Cultura | 02-06-2024 18:00

José Quaresma regressou à casa de partida e mostra a sua arte em Santarém

José Quaresma regressou à casa de partida e mostra a sua arte em Santarém
José Quaresma tem uma exposição de pintura na Casa-Museu Anselmo Braamcamp Freire, em Santarém, até 14 de Junho

O jovem que aos 18 anos saiu de Santarém em busca de outros voos afirmou-se como artista e como académico. “Meditando ao Luar com Braamcamp Freire” é o título da exposição de José Quaresma em exibição na Casa-Museu Anselmo Braamcamp Freire, espaço que tantas vezes visitou na sua mocidade.

O artista plástico José Quaresma regressou à emblemática Casa-Museu Anselmo Braamcamp Freire, em Santarém, para ser protagonista de uma exposição de quadros de sua autoria, intitulada “Meditando ao Luar com Braamcamp Freire”. Durante a sua juventude, o hoje professor da Faculdade de Belas Artes de Lisboa era visita assídua desse palacete para apreciar as obras de arte aí existentes, quando era aprendiz do mestre Américo Marinho. Nesse espaço recheado de obras de arte relevantes, onde também está instalada a biblioteca municipal, o jovem oriundo de uma família humilde e numerosa aprendeu e consolidou a paixão pela arte, um amor para toda a vida.
Com os minutos contados, José Quaresmo dispensou algum tempo a O MIRANTE para responder a meia dúzia de questões no dia da inauguração, 17 de Maio. O artista diz que o seu interesse pela arte foi “meramente casual”. Experimentou fazer alguns trabalhos, tinha “um jeito relativo para o desenho”, mas uma vez em contacto com o “grande mestre” Américo Marinho, como que se descobriu e redimensionou. “No início houve o acompanhamento de uma pessoa muito competente, que por sorte tinha conhecido grandes artistas à escala nacional, como Columbano, e acabei indirectamente por receber muitas lições do Columbano através do Marinho. Trabalhei com o Marinho seis ou sete anos consecutivos, intensivamente, e isso abriu-me horizontes”, reconhece. Afirma que apesar de não ter antecedentes familiares ligados às artes, recebeu sempre apoio e conforto da família para trilhar esse caminho.
Aos 18 anos decidiu rumar a Lisboa, em busca de outros voos. Mas deixa a ressalva: “As asas nasceram cá em Santarém, cá se consolidaram e ir para outros sítios foi só uma outra fase”. De Lisboa foi para a Dinamarca e depois regressou a Santarém para cumprir o serviço militar. Posteriormente, entrou na Escola de Belas Artes e trilhou um percurso académico que o levou até ao doutoramento e pós-doutoramento. Essa carreira académica foi a rede para sustentar a sua vida. “Para viver só da arte, ou teria muita sorte para fazer uma peça ou duas por ano e delas poder obter o devido conforto material, digamos assim, ou então teria de enveredar por um caminho em que fazia muitas coisas para agradar, como encomendas, etc… Eu não quis ir pelo segundo caminho”, confessa, referindo que é “tão intensamente professor como artista plástico”. Quando lhe perguntamos quanto pode custar uma obra sua diz que não fala de valores.

“Tenho um passado vertiginosamente próximo do mundo dos touros”
José Quaresma mantém uma ligação estreita à terra natal, embora não regresse com a regularidade que desejaria - “mas no último mês e meio vim várias vezes por causa do projecto do Salgueiro Maia e agora por causa desta exposição individual”. Recusa pronunciar-se sobre o panorama cultural em Santarém, porque diz não acompanhar o que se passa na cidade, e também rejeita comentar os apoios que a Câmara de Santarém dá para actividades taurinas: “Não posso falar sobre isso. Não sou aficionado, mas tenho um passado vertiginosamente próximo do mundo dos touros. Não posso desdizer esse tempo em que estive muito ligado desde petiz. Não vou agora dizer que sou contra, porque isso seria uma facilidade da minha parte”.
As tradições locais ainda estão bem enraizadas e com mais uma Feira do Ribatejo à porta José Quaresma admite que o evento lhe diz muito: “No passado ia todos os anos. Só não venho mais porque não posso. Costumo até dizer que cresci com a Feira do Ribatejo”. Admite que preferia a feira no centro da cidade, pois tinha outra inserção na malha urbana, outro envolvimento, mas reconhece que hoje “não é prático ter a feira cá em cima”.

Admiração por Salgueiro Maia
José Quaresma é o coordenador da exposição os Caminhos de Salgueiro Maia, que consiste em sete exposições nacionais e internacionais, em Lisboa, Castelo de Vide, Santarém, Paris, Bolonha, Arraiolos e Lodz, nas quais participaram 53 artistas/estudantes e artistas/docentes da Faculdade de Belas Artes de Lisboa, da Academia de Belas Artes de Bolonha, da Academia de Belas-Artes de Lodz e de outros artistas formados no Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo (Brasil).
O artista chegou a conhecer Fernando Salgueiro Maia durante a sua juventude em Santarém. “Ele acarinhou-me muito quando eu era pequeno, com 15 anos, foi muito meu amigo e fez muitas mediações para que eu pudesse conquistar muitas coisas. É o que posso dizer publicamente. O resto são histórias privadas”, revela José Quaresma sobre o capitão de Abril e figura icónica da Revolução dos Cravos.

O artista que apostou na Filosofia da Arte

José Quaresma nasceu em Santarém no dia 12 de Março de 1965. Vive em Lisboa com a companheira e os dois filhos. Licenciou-se em Pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade de Lisboa em 1996. É mestre e doutorado em Filosofia da Arte. É professor no Departamento de Pintura da escola onde se formou. A partir de 2008 editou e coeditou vários livros sobre pintura e organizou diversas palestras internacionais sobre pesquisa em artes, arte pública e gravura. Desde 1982 que participa em exposições individuais e colectivas, em Portugal, Dinamarca, França, Espanha, Alemanha, Luxemburgo ou Holanda.

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