Cultura | 24-07-2024 18:00

Curso de música em Abrantes privilegia o ensino em relação ao espectáculo

Curso de música em Abrantes privilegia o ensino em relação ao espectáculo
Mariana Esteves e Madalena Dias com o professor João Martins

Curso do Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes contou no último ano lectivo com 171 alunos dos vários ciclos de ensino e é um viveiro de jovens músicos.

O curso básico e secundário de música, do Agrupamento de Escolas nº 2 de Abrantes é um dos cursos mais procurados por alunos do concelho. O curso conta com 171 alunos, divididos entre 1º ciclo (28), 2º e 3º ciclos (111) e secundário (33). O coordenador do curso, João Martins, garante que o foco é o ensino e pedagogia, não priorizando o espectáculo e a performance artística. “Não podemos atropelar o ensino e ir a todos os espectáculos e actuações para que são convidados, só para aparecer na fotografia, temos de entender o que vai beneficiar o aluno” explica. Mesmo assim vão actuando em algumas iniciativas.
O curso de música foi criado em 2014 pelos professores Alcino Hermínio e José Horta. João Martins apenas assumiu a coordenação do curso o ano passado. “Tem sido um agradável desafio e uma aventura de aprendizagem diária com colegas, pais e alunos” diz o professor natural de Leiria que todos os dias se desloca para Abrantes para leccionar. Começou como professor de guitarra e orquestra e agradece o apoio da nova direcção.
Mariana Esteves iniciou o estudo de música aos oito anos no Sardoal, onde conheceu o professor João Martins, e começou a tocar violino. Estuda na Escola Dr. Manuel Fernandes desde o 5º ano onde aumentou o gosto pela música. Madalena Dias começou aos seis anos numa associação musical para aprender o básico da disciplina. Quando entrou para o curso quis mudar de instrumento e começou a tocar violoncelo. Para as duas colegas, a própria música funciona como escape. “Nas alturas que estamos sobrecarregadas com testes, nem para os instrumentos queremos olhar. Mas se pararmos para tocar meia hora, parece que tudo alivia e libertamos os pensamentos, como se nos revigorasse”, diz Madalena Dias com um sorriso.
João Martins acredita que Portugal é um país onde se faz boa música e se trabalha bem a nível académico. No entanto, o docente lamenta a falta de oportunidades e a incerteza do mercado profissional da música, opinião partilhada pelas alunas Madalena Dias e Mariana Esteves, que consideram o mercado muito competitivo. “Ou se é realmente bom naquilo que se faz, diariamente, ou somos apenas mais um número no mercado de trabalho porque a procura é muita e a oferta é pouca”, lamenta João Martins. Madalena Dias refere que o salário é também um factor negativo, pela incerteza de saber como é o mês seguinte. “Nem sempre sabemos se vamos ter actuações ou se vamos receber por elas, não podemos contar sempre com o mesmo salário”, diz Madalena Dias.
Por essa razão, ambas as alunas decidiram seguir outra formação académica na faculdade. Mariana Esteves vai seguir Psicologia e Madalena Dias, Direito, pela estabilidade que qualquer uma das carreiras profissionais lhes pode oferecer e que poderiam não encontrar na música. Com o final do ano lectivo, Mariana Esteves confessa já sentir saudades do ciclo que encerra este Verão. “Acho que vou estar na faculdade e ter saudades de me sentar com os meus colegas no auditório, ou pensar que gostava mesmo era de ir ter uma disciplina de música” admite. Acreditam que há características inerentes a um bom músico como a paciência e resiliência para continuar a treinar, mesmo quando as coisas não estão a sair à primeira.

Redes sociais podem prejudicar a percepção da música actual
João Martins, Mariana Esteves e Madalena Dias defendem que sempre existirá boa música, apesar de preferirem as músicas do anos 80 e 90. “As músicas da actualidade, são muito idênticas, como o funk e a electrónica, em que os ritmos e as tonalidades são semelhantes”, aponta Mariana Esteves. João Martins acredita que nem sempre as músicas mais divulgadas ou mais ouvidas são as melhores e que essa divulgação se deve à massificação e ao consumo rápido das redes sociais. “Tanto na rádio como nas redes sociais as músicas tocadas são sempre as mesmas e semelhantes entre si. Há demasiada informação nos meios digitais e primeiro que se encontre algo realmente bom tem de se passar muitas outras”, aponta João Martins.
É unânime que a procura dos jovens pela formação musical tem diminuído e Madalena Dias acredita que o consumo fácil da “música de massas” divulgada nas redes sociais é o que leva a sociedade a perder o interesse pelos detalhes e estudo da música. “É preciso aprender a gostar de música e quem nunca tenha aprendido não percebe, por exemplo, uma orquestra e perde-se a compreensão dos detalhes musicais”, diz.

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