Cultura | 09-09-2024 15:00

Equilíbrio Verbal: um projecto teatral de paixão e inquietação em Alverca

Equilíbrio Verbal: um projecto teatral de paixão e inquietação em Alverca
José David e Fernando Oliveira são dois dos rostos da Equilíbrio Verbal, de Alverca do Ribatejo, que já leva 12 anos de existência na cidade

Associação cultural sem fins lucrativos nasceu em 2012 da vontade de um grupo de apaixonados por teatro que queria fazer peças à sua maneira e ao seu ritmo, fora do horário de trabalho. Ensaiam na Casa da Juventude de Alverca e entram em cena no palco do Centro Cultural do Bom Sucesso.

O concelho de Vila Franca de Xira tem diversas companhias de teatro, amadoras e profissionais, que o colocam na linha da frente para se afirmar como referência dessa arte na Área Metropolitana de Lisboa. A convicção é dos membros da Equilíbrio Verbal Projectos Culturais, associação sem fins lucrativos criada em 2012, em Alverca do Ribatejo, para aproximar a comunidade do teatro e artes cénicas.
O grupo nasceu pela mão de Fernando Oliveira, presidente da direcção e encenador, que quis criar um espaço onde pudesse explorar as suas próprias ideias. Reuniu amigos de longa data da cidade, como o actor José David, e fundou um colectivo dedicado à criação teatral. Desde então, o grupo tem sido um pilar da cena cultural de Alverca, promovendo peças que variam dos dramas às comédias e sempre com um toque pessoal e inovador.
São autónomos e financiam as suas peças com apoios de empresas e instituições nacionais. Do município de Vila Franca de Xira recebem apenas apoio logístico, no caso, o espaço onde ensaiam na Casa da Juventude de Alverca e o palco do Centro Cultural do Bom Sucesso onde estreiam as suas peças quase sempre com casa cheia. A equipa nuclear do grupo é composta por seis pessoas, mas em função dos projectos o número pode aumentar para uma dezena de membros. Todos os envolvidos partilham a paixão pelo teatro, dedicando o seu tempo livre à arte, apesar de terem outras profissões durante o dia. Muitos possuem formação em teatro mas a maioria participa pela paixão e o desejo de manter viva a tradição teatral na cidade. Em pouco mais de uma década, a Equilíbrio Verbal tem produzido e encenado um espectáculo por ano.

Tradição do teatro não pode morrer
José David, actor, relembra a O MIRANTE que a tradição teatral no concelho de Vila Franca de Xira remonta aos anos 80, quando os grupos de teatro amador eram abundantes e as estreias mobilizavam a comunidade. Com o tempo, essa cena vibrante perdeu força, especialmente devido à proximidade a Lisboa, que absorveu grande parte do público da região. “Lisboa está muito perto e dos anos 90 para cá é uma esponja que absorve muito público. Fazem-se peças de teatro no concelho que são muito boas, mas precisam que o público apareça. E depois temos a velha questão: se as peças forem gratuitas as pessoas desconfiam, se for a pagar acham caro”, considera. Para os dirigentes da associação, é importante não menosprezar o que se faz na terra. “Em Lisboa vemos trabalhos feitos para um público geral, sem rosto, aqui temos o prazer de fazer teatro para as nossas comunidades e as nossas realidades”, explicam.
Fernando Oliveira acredita que a diversidade teatral é fundamental para o fortalecimento cultural do concelho. Para ele, o desafio não está apenas em atrair o público de volta ao teatro, mas também em promover uma cultura teatral que estimule o pensamento crítico e a participação activa das comunidades. “Queremos inquietar”, acrescenta José David.
Para os dirigentes, a variedade teatral existente é boa e garante que todos os membros do grupo têm boas relações com os restantes grupos de teatro. “Recusamo-nos a aceitar que Alverca seja uma cidade dormitório. Lutamos para que isso não aconteça. Vestimos a camisola da nossa terra. Damo-nos bem com todos os grupos do concelho e conhecemo-nos. Trabalhámos imensas vezes juntos. Mas devia fomentar-se mais esta união, interacção e cooperação entre os grupos. Ficávamos todos a ganhar. Não estamos aqui para competir com ninguém, estamos apenas para nos divertirmos a fazer teatro e tentar inspirar quem nos vê”, explica Fernando Oliveira. O desafio e o vício do palco movem o grupo, que gosta de testar os seus limites e perceber até onde consegue inquietar e fascinar a sua plateia, sempre com as cores de Alverca ao peito.

Nova peça em Novembro

O próximo projecto do grupo, com estreia marcada para Novembro, será uma adaptação de textos de Franz Kafka, intitulada Anthrodynia, que promete trazer uma inquietação reflexiva ao público, característica central do trabalho de Fernando Oliveira como encenador. “Gostamos de trabalhar peças que não são baseadas nos textos habituais de teatro. Será em torno de textos menos conhecidos, com uma dramaturgia adaptada e um toque pessoal”, explica Fernando Oliveira.

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