Cultura | 04-08-2024 15:00

Flávia Germano Barra: a psicóloga que nasceu artista

Flávia Germano Barra: a psicóloga que nasceu artista
Flávia Germano Barra em frente a uma das suas obras expostas no seu atelier em Valada

O MIRANTE visitou o atelier de Flávia Germano Barra em Valada, concelho do Cartaxo, para assinalar o Dia do Artista. Formada em psicologia, deu asas à sua veia de artista e foi aprender pintura quando já tinha uma clínica aberta. Há quatro anos que contribui para uma educação estética da comunidade de Valada, terra que é fonte de inspiração.

Flávia Germano Barra nasceu em 1977 em Valada, vila do concelho do Cartaxo à beira-Tejo que a inspirou a ser artista plástica e poeta. Iniciou-se com a escrita. A escultura, o desenho e a pintura apareceram mais tarde. Com 18 anos saiu de Valada para estudar psicologia em Lisboa e ainda dá consultas na sua clínica em Carcavelos. O MIRANTE visitou o atelier da artista que levou recentemente 15 artistas à vila ribeirinha e nos revelou que está em marcha um projecto de residências artísticas em Valada. “Há uma altura em que dizemos: eu sou artista; mas a realidade é que nasci artista. Hoje sei disso”, diz. O Dia do Artista assinalou-se a 24 de Julho.
Em criança, Flávia tinha na leitura a companhia preferida, embora também tivesse a rotina de ir ao rio com os amigos, construir cabanas, inventar escavações arqueológicas, brincadeiras que não teria numa cidade e que considera terem sido importantes para desenvolver o seu imaginário. “A experiência da paisagem, a maneira como crianças e adultos se relacionam é determinante para a pessoa que sou como artista”, reconhece. Quando ouviu a mãe dizer que ia para a escola foi “um choque” e “só foi bom ir” quando descobriu que podia pintar. Tem uma irmã mais nova, Inês Pinheiro, que “teve a alegria de saber desde cedo o que queria” e é médica em Santarém.
Com sete anos, Flávia Germano Barra escrevia contos e fábulas porque sentia que o mundo não era só o que via à sua frente. Criava esculturas que ainda não chamava de esculturas. Uma combinação de materiais como madeiras que a própria cortava e colava com as ferramentas do pai e do tio. Seguiu psicologia por parecer um caminho “mais seguro” e depois de ter a própria clínica foi estudar pintura e filosofia. “A psicologia ajudou-me a ter um nível de escuta diferenciado. Hoje parece tudo bastante coerente”, refere, argumentando que não acha que um artista “tem de ter uma dose de loucura ou ser uma pessoa que sofre muito”, já que o que a move é a curiosidade.
A pandemia acelerou o processo de regressar a Valada, onde era conhecida pelo seu percurso na psicologia. “Para estas pessoas eu era psicóloga. Ter um atelier na praça central, onde trabalho, foi um desafio para eles e para mim”, revela, explicando que o motivo de ter saído da capital foi a cidade se ter tornado “num aglomerado de acontecimentos que temos de cumprir”. Há quatro anos que contribui para uma educação estética da comunidade com o atelier aberto ao público, tendo reduzido a actividade como psicóloga. Há sempre quem queira entrar para um café e acabe por comentar as obras, quando não trabalha no exterior. É o espanto e a aproximação aos outros que procura. Tem trabalhado mais no desenho e usa carvão de madeiras que vai buscar ao rio na maré baixa, contando com a ajuda da comunidade para o transporte. Diz que pinta como escreve e “A maçã cai fria” foi o seu primeiro livro de poesia.

“A inteligência artificial é uma ferramenta incrível”
Flávia Germano Barra afirma não estar assustada com a inteligência artificial e admite já a ter usado para fazer música e combinar obras de artistas. “Ficam todos muito aflitos quando se fala que a inteligência artificial pode roubar empregos, começar a desenhar melhor do que nós. É mais fácil às pessoas perceberem o que a inteligência artificial pode beneficiar em termos de tecnologias para a saúde, prevenção de doenças, curas de doenças como o cancro. Pode haver grandes prejuízos e ameaças, mas ainda estamos no centro do acontecimento para percebermos como é que temos de regular”, argumenta.

Programa de residências artísticas em Valada

A artista está em contacto com a Câmara do Cartaxo para ter apoios para viabilizar um programa de residências artísticas em Valada, o que vai significar que alguns artistas em várias épocas do ano vão habitar na localidade e ter lugares para trabalhar. “Gostávamos de desenvolver sinergias com escolas ou com outros projectos culturais. Não há grande capacidade da escola se adaptar ao que os alunos pedem ou precisam e acho que os artistas podem ajudar”, refere, acrescentando que o ideal seria os artistas pernoitarem em casa de particulares para terem a experiência do que é ser um morador em Valada.
A ideia é colocar os artistas a investigar temas importantes como a paisagem, cultura avieira, agricultura e linguagem. Em Outubro prevê-se a primeira residência artística com a duração de um mês e meio e para o ano regressa o Desforra – Valada Weekend, que levou arte a espaços como a antiga escola primária de Valada, com outro nome e novos artistas.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1694
    11-12-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo