Rancho “Os Camponeses” é o grupo mais dinâmico em Santa Eulália
O Rancho Folclórico “Os Camponeses” de Santa Eulália tem 45 elementos mas é difícil manter os jovens no grupo. Namoros, saídas com amigos e redes sociais contrastam com o tempo e compromisso que é preciso para manter viva a tradição. O grupo conta com um ensaiador experiente e formado em etnografia mas é difícil arranjar costureiras que façam os trajes de trabalho. Apesar dos desafios o grupo mostrou vitalidade no seu festival anual de folclore.
O Rancho Folclórico “Os Camponeses”, do Grupo Desportivo de Santa Eulália, Vialonga, tem 45 elementos mas cada vez é mais difícil manter os jovens no grupo. Assim que têm carta de condução ou começam a namorar desinteressam-se pelo rancho porque lhes exige tempo e muitos fins-de-semana.
O rancho é composto por 12 homens e 24 raparigas, fora a tocata e os acordeonistas, que são pagos. Os ensaios realizam-se pelo menos de 15 em 15 dias mas o ideal era que acontecessem todas as semanas. “Estamos numa zona urbana e para manter os mais novos aqui é difícil. O meu filho tem 16 anos mas só começou agora e possivelmente quando arranjar namorada deixa isto. Mas tenho cá uma neta e tenho conseguido trazer malta mais nova. Mas entram e saem muitos”, conta a O MIRANTE o ensaiador António Mateus, há 21 anos no rancho.
“Os Camponeses” dançam as modas da lezíria ribatejana e têm a representação de um campino de gala, um campino de trabalho e camponeses. António Mateus representa no rancho a figura do lavrador porque Vialonga era uma terra de muitas quintas. O ensaiador passou por outros ranchos da região e é um dos poucos formados em etnografia e folclore do concelho de Vila Franca de Xira. No rancho de Santa Eulália procura manter o que já estava feito e não “inventar” até porque actualmente a recolha etnográfica é muito complicada.
Trajes são dispendiosos e cada vez há menos costureiras
Marlene Soares, 37 anos, entrou aos 19 anos no rancho mas já fazia parte da comissão de festas do GDSU. O pai não a deixou ingressar antes no rancho porque não queria que estivesse ocupada aos fins-de-semana. Quando tirou a carta de condução começou a ir aos ensaios e depressa aprendeu a dançar. Hoje é uma das representantes dos camponeses e trata das burocracias, das marcações de agenda, da roupa e do transporte.
Cada pessoa é responsável por lavar e tratar do seu traje e dos sapatos. Um traje para uma actuação do rancho é dispendioso e pode chegar aos 400 euros. Os trajes femininos têm meias, culote, saiote, saia e avental e cada vez é mais difícil encontrar costureiras para fazer a roupa.
Cláudio Ferreira, 45 anos, é o elemento mais antigo. Entrou com 16 anos. Levou a esposa e os filhos e considera que hoje as pessoas dão mais valor à tradição e etnografia e ser do rancho já não é alvo de chacota. E como nunca é tarde para aprender Jacinto Gomes Soares, 82 anos, toca reco-reco há uma década. Com a mesma idade António Augusto Coelho toca cana e vai a todo o lado com o grupo desde que a saúde permita.
Festival com casa cheia
O GDSU realizou no dia 14 de Setembro o seu 24º Festival de Folclore com casa cheia e “Os Camponeses” foram os anfitriões. O rancho da colectividade foi o primeiro a actuar, seguido dos ranchos convidados “Os Mensageiros da Alegria” de Vila Nova de Ceira, Góis e o Grupo tradicional “Os Casaleiros Casais dos Britos”, Azambuja. O festival de folclore é um dos momentos anuais mais importantes do grupo desportivo e conta com o apoio da população e do comércio local.
Grupo Desportivo de Santa Eulália quer museu em escola desactivada
O Grupo Desportivo de Santa Eulália quer um espaço para o museu etnográfico, que está há vários anos no primeiro andar da sede da colectividade. Os artefactos estão a degradar-se, ano após ano, e sem condições de ser mostrado aos visitantes.
De acordo com o presidente do grupo desportivo, Ernesto Filipe, já decorreram reuniões com a vereadora com o pelouro da cultura no município de Vila Franca de Xira, Manuela Ralha, em que foram solicitadas as instalações da antiga escola primária de Santa Eulália. “Temos aqui uma escola primária desactivada que serve de armazém para a Protecção Civil Municipal, só tem tralha. Já reuni na câmara, mandei e-mails para o presidente Fernando Paulo Ferreira e para o António Carvalho, comandante da Protecção Civil mas sem resposta. Está tudo abandonado e cheio de lixo e para nós podia ser o nosso museu etnográfico”.