Cultura | 11-09-2024 18:00

Associação de Entrevinhas no Sardoal dá vida a uma aldeia com 50 habitantes

Associação de Entrevinhas no Sardoal dá vida a uma aldeia com 50 habitantes
TEXTO COMPLETO DA EDIÇÃO SEMANAL
O presidente da associação defende que o associativismo deve servir a comunidade e dinamizar as aldeias mais pequenas e envelhecidas

A Associação de Melhoramentos e Amigos de Entrevinhas, no Sardoal, ajuda a dar vida à aldeia e a preservar as suas tradições, organizando diversas actividades durante o ano. Hélder Carboila, presidente da colectividade, destaca o papel do associativismo na dinamização dos territórios mais desertificados.

A Associação de Melhoramentos e Amigos de Entrevinhas tem feito um trabalho assinalável ao serviço da comunidade da pequena aldeia do concelho de Sardoal. O principal objectivo da associação, segundo explica o presidente, Hélder Carboila, é dinamizar a aldeia, proporcionando actividades todos os meses e momentos de convívio aos residentes, estando sempre ao serviço da população local. “O mais importante é falar-se da associação e da aldeia como tem acontecido. As pessoas andam felizes, queremos dinamizar a aldeia e levar o seu nome além do concelho, olhando sempre para o bem-estar da comunidade” explica.
Foi necessário inovar e mudar alguns conceitos para hoje a associação ser uma referência no associativismo sardoalense. A Festa da Cabra, um arraial de Verão que é o ex-líbris da associação e da aldeia foi um dos momentos mais marcantes este ano, juntando cerca de 500 pessoas na aldeia. “Acho que nunca se viu tanto carro na aldeia. Tivemos uma cabra numa horta, como alusão ao nome, para as pessoas verem e tirarem fotografias. Este ano um dos artistas foi o Zé Cabra e, além de ficar bem como referência ao nome do evento, as pessoas gostaram imenso e ficaram incrédulas como é que estava o Zé Cabra em Entrevinhas”, conta divertido.
O festival das sopas, novidade no concelho e organizado pela associação, foi também uma das actividades de maior êxito este ano, que conta com outras novidades como as comemorações do Dia da Mulher, uma caminhada nocturna de Halloween pela aldeia, com animação e pessoas fantasiadas e a actividade no dia 1 de Novembro, com as crianças a irem pedir os tradicionais “santinhos” de porta em porta, com direito a almoço na associação. Manter as tradições é também um dos objectivos da associação, como é o caso da Procissão de Santo António, que não se realizava há alguns anos devido ao mau estado da estátua do santo. “Quisemos recuperar essa tradição. Falámos em assembleia e com algumas entidades e conseguimos arranjar um santo novo e este ano já se realizou de novo a procissão”, afirma com um sorriso.
O investimento no dinamismo e melhoria da aldeia não fica pelos eventos e actividades. A associação tem na sua sede um ponto de venda de gás para evitar que a população mais envelhecida e com dificuldade de locomoção tenha de se dirigir até ao Sardoal para esse fim. O bar, pontualmente aberto ao fim-de-semana, serve de ponto de convívio para alguns residentes que, de outra forma, não teriam onde se reunir. “Não há um café nem espaços comerciais aqui. Por vezes, as pessoas ficam aqui toda a tarde apenas a falar, a ver televisão ou jogar cartas porque de outra forma não se iriam ver. Por ser um meio pequeno, quando não vemos algum idoso há algum tempo, ligamos a algum familiar a perguntar se está tudo bem”, explica o presidente da associação.

Uma associação com 200 sócios numa aldeia com 50 habitantes
Hélder Carboila acredita que esse seja um dos motivos do crescimento da associação nos dois últimos anos, que conta com mais de cem novos sócios. A aldeia de Entrevinhas tem cerca de cinquenta habitantes, mas a associação conta com 200 sócios activos o que Hélder Carboila acredita ser fruto do bom trabalho que tem sido desenvolvido e pelo sucesso dos eventos que gera boa publicidade. “As pessoas vão falando. Ainda hoje se fala da Festa da Cabra que foi há três semanas. O boca a boca e as redes sociais têm ajudado a publicitar os nossos eventos. Depois as pessoas vêm uma vez, gostam e recomendam”, explica.
Num meio pequeno e com grande parte de população idosa, Hélder Carboila acredita que o sucesso das actividades e a forte dinâmica da associação tem trazido várias pessoas de fora da aldeia e até do concelho. “Temos jovens e adultos que nasceram cá, mas tiveram de ir fazer as suas vidas para outras cidades e que regressam para ajudar na organização de eventos e para rever familiares. Felizmente, temos conseguido atrair também muitos jovens de outras localidades do concelho e até mesmo de fora. Temos pessoas a vir desde Mação, Vila de Rei e até do Montijo já chegaram a vir para o festival das sopas”, explica.

Associativismo deve ser gratuito e em prol do outro

Hélder Carboila é do Sardoal, não tendo nenhuma ligação à aldeia de Entrevinhas. Juntou-se à associação há cerca de 12 anos para ajudar um grupo de amigos e está à frente da associação desde o ano passado. Por influência dos pais, sempre esteve ligado ao associativismo que acredita ser uma das formas mais importantes de dinamizar meios pequenos. “É preciso gosto. O associativismo é sobre dar e ajudar os outros. Defendo que tem de ser algo voluntário, sem dinheiro envolvido, porque é um trabalho feito em prol de uma comunidade e de um local”, afirma.
As obras que têm sido feitas, quer na associação - como a recuperação de um barracão que agora é usado como escritório e a nova instalação de rede eléctrica - como na aldeia são dos aspectos mais elogiados pela população. “Temos apoios monetários da autarquia e das juntas, mas também logísticos e de transporte que são ajudas preciosas. No entanto, a grande parte das receitas que temos são fruto das nossas actividades que acabam por se pagar a si próprias, uma vez que não temos patrocínios. Os lucros não são a nossa prioridade, claro que não podemos ter prejuízo, mas o mais importante é o sucesso dos eventos e que a população goste e desfrute”, diz.

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