Encontro de canoagem adaptada na Praia Doce é uma festa com sabor a liberdade
Utentes de várias instituições de apoio à deficiência do distrito de Santarém pegaram nos remos e passaram uma manhã diferente na Praia Doce, no concelho de Salvaterra de Magos. A organização foi do Centro de Recuperação Infantil de Benavente e o convívio estendeu-se à hora de almoço.
O Centro de Recuperação Infantil de Benavente (CRIB) organizou a sexta edição do Encontro de Canoagem Adaptada no dia 16 de Maio, na Praia Doce, no concelho de Salvaterra de Magos. Dentro de água estiveram utentes de várias instituições de apoio à deficiência do distrito de Santarém, auxiliados por técnicos de desporto, alunos de desporto da Escola Secundária de Benavente e jovens praticantes de canoagem do Clube Náutico de Salvaterra de Magos. Mais do que os benefícios ao nível da actividade física, equilíbrio e contacto com a natureza, foi a experiência de sair, conviver e experimentar, em alguns casos, a modalidade pela primeira vez.
Inês Filipa, 24 anos, do CRIB, participou pela segunda vez na iniciativa e diz que a sensação em cima da canoa foi de liberdade. Dedica duas a três horas semanais ao desporto, entre andebol, atletismo e natação e o seu favorito é o futebol. Raul Miguel, 37 anos, do Centro de Integração e Reabilitação de Tomar (CIRE), foi dos que passou mais tempo dentro de água pela “sensação de bem-estar e conforto”. É comum fazer canoagem e pratica ainda natação, padel, corta-mato e “muito mais”.
Diogo Filipe, 14 anos, do Projecto Natinclui do Agrupamento de Escolas de Marinhais, participou pela segunda vez e foi dos primeiros a entrar na água. Após ter navegado pelas águas calmas do Tejo, passou a manhã a ajudar a colocar as canoas em terra e a conversar com quem se ia cruzando. Maria José Pratas, professora de educação especial no agrupamento, explica que o Projecto Natinclui, em parceria com o município de Salvaterra de Magos, visa complementar as necessidades dos alunos, que essencialmente se prendem com um atraso na aprendizagem. Diogo Filipe é dos mais velhos e à quinta-feira é o seu dia de praticar desporto, seja canoagem, natação, bicicleta ou ir à pesca.
A iniciativa terminou com um almoço convívio e entrega de uma lembrança a cada uma das instituições, desenvolvida pelos utentes do CRIB. Na entrega das lembranças estiveram a presidente da direcção do CRIB e vereadora da Câmara de Benavente, Catarina Vale, o vereador do desporto da Câmara de Salvaterra, Paulo Cação, e o presidente da Federação Portuguesa de Canoagem, Vitor Félix, que entregou aos atletas de canoagem do Clube Náutico de Salvaterra de Magos e ao treinador Raphael Gaspar uma placa que reconhece o trabalho do clube.
Conquistas no desporto adaptado
David Henriques, 46 anos, professor de Educação Física há mais de 20 anos no Centro João Paulo II, em Fátima, explica que o desporto adaptado, e inclusive a vertente competitiva, é já uma realidade nas instituições de apoio à deficiência, “mas como não é muito divulgado pensa-se que não está implementado”. Quando entrou para o Centro João Paulo II tinha acabado de tirar o curso de professor e conta que tem sido gratificante proporcionar novas experiências aos utentes, muitos deles com deficiência profunda e em cadeira-de-rodas. “Alguns vão à escola, mas quando saem é mais para consultas médicas e este tipo de actividades”, diz. Quanto ao retorno da iniciativa, refere que “basta ver o sorriso na cara deles para ficarmos contentes e sabermos que é uma actividade de que gostam e lhes faz bem”.
O Centro João Paulo II tem as modalidades boccia (competição), em que a residente Ana Sofia Costa é campeã do mundo, tricicleta (competição) e slalom, uma corrida de obstáculos em cadeira-de-rodas de que David Henriques afirma não haver competição em Portugal. “Na nossa instituição não nos preocupa a vertente competitiva, preocupa-nos mais que através do desporto se sintam incluídos na sociedade, tenham uma prática desportiva e se divirtam”, garante o técnico, acrescentando que só não apostam em mais modalidades porque é o único técnico de desporto e “faltam meios humanos” numa instituição com 192 utentes.
CRIAL também aposta no desporto
Também no Centro de Reabilitação e Integração de Almeirim (CRIAL) o desporto é uma realidade, como a boccia, onde a atleta Lúcia Silva alcançou, no ano passado, o 4º lugar nacional na categoria BC3, ou hóquei em campo, em que Nicole Pinho, agora utente da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão com Deficiência Mental (APPACDM) de Santarém, foi à Alemanha disputar o Europeu. Há ainda outras actividades recreativas em que participam, como foi o caso dos V Jogos Anddi em Tavira, onde obtiveram três medalhas de campeões nacionais em judo e subiram ao pódio em terceiro lugar em corfebol de praia.
Nuno Alves, de 46 anos, é professor de educação física há 18 anos no CRIAL e explica que num universo de cerca de 90 utentes mais de metade pratica desporto, um aspecto importante e valorizado na instituição, que na impossibilidade de expandir o seu ginásio por se encontrar no meio da cidade, está a utilizar as piscinas municipais e o pavilhão municipal.