns. “Hoje este problema ainda não está resolvido. Para muita gente conservadora continuamos a ser traidores à pátria, à pátria deles”, afirmou. Para Carlos Neves, os milhares de jovens que disseram não à guerra colonial foram uma "tropa sem farda e sem armas" cuja revolta também ajudou à revolução. “Se um contigente em África era de 70 mil a 80 mil soldados, os 200 mil jovens desertores, refractários e faltosos chegavam para fazer mais dois contingentes de soldados para as frentes de batalha da guerra colonial. Estes milhares de jovens não podem ser descartados, ignorados, têm o seu lugar na luta contra o fascismo e o colonialismo, contribuíram para a revolta dos oficiais de carreira, saturados pelo excesso de comissões e por falta de efectivos”, testemunhou. Na escola da Póvoa de Santa Iria Carlos e Fernando estiveram duas horas a responder a perguntas de alunos do 8º ao 11º ano. Foram questionados sobre a vida dos jovens na ditadura, quem os ajudou a fugir, quem os recebeu, como contactavam as famílias ou o que os marcou nos países de exílio.

* Notícia desenvolvida na edição semanal de O MIRANTE

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