Cultura | 05-04-2024 13:24

Jaime Fernandes passou o 25 de Abril preso na cadeia de Caxias

Da esquerda para a direita: José Oliveira, Jaime Fernandes, Madeira Lopes e Carlos Cruz
Da esquerda para a direita: José Oliveira, Jaime Fernandes, Madeira Lopes e Carlos Cruz

Presos políticos em Caxias só souberam da revolução de 25 de Abril de 1974 quando o antigo regime já estava deposto. Jaime Fernandes, de Santarém, foi um dos muitos que passou essa data marcante na prisão por desenvolver actividades contra a ditadura. O livro “Cadeia de Caxias – a repressão fascista e a luta pela liberdade” foi apresentado em Santarém.

Jaime Fernandes, natural do concelho de Santarém, foi um dos mais de dez mil opositores à ditadura do Estado Novo que estiveram encarcerados na prisão de Caxias e o primeiro preso político a ser autorizado a sair para o pátio exterior da tristemente célebre cadeia, um dia depois de consumado o golpe militar de 25 de Abril de 1974. Um momento de alegria esfuziante que está documentado com imagem e texto na página 285 do livro “Cadeia de Caxias – a repressão fascista e a luta pela liberdade”, editado pela União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) e apresentado na tarde de 4 de Abril na Sala de Leitura Bernardo Santareno, em Santarém.

Os presos políticos de Caxias só foram libertados na madrugada de 27 de Abril, devido a divergências no seio do Movimento das Forças Armadas (MFA). Uma ala afecta ao general António de Spínola defendia que os presos por delitos de sangue não deviam ser libertados, mas os presos fizeram finca-pé reivindicando que ou saíam todos ou não saía ninguém. Esta tese acabou por vingar e quase dois depois da queda do regime a festa fez-se à porta da prisão, onde muita gente aguardava pela libertação dos presos.

Jaime Fernandes contou para uma escassa plateia que, no dia 25 de Abril, já o regime tinha caído e os presos ainda não sabiam de nada. Só pelas dez da noite uma mensagem codificada, com recurso a toques de buzina de um automóvel, anunciou que tinha havido um golpe de Estado. Mas sem clarificar de que tendência, o que deixou os presos num sobressalto: tanto podia ser do MFA como da extrema-direita. “Passámos uma noite terrível, angustiados”, recordou o antigo preso político, que na quinta-feira, 11 de Abril, apresenta na Sociedade Recreativa Operária de Santarém o livro “Em Abril águas mil” sobre a resistência à ditadura.

Na manhã de 26 de Abril, uma coluna de paraquedistas ocupou a cadeia de Caxias e foi através dos militares que ficaram a saber que não havia razão para temores e que em princípio iriam ser libertados em breve. Mais tarde surgiu um grupo de fuzileiros que abriu as celas e deu autorização para saírem da ala prisional para o pátio exterior, onde já se encontravam muitos repórteres. “Foi uma alegria enorme”, recorda. Depois ainda tiveram ordem para recolher às celas e finalmente, depois de conversas entre os militares revoltosos, lá conseguiram que saíssem todos. “Estava muita gente cá fora à espera e aí é que foi a festa”, conta. As imagens dessa madrugada junto à cadeia de Caxias correram mundo e Jaime Fernandes era um dos protagonistas. Estava ligado à CDE, força política que depois da revolução passaria a MDP/CDE.

A revolução de 25 de Abril triunfou porque o povo não o deixou morrer. Saiu à rua nesse dia e juntou-se aos militares, dando-lhes um apoio e alento inequívocos, sublinhou Carlos Cruz, que também passou pela cadeia de Caxias como preso político mas não estava encarcerado no dia da revolução. José Oliveira, da URAP, referiu que o 25 de Abril não caiu do céu e foi uma luta de muitos anos cuja memória deve ser preservada. É esse o objectivo do livro agora lançado, e de anteriores publicações da URAP, “para que a repressão da ditadura e a luta anti-fascista não caiam no esquecimento”. A apresentação do livro integrou o programa de comemorações do 25 de Abril em Santarém, tendo contado com uma breve introdução por parte de João Madeira Lopes, da associação que co-organiza om programa de celebrações em Santarém.

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