Cultura | 04-09-2024 21:00

Ruben El Pavoni: “ser músico profissional em Portugal ainda é uma coisa do outro mundo”

Ruben El Pavoni: “ser músico profissional em Portugal ainda é uma coisa do outro mundo”
Ruben El Pavoni leva o Blues e o Rockabilly de Benavente para palcos internacionais

Ruben El Pavoni cresceu no meio dos instrumentos musicais e nunca quis ser outra coisa na vida senão músico.

Em Portugal, diz que a profissão não é encarada com seriedade e sente-se mais valorizado no estrangeiro. Apaixonou-se por Benavente, terra para onde regressa no final das tournées internacionais, e próximo do Dia do Artista, que se assinalou a 24 de Agosto, apela à valorização do trabalho dos músicos.

Nos anos 90 ser músico era visto como um bicho de sete cabeças, associado a toxicodependentes e a um mundo de boémia. A opinião é do músico Ruben Santos, conhecido no meio artístico por Ruben El Pavoni. Ainda hoje, aos 44 anos, sente que em Portugal o seu trabalho não é respeitado e quando explica que é músico associam sempre a um hobbie e não a uma profissão que para muita gente parece ser coisa do outro mundo.
Cresceu em Moscavide e começou a tocar bateria aos oito anos. Passou a infância no meio dos instrumentos e ensaios, com o pai, também ele músico, uma das suas influências. O irmão mais novo é baterista e chegou a ter uma escola de ensino musical em Benavente, onde Ruben El Pavoni deu aulas. Há três décadas começou a tocar baixo e o seu instrumento principal é o baixo eléctrico. Toca contrabaixo, harmónica, guitarra e canta. Nunca quis ser outra coisa na vida senão músico.
Estudou em Tomar, mas não chegou a completar o curso profissional. Mais tarde viveu na Póvoa de Santa Iria, Vialonga, até se mudar definitivamente para Benavente em 2011. “Apaixonei-me pela terra. Fui muito bem recebido. Todas as pessoas sabem quem sou e cumprimento toda a gente na rua”, refere a O MIRANTE. Blues é o seu estilo musical favorito. Quando andava na escola os colegas brincavam porque não se encaixava no grupo dos “metaleiros” nem dos “rappers” e ouvia reportórios musicais que ninguém conhecia.

Músico é reconhecido no estrangeiro
Os dias de Ruben El Pavoni não são todos iguais. Depende dos ensaios, tournées e idas ao estrangeiro. Na carreira musical contam-se algumas bandas de bares, artistas nacionais e internacionais. Dentro dos Blues tocou com nomes americanos como Glenn Kaiser, Alvon Johnson e John Nemeth. Desde 2012 toca contrabaixo em bandas de Rockabilly como The Wine-a-billy Rollers, AJ & the Rockin trio, Texabilly Rockets e Roy Dee & The Spitfires onde tem tocado por todo o mundo nos mais diversos festivais de Rockabilly, assim como a acompanhar artistas internacionais em festivais desde Las Vegas, Barcelona, Eslovénia, Itália, Alemanha e França. Está actualmente a trabalhar nos seus projectos a solo e sempre que é solicitado toca em Benavente, como já aconteceu em eventos da câmara municipal.
As suas músicas estão disponíveis nas plataformas digitais mas valoriza mais o analógico. O seu primeiro álbum foi gravado em vinil e nem sequer existe em CD. Define-se como um cidadão do Mundo mas sente-se mais valorizado fora do país. “Contratam-me pela música, já sabem quem sou. Temos excelentes músicos em Portugal mas a maioria, que anda na praça pública, não tem qualidade. Não se dá tempo de antena aos bons músicos. Têm mais saída aqueles que têm as bailarinas a mostrar as pernas”, lamenta.
Já lá vai o tempo em que ficava aborrecido com as críticas e hoje fecha-se ao ruído exterior. No Dia do Artista sublinha que a melhor forma de apoiar os músicos é ir aos concertos e comprar o merchandising. “Valorizem a arte e os músicos. Tudo na vida tem música, desde a banda sonora de uma telenovela ao toque do telemóvel a música está em todo o lado. É uma linguagem de sentimentos e uma música pode ter capacidade de nos transportar para outros momentos da nossa vida”, conclui.

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