Associação Cultural do Biscainho prepara casamento à moda antiga para angariar receitas
Colectividade com pouco mais de um ano de existência inspira-se em tradições de outros tempos para dar vida à terra e angariar fundos. Casal com 80 anos e organizadores participam com trajes da época.
A Associação Cultural em Honra de São João de Deus Biscainho, em Coruche, prepara-se para recriar um casamento à moda antiga no dia 28 de Setembro, como parte de uma série de eventos destinados a angariar fundos para as festas locais. A iniciativa esgotou rapidamente, estando já mais de uma centena de pessoas confirmadas.
Mafalda Cecílio, cozinheira e membro da associação, explica que a ideia surge da necessidade de angariar fundos: “Quisemos dinamizar alguns eventos, trazendo-lhe um cariz diversificado e diferente. Só assim conseguimos atrair o interesse das pessoas”, afirma. O casamento à moda antiga, segundo a dirigente, “é algo que as pessoas têm saudades de ver, porque há muitos anos que o matrimónio mudou muito”.
O casal composto por Joaquim Cotrim, de 83 anos, e Maria Ferreira, de 80, será o centro da recriação. Casados há 62 anos, o seu matrimónio serve de inspiração pela longevidade, “uma vez que hoje alguns já não duram nem seis dias”, comentaram, entre sorrisos, vários elementos da colectividade. Os noivos, tal como os padrinhos e os organizadores do evento, irão trajar roupas típicas, algumas delas inspiradas nos casamentos dos anos 60, em homenagem às tradições de outrora.
Além do evento central, a recriação inclui a oferta simbólica de presentes, como se fazia antigamente, com o prato de arroz doce e bolos. “Os presentes serão levados a casa das pessoas, tal como se fazia antes, mas o valor monetário deste presente, de 12 euros, reverte a favor da associação”, esclarece Célia Recatia, vice-presidente da associação. No passado os presentes eram oferecidos pelos pais dos noivos aos convidados.
O último casamento no Biscainho nestes moldes, com a oferta dos presentes e à moda antiga, ou seja, o chamado casamento em casa, ocorreu em 1990. Nesse ano casou precisamente Célia Recatia, actual vice-presidente da colectividade. “Fomos muitos a casar nesse ano e, depois, a partir daí começou-se a casar em restaurantes. Era mais confortável para os pais. Nos casos mais recentes já se procurava fazer em restaurante ou, como ainda hoje sucede, em espaços vocacionados para estas celebrações”, explica a dirigente.
A população do Biscainho recorda que noutros tempos chegava a celebrar-se um casamento a cada oito dias. Actualmente, contraem matrimónio uma dezena de casais por ano. “Hoje em dia o casamento é caro e, lamentavelmente em algumas situações, há quem fique mais tempo a preparar o casamento do que juntos depois de casar”, refere um dos elementos da associação.
Muitos outros eventos ao longo do ano
A recriação do casamento à moda antiga é apenas um dos eventos que a associação tem planeado. Depois vão ter uma noite de fados a 26 de Outubro, uma noite jovem a 9 de Novembro, e muitos outros eventos ao longo do ano. Estes eventos, que incluem ainda a Feira das Sopas e um baile de Carnaval, têm como objectivo angariar verbas para as Festas do Biscainho.
Mafalda Cecílio e Célia Recatia sublinham o orgulho da comunidade pela dinâmica da colectividade: “Somos cerca de 20 pessoas, todas com ligação ao Biscainho, e apesar de termos diferentes vocações, trabalhamos em prol das festas”, dizem. A associação, criada há pouco mais de um ano, tem conseguido atrair interessados em lutar por manter vivas as tradições locais.
A associação recebe 750€ da junta de freguesia para o ano inteiro, um valor a que se somam 2.500€ específicos para as festas. A Câmara de Coruche também apoia o associativismo e nas ambições da associação do Biscainho está, no futuro, poder ter um espaço físico próprio. Por enquanto, a sede da associação é a sala polivalente da junta de freguesia.
Além dos eventos maiores, a associação organiza almoços todas as segundas-feiras na sala dos caçadores, na EN119, que envolve mais uma logística até porque são entregues refeições ao domicílio, em especial de pessoas com dificuldade em deslocar-se.