Jovens de Pontével e Cartaxo trabalham pela descentralização da cultura
Nove jovens adultos ficaram responsáveis, pelo segundo ano consecutivo, pela programação da Feira de Artesanato Artével. A recém-formada associação Colectivo Ponte, de Pontével, tem dinamizado diversas actividades e ajudado a atrair novos públicos ao concelho do Cartaxo.
Em Pontével, concelho do Cartaxo, há uma associação de jovens que quer descentralizar a cultura, ligar a população e chamar quem é de fora a conhecer Pontével. O Colectivo Ponte, anteriormente conhecido como Colectivo Fabrica, juntou-se este mês à junta de freguesia e fez com que um evento com três décadas – a Feira de Artesanato Artével – inovasse pela segunda vez ao nível da programação, ao mesmo tempo que continua a valorizar as associações, grupos locais e o artesanato ao vivo. Os jovens têm organizado passeios botânicos e micológicos e com a verba angariada na tasquinha pretendem organizar outros eventos culturais e um passeio pela vila guiado por um historiador local.
O grupo é composto por nove jovens adultos, com idades entre os 20 e os 40 anos, essencialmente de Pontével, mas também do Cartaxo. O presidente é Paulo Antunes, 37 anos, natural de Pontével, filho único, sem filhos e a viver em Lisboa. Trabalha como técnico superior no Departamento de Ciências da Comunicação/Laboratório de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, dando apoio técnico e formativo às aulas e aos alunos. Em Março de 2023 criou o Colectivo Fabrica com amigos. Com a saída de alguns e a entrada de outros, assim como para efeitos de legalização da associação, optaram pelo nome “Colectivo Ponte”.
Saiu com 20 anos de Pontével para se licenciar em Estudos Artísticos pela Universidade do Algarve. Mais tarde especializou-se em cinema e fotografia com um mestrado na Universidade Nova, motivo pelo qual quiseram também promover uma mostra de documentários e curtas-metragens. A sede está associada à sua morada em Pontével e é lá que reúnem. Desde Janeiro que preparavam a Artével, que exigiu organizarem-se durante três dias por turnos, com a ajuda de amigos voluntários, para conseguirem manter a tasquinha aberta até às 03h00 da manhã. Paulo Antunes reconhece o potencial do evento no Largo do Rio da Fonte, onde ia a banhos na infância com amigos. Fazem parte do Colectivo Ponte: Paulo Miguel Antunes, Miguel Gonçalves, Micaela Morgado, Ana Costa, Matias Jarego, Ana Raquel Gomes, Catarina Pinto, Jorge Gonçalves e André Oliveira.
A artesã do grupo
Ana Costa, 29 anos, pertence ao Colectivo Ponte e aproveitou a Artével para levar os seus bordados com ideias retiradas da rede social Pinterest e de outros artistas de bordados, e ainda os trabalhos em ponto-cruz executados pela mãe. “É fugir da ideia tradicional de que os bordados são coisa de avó. É importante mantermos a tradição, mas queremos que as gerações futuras continuem a pegar neste evento”, afirma a jovem que já esteve a viver em Lisboa, mas que actualmente reside no Cartaxo e trabalha como gestora de redes sociais para uma agência de marketing na capital.
Conta que o artesanato surgiu com a pandemia e que os bordados em pano colocados em aros de bambu como uma peça decorativa foram o seu “yoga mental”. No ano passado expôs pela primeira vez num bar de amigos e a Artével foi o maior desafio, porque nunca tinha exposto durante três dias. Alguns colegas disponibilizaram-se para ficar na banca a vender os seus produtos para que pudesse divertir-se, o que demonstra a união do grupo. De Pontével tem memórias da casa da avó, de ir ao rio e das tradicionais festas que se realizam no mesmo espaço no primeiro fim-de-semana de Setembro.
A jovem recorda que a cidade do Cartaxo já foi reconhecida nacionalmente como “Las Vegas do Ribatejo” e que hoje “não há espaços nocturnos para os mais jovens”. Refere que é preciso ouvir mais os jovens e maior compreensão por parte dos moradores, relembrando a Horta da Fonte e ainda os festivais Tejo e Reverence em Valada. Ana Costa reforça que “se queremos que os jovens permaneçam temos de criar oportunidades”. E acrescenta: “Começamos a ver uma descentralização de pessoas. Pessoas que nunca estiveram no Cartaxo vão parar ao Cartaxo porque conseguem ter melhores condições de vida. Conseguem uma vivenda com o preço que comprariam um T1 ou T2 em Lisboa”. Ana Costa convida a população para as Cartaxo Sessions, de dois em dois meses no Centro Cultural do Cartaxo, com bandas alternativas nacionais e internacionais, considerando que, apesar de ser para um nicho de público, necessita de maior divulgação por parte do município.