Cada vez mais jovens recorrem à inteligência artificial em busca de apoio emocional
Importância e impacto da saúde mental na infância e adolescência foi tema de debate, em Abrantes, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Saúde Mental.
Jovens e crianças estão mais despertos para a questão da saúde mental e procuram apoio não só junto de familiares e amigos mas também nas novas ferramentas tecnológicas.
Cada vez mais crianças e jovens se têm preocupado com as questões relacionadas com a saúde mental, tema que tem ganho relevo na sociedade actual. No dia 18 de Outubro, decorreu uma mesa redonda sobre o tema, em Abrantes, no âmbito das comemorações do Dia Mundial da Saúde Mental. O psicólogo municipal, Duarte Costa, alertou para o facto de cada vez mais jovens procurarem apoio e conforto emocional na inteligência artificial. “Existem estudos que comprovam que, cada vez mais jovens, procuram as ferramentas de inteligência artificial para apoio emocional, até mais do que um animal de companhia. É uma resposta racional e sem julgamento, disponível todos os dias a qualquer hora e sem a pressão social, oferecendo um espaço comum que se adapta às necessidades de cada um. No entanto, não deixa de ser intrigante o porquê de procurarem apoio junto destas ferramentas e não junto de familiares e amigos”, afirma o psicólogo.
As técnicas superiores de acção social em serviço de psiquiatria, Ana Santos e Madalena Rodrigues, também abordaram o tema. Ana Santos refere que os jovens estão a começar a pedir ajuda e gostam de partilhar os sentimentos com outras pessoas, reconhecendo os seus próprios sinais de alerta. “Estamos numa altura em que, felizmente, temos cada vez mais jovens a procurar apoio de técnicos e pares por estarem atentos e reconhecerem que precisam de ajuda. Estes passos devem ser valorizados. Os jovens devem sentir-se cada vez mais à vontade para partilhar o que sentem”, afirma Ana Santos. Madalena Rodrigues concorda, acrescentando que os jovens, não só estão atentos aos seus sinais, mas também aos das pessoas próximas. “É fundamental ter todos alerta para o amigo do lado, que pode estar a precisar e não ter coragem de pedir. É preciso os jovens serem abertos e compreensivos. Se o amigo do lado tiver problemas, eles devem ser os mediadores e a porta que os amigos precisam”, afirma.
A enfermeira especialista em saúde mental, Tânia Felisberto, abordou a saúde mental na infância e adolescência, apresentando o programa de formação “+ Contigo”, do serviço de enfermagem de Ourém e Fátima, implementado em escolas profissionais, que pretende identificar, sinalizar e referenciar o acompanhamento de jovens e a sua saúde mental.
Psiquiatria na ULS Médio Tejo com poucos especialistas
A psiquiatra Luísa Delgado, directora do departamento de psiquiatria e saúde mental da Unidade Local de Saúde (ULS) do Médio Tejo, lamentou que apenas exista uma psiquiatra e uma pedopsiquiatra na unidade, reconhecendo, no entanto, que é um problema nacional. A médica dedicou a sua intervenção à doença de esquizofrenia. “Trata-se de uma doença do neuro-desenvolvimento que, apesar de já existir uma predisposição e de ir evoluindo, desenvolve-se desde muito cedo, sendo comum aparecer o primeiro surto psicótico pelos 14 anos. É importante estar atento aos sintomas e tipos de sintomas, sendo os negativos e cognitivos os mais graves, porque são os que dão incapacidade e tornam a situação realmente difícil. As pessoas deixam de ter iniciativa e têm dificuldade em processar informação”, explica Luísa Delgado, acrescentando que a doença pode estar associada a factores genéticos. A esquizofrenia é descrita por alterações no comportamento, afectos desajustados, dificuldade de adaptação e comportamentos desadequados.
O estigma das doenças mentais
Ana Santos e Madalena Rodrigues abordaram ainda os estigmas que existem em torno das doenças mentais. As duas técnicas explicam que é fundamental desmontar os rótulos e estigmas sociais e, por vezes, até autoimpostos pelos próprios doentes. “O estigma afecta a auto-estima da pessoa que, por vezes, é discriminada por si mesma ou pela família e começa a isolar-se, ficar mais em casa, e a piorar ainda mais o seu estado. As pessoas acabam por ser excluídas e trata-se de alguém que precisa de ajuda, tratamento, reabilitação e tem igual direito e acesso aos vários serviços para melhor qualidade de vida”, afirma Ana Santos, acrescentando que os assistentes sociais têm de agir como agentes de mudança e facilitadores do processo.