Escola de Toureio José Falcão celebra 40 anos com recorde de alunos
A principal escola de toureio do país funciona em Vila Franca de Xira e tem hoje 23 alunos que chegam de todos os estratos sociais e de vários concelhos da região. O sonho de ser matador de toiros ainda vive nos jovens que, cinco vezes por semana, treinam num pavilhão do antigo complexo da Marinha em Vila Franca de Xira.
A Escola de Toureio José Falcão de Vila Franca de Xira, a principal escola de toureio do país e a única que integra a União Internacional de Escolas Taurinas, celebra a 11 de Agosto 40 anos de existência e os dirigentes dizem estar a atravessar um bom momento de vitalidade. A associação, que tem o estatuto de utilidade pública, duplicou o número de alunos nos últimos anos e acolhe hoje 23 jovens oriundos de toda a região que querem perseguir o sonho de ser matador de toiros. O presidente da direcção da escola, António José Inácio, diz a O MIRANTE que é um dos números mais altos de sempre, revelador do dinamismo da escola.
Todos os alunos andam na escola gratuitamente e as despesas são suportadas pela associação. Ali aprendem a arte jovens com idades entre os 7 e os 17 anos vindos de localidades tão diferentes como Samora Correia, Montijo, Alcochete, Santarém, Alenquer e, sobretudo, Vila Franca de Xira. Mas nestes 40 anos muitos foram os que já por lá passaram. Alguns cumpriram o sonho e tornaram-se matadores de toiros, outros bandarilheiros e outros apenas aficionados com maior conhecimento de causa. São exemplo de matadores que passaram pela Escola José Falcão, além de António João Ferreira - actual professor na escola - nomes como Manuel Dias Gomes, Nuno Casquinha, João D’Alva ou João Silva (“Juanito”).
A escola de toureio, diz António José Inácio, dá um contributo importante para a formação pessoal, social e ética dos jovens. Chegam à escola de todos os estratos sociais, desde os que vêm de famílias desestruturadas e vivem no bairro social de Povos, em VFX, até outros que são filhos de ganadeiros ou funcionários públicos. Em alguns casos, a escola ajudou a evitar que seguissem caminhos de delinquência.
As aulas funcionam num pavilhão cedido pela câmara municipal situado no antigo espaço da Marinha em VFX. “Desde que passámos a ter aulas na Marinha duplicámos o número de alunos e continuamos a crescer. Nunca dizemos que não a um aluno que queira vir aprender. Temos sempre a porta aberta para receber toda a gente. Muitos chegam a VFX de comboio e até para os jovens da cidade era mais fácil se tivessem aulas deste lado do rio”, explica a O MIRANTE António José Inácio. As aulas são dadas de terça-feira a sábado das 18h00 às 20h00 pelos professores António João Ferreira e Victor Mendes. Este último está mais vezes afastado das aulas práticas e a responsabilidade cai sobre António João Ferreira, que tem uma ligação forte com os alunos. Já Victor Mendes ainda vai dando umas aulas mas sobretudo acompanha os alunos quando vão a novilhadas em Espanha, o que acontece uma dezena e meia de vezes por ano. Na calha já está uma jovem promessa do toureio, João Fernandes, que triunfou numa novilhada este ano na Palha Blanco.
Continuar a honrar o nome de Vila Franca de Xira
A celebrar 40 anos, os dirigentes da escola garantem que vão continuar a honrar o nome do matador José Falcão e da cidade. Lamentam, no entanto, as crescentes dificuldades geradas pelo subfinanciamento dado à escola. A associação recebe pouco mais de 66 mil euros por ano, 60 mil provenientes de subsídios da Câmara de Vila Franca de Xira e outros seis mil euros da junta de freguesia da cidade. Verbas que, lamentam os dirigentes, não chegam para as necessidades.
“Temos feito um esforço muito grande para manter a escola a funcionar. Mas não é possível continuar a formar estes jovens com valores que não são alterados há 25 ou 30 anos”, lamenta António José Inácio. Os responsáveis lembram que outras escolas de toureio em Espanha, como Salamanca, Badajoz ou Sevilha, têm orçamentos anuais superiores a um milhão de euros, o que impede Vila Franca de Xira de conseguir fazer jogo igual com outros alunos ibéricos.
O professor António João Ferreira confessa que nunca se conseguiu afastar das suas raízes e da escola, defendendo que é “importantíssimo” que a escola exista e dê a oportunidade dos jovens que querem ser toureiros possam abraçar esse sonho. “Apesar de tudo o que se faz, precisamos de mais apoio, a escola tem de ser ajudada”, apela. Já o director técnico, José Manuel Rainho, lembra o passado importante da escola e vários nomes que a ajudaram a crescer: Jorge Domingos, Jacinto Fernandes, Pedro Santos e José e Luís Capucha.
Exposição e novilhada em agenda
Para celebrar os 40 anos da criação da Escola de Toureio José Falcão e assinalar o meio século desde a morte do toureiro, vai ser realizada uma exposição evocativa no museu municipal que, apontam os dirigentes da escola, deverá ser inaugurada a 4 de Outubro e ficar patente até dia 13, durante a Feira de Outubro em Vila Franca de Xira. Pela primeira vez, avança António José Inácio, a escola de toureio terá também uma tasquinha na feira, visando angariar receitas que ajudem a colectividade. Para 28 de Setembro está marcada uma novilhada na Praça Palha Blanco.
A Escola de Toureio José Falcão foi fundada a 11 de Agosto de 1984, ano do 10º aniversário da morte do matador de toiros vilafranquense. Em Outubro de 1996 foi constituída uma sociedade entre a Câmara de Vila Franca de Xira, o Clube Taurino Vilafranquense e a Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira para criar a escola, que mais tarde deu lugar a associação. Em Junho de 2003 a Companhia das Lezírias assinou um protocolo com o município cedendo um tentadero e uma casa no Cabo de VFX, onde é hoje a sede da escola. Entretanto, já este ano, a escola assinou novo protocolo com a Companhia das Lezírias para usar dois espaços anexos ao tentadero, para os ajudar a desenvolver as suas actividades com maior qualidade, mantendo-se as aulas num pavilhão no antigo complexo da Marinha em VFX.