Cultura | 05-06-2024 07:00

Xico das Várzeas: o guardador de gado bravo e das tradições ribatejanas

Xico das Várzeas: o guardador de gado bravo e das tradições ribatejanas
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
O campino Francisco da Silva, com a mulher Ilda e o filho Marco da Silva, e o campino David Reis que recebeu o pampilho de honra na Feira de Maio

Francisco da Silva fez-se campino ao mesmo tempo que aprendia os números e as letras do alfabeto na herdade que foi simultaneamente posto de trabalho e de ensino. Aos 66 anos, o guardador de vacas que tem dedicado a sua vida à promoção da festa brava foi o escolhido para ser homenageado na Feira de Maio, em Azambuja.

A herdade Vacas Carvalho, a que lhe deu o primeiro emprego como guardador de vacas bravas, foi também o lugar onde Francisco Manuel da Silva teve oportunidade de iniciar o seu percurso escolar. Acabou por escapar à tropa porque “os militares não o quiseram” por lá e foi o campo que o voltou a receber. Fez-se campino, ingressou na casa Infante da Câmara aos 22 anos e hoje, aos 66, por lá continua. Este ano, o Xico das Várzeas, como é conhecido entre os seus pares, sem que disso estivesse à espera, foi o campino homenageado na bicentenária Feira de Maio, a mais castiça das festas do Ribatejo e uma das que faz parte do seu calendário e das memórias de uma vida dedicada às tradições ribatejanas.
Depois de abrir o desfile que levou campinos, cavaleiros e amazonas até à Praça do Município ao som da Banda do Centro Cultural Azambujense, Francisco da Silva posicionou-se com a sua montada, ao centro, para receber a homenagem que simbolicamente se estende aos seus pares, figuras maiores da festa brava e do Ribatejo. Na praça fez-se silêncio para se ouvir relatos da vida de um homem que perdeu conta às vezes que participou na Feira de Maio, em provas de condução de jogos cabrestos, nas quais demonstrava a sua perícia perante o olhar atento do júri e da plateia aficionada.
Natural de Montemor, distrito de Évora, o campino trajado a rigor recebeu os cumprimentos dos seus colegas de profissão e dos cavaleiros e, no final, os da sua esposa, Ilda da Silva, e do filho, Marco Silva. Na mesma manhã, a de domingo, 26 de Maio, o campino David Reis recebeu o pampilho de honra gravado com o nome de Casimiro Rodrigues Borda d’Água.

“Um homem de muitos amigos”
A Poisada do Campino, associação de Azambuja, lembrou Francisco da Silva como “um homem de muitos amigos, de uma educação exemplar” e um “exemplo de dedicação e colaboração” com a festa brava pela qual nutre grande paixão. Por sua vez, o presidente da Câmara de Azambuja, Silvino Lúcio, destacou a “justíssima homenagem à figura do campino, que é um dos símbolos maiores da região”, responsável pela criação do toiro bravo “tão enraizada no Ribatejo”.
Dirigindo-se ao homenageado, o autarca agradeceu-lhe “pela sua amizade por Azambuja, e pela sua presença e colaboração ao longo dos anos” na Feira de Maio. “Esta homenagem ao campino é simbolicamente uma homenagem a todos os campinos, aos mais experientes, mas também aos mais jovens que garantem o futuro da actividade e continuidade da tradição”, concluiu Silvino Lúcio.

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