Cultura | 30-10-2024 18:00

“O município do Entroncamento despreza a comunidade artesã”

“O município do Entroncamento despreza a comunidade artesã”
Cesarina Conceição e Patrícia Vicente pretendem um pedido de desculpa por parte do município e que sejam dados mais apoios e incentivos à comunidade artesã do Entroncamento

Cesarina Conceição e Patrícia Vicente foram duas das quatro artesãs excluídas pela organização do Festival Vapor, no Entroncamento. Em 2017 e 2021, Cesarina Conceição foi candidata às eleições autárquicas, nas listas do CDS, acreditando que a exclusão do evento deveu-se a um ataque pessoal dirigido a si, que acabou por afectar as restantes artesãs.

Cesarina Conceição e Patrícia Vicente são duas das quatro artesãs excluídas de participar no Festival Vapor, no Entroncamento, e que escreveram uma carta aberta ao município como protesto. Cesarina Conceição, 54 anos, começou a expor e participar em eventos e mostras de artesanato no concelho em 2015. Em conversa com O MIRANTE conta alguns episódios de desacordo com elementos do executivo, sendo a localização e condições dos stands as principais causas.
“Inicialmente tínhamos um stand gratuito, mas tinha de ser dividido por duas artesãs. Em vários eventos, a localização não era a melhor, fosse pelas condições meteorológicas ou por serem zonas menos frequentadas pelos visitantes dos eventos. Sugeri várias vezes trocar os stands de 3x2 por 3x3 visto sermos duas artesãs e mais um metro de profundidade faria toda a diferença. O vereador Carlos Amaro, responsável pela cultura na altura, chegou-me a dizer que não mudava porque não gostava. Em alguns episódios, tanto ele como o presidente Jorge Faria disseram que eu estava sempre a reclamar”, conta.
Cesarina Conceição acredita que, o facto de ter participado nas listas do CDS para as eleições autárquicas de 2017 e 2021 contribuiu para acentuar estas divergências. “Por norma, quem incomoda é um alvo a abater. Só pedia que não envolvessem as minhas colegas artesãs nisto, porque não há necessidade e é isso que me custa. Parece-me tudo um ataque pessoal dirigido a mim”, desabafa a artesã.
A inscrição para participar na Feira Craft, inserida no Festival Vapor, partiu da partilha do evento num grupo de artesãos do Entroncamento onde estão presentes e inscreveram-se. Contrariamente à resposta posterior do município, em que diz que o único critério seria a coerência dos produtos expostos, alusivos à estética e linguagem do festival, própria do movimento Steampunk, afirmam que nunca foi exigido nenhum critério que exigisse a mostra de produtos alusivos ao tema.

“Sentimo-nos tristes, revoltadas e excluídas”
Quanto à resposta do Museu Nacional Ferroviário, no momento em que questionaram o porquê da inscrição não ter sido aceite, foi-lhes dito que se privilegiou a variedade, qualidade e diversidade da mostra de produtos, nunca havendo nenhuma referência a critérios de selecção por produtos alusivos ao tema. “Ambas as respostas são ridículas e vergonhosas, com o único objectivo de atirar areia para os olhos. Sentimo-nos tristes, revoltadas e excluídas. Invocam tanto a inclusão e excluem artesãos do concelho dos próprios eventos. O município não valoriza e despreza a comunidade artesã, mas parece que, em vários eventos, há sempre artesãos mais beneficiados e privilegiados em prol de outros”, atira Cesarina Conceição.
“O que pretendemos, neste momento, é um pedido de desculpas do município a nós quatro pela forma como nos trataram e por toda esta situação. No geral, gostávamos que houvesse uma reunião do executivo com todos os artesãos da cidade para ouvirem as nossas necessidades e serem dadas mais oportunidades ao artesanato local”, diz Cesarina Conceição.
Para Cesarina Conceição e Patrícia Vicente o artesanato é a sua ocupação a tempo inteiro e principal rendimento, tornando ainda maior o impacto de serem excluídas de um evento do concelho. “Causa um impacto enorme. É menos uma oportunidade de mostrar o nosso trabalho e menos uma oportunidade de venda, ainda para mais num evento reconhecido do concelho”, lamenta.
Patrícia Vicente produz sabonetes decorativos e personalizados, com a marca registada Artespuma enquanto Cesarina Conceição dedica-se à criação de produtos de macramé, bijuteria e costura recreativa. Defendem que deveria haver mais apoios e incentivos aos artesãos como, por exemplo, um espaço como o Posto de Turismo ou o Museu Nacional Ferroviário, onde cada artesão pudesse ter, durante todo o ano uma pequena exposição dos seus artigos.

Falta brio pela cultura e pelo concelho

Cesarina Conceição lamenta que a cultura no Entroncamento esteja esquecida e sem incentivos por parte do município. As duas artesãs residem no concelho e lamentam o estado a que o concelho chegou. “Está muito mau para viver aqui. Se tivesse para onde ir, já me tinha ido embora. Há falta de brio e gosto pela cidade, não há segurança nem ligação aos munícipes por parte dos autarcas” atira Cesarina Conceição, acrescentando que, apesar do potencial que reconhece ao concelho, o vê estagnado pelas decisões políticas. “Tudo está mal aproveitado. A cultura, educação, segurança, até o comércio. Há 20 anos havia ruas cheias de comércio, o mercado era muito procurado, até por pessoas de fora, havia a zona dos bares que davam muito movimento nocturno, hoje em dia é impossível pela falta de segurança e nem existem opções”, lamenta a artesã.

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