Cultura | 29-05-2024 21:00

A arte de Harley Costa dá outro colorido ao espaço público do Cartaxo

A arte de Harley Costa dá outro colorido ao espaço público do Cartaxo
Harley Costa começou a desenhar os seus desenhos animados favoritos e cedo evoluiu para a pintura de murais

Harley Costa, natural do Brasil, é autor de vários murais no Cartaxo que representam bem o concelho que o acolheu em 2022. Inteirado da cultura local, tem vindo a pintar elementos como o cartaxinho e o cacho de uvas, não fosse o Cartaxo considerado cidade do vinho.

Harley Costa, 29 anos, é natural de Castanhal, estado do Pará, zona norte do Brasil, e está com a sua arte a transformar o Cartaxo. Os murais na Praça 15 de Dezembro, Parque de Santa Eulália e Quinta das Pratas são da sua autoria e reproduzem elementos como o cartaxinho - pássaro que segundo reza a história local deu nome ao Cartaxo -, o vinho e a vindima. Em Março pintou o rosto de Marcelino Mesquita, poeta e dramaturgo nascido no Cartaxo, numa das paredes da Biblioteca Municipal Marcelino Mesquita. Vive da arte há um ano. Antes trabalhou no apoio ao cliente de uma empresa de alojamento local e em restaurantes.
O jovem brasileiro emigrou para Portugal aos 15 anos para se reencontrar com a mãe, que trabalha há vários anos num café em Sintra. Harley Costa frequentou o curso de artes visuais na Escola Secundária de Santa Maria, na Portela de Sintra, e conseguiu expandir os seus horizontes, experimentando materiais como acrílico, carvão, tinta da China, guache e aguarela. No 12º ano conheceu a actual esposa com quem tem uma filha de nove meses e a família está a viver em Vale da Pinta, freguesia vizinha ao Cartaxo.
No Brasil encontrava sempre maneira de desenhar e chamava amigos para ver quem desenhava melhor, admitindo que poderá ter sido um escape. “Graças ao amor, atenção e carinho dos meus avós pude minimizar a dor de ter a minha mãe longe”, acrescenta, revelando saudades do Brasil, onde está a maior parte da família. Harley Costa foi influenciado por um tio, pintor, que se baseava na natureza, costumes indígenas e explorava o abstracionismo.
O seu início foi com o lápis a desenhar os seus desenhos animados preferidos, como o Dragon Ball, Yu-Gi-Oh! e Digimon, e hoje ainda pega no lápis para desenhar retratos por encomenda. Em 2014 experimentou o spray e realizou as primeiras tags em sítios abandonados na zona de Sintra. “Há cada vez mais writers a expor o seu trabalho em galerias. A mentalidade tem evoluído e já há uma perspectiva por parte de quem passa na rua, digamos, bela”. Apesar de concordar que haja espaços autorizados para grafitar, considera que “sempre vai existir a parte clandestina em comboios e outras superfícies, porque faz parte de quem quer experimentar sentir a adrenalina. E tem de existir porque o graffiti começou aí”.
Harley Costa diz estar mais focado no muralismo, na natureza e em transmitir sentimentos como a nostalgia, melancolia e felicidade. Na lateral do muro do Parque de Santa Eulália deixou gravado o olhar da esposa em sua homenagem, também ela artista. O muro combina um pouco de Valada do Ribatejo, freguesia do concelho do Cartaxo conhecida pela zona ribeirinha, flores coloridas, a vinha e um cacho de uvas e, claro, o cartaxinho. “Acho fascinante a ligação entre o pássaro e o nome da terra”, refere.
Afirma que tenta estar “o mais próximo possível da cultura do Cartaxo” e que se sentiu bem recebido em Portugal. “Talvez me tenha sentido discriminado algumas vezes pelo sotaque, mas não me tornei uma pessoa rebelde ou alguém que fala mal da cultura portuguesa”. Num futuro, o artista espera ter a oportunidade de palestrar nas escolas e colocar as crianças com as mãos nos materiais a explorarem a sua veia artística. “É a experimentar que vamos descobrir quem somos e o que queremos ser”, conclui.

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