Cultura | 17-12-2024 18:00

Fado de Coimbra em Santarém: uma ponte entre o Tejo e o Mondego

Fado de Coimbra em Santarém: uma ponte entre o Tejo e o Mondego
João Madeira Lopes é um dos fundadores do Grupo de Guitarra e Canto de Coimbra do CCR de Santarém. fotoDR

Com quase quatro décadas de história, o Grupo de Guitarra e Canto de Coimbra de Santarém preserva a tradição do Fado da cidade dos estudantes, combinando o legado e a inovação para inspirar gerações.

Desde a sua fundação, a 4 de Julho de 1985, que o Grupo de Guitarra e Canto de Coimbra (GGCC) do Centro Cultural Regional de Santarém se tornou um dos mais antigos e respeitados grupos do país, preservando a essência e a tradição do Fado da cidade dos estudantes. Embalado pela inspiração das águas do Mondego e do Tejo, o grupo tem sido uma referência cultural, integrando a alma e a história desta tradição musical. Em conversa com O MIRANTE, João Luiz Madeira Lopes, um dos fundadores e guitarrista do grupo, partilhou os desafios e os objectivos de uma formação que tem tanto de legado quanto de inovação.
As origens do grupo remontam às primeiras décadas do século XX, quando o Liceu Sá da Bandeira era um núcleo efervescente da cultura coimbrã. Incentivados pelo espírito dos estudantes, muitos alunos do liceu seguiram os estudos em Coimbra, levando consigo a cantiga da cidade. Nos anos 50 e 60, uma nova geração herdou e revitalizou esse património, criando a base que, em 1985, culminaria na fundação oficial do grupo. Os fundadores, Luís Malha Valente, João Luiz Madeira Lopes, Fernando Martinho, António Viegas Tavares e Raúl Melo Santos, idealizaram o grupo como uma extensão da tradição coimbrã, mas com identidade própria, alimentada pelo espírito ribatejano. Hoje, a formação inclui os cantores Raúl Melo Santos, Víctor Casimiro e Eduardo Peres, os guitarristas João Luiz Madeira Lopes, Francisco Madeira Lopes e Hugo Assunção, os violistas Elias Cachado Rodrigues, Jacinto Fernandes e Tobias Lopes, além do sonoplasta Víctor Grego.
Para João Luiz Madeira Lopes, a importância do Fado de Coimbra na cultura portuguesa transcende a música. “O Fado de Coimbra carrega poemas populares que narram histórias de amor, de saudade e de luta. Foi também um símbolo de resistência, especialmente antes do 25 de Abril, quando as músicas de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira eram ouvidas clandestinamente”, conta. Essa ligação entre a música e a transformação social é uma das razões pelas quais o grupo mantém vivo este estilo musical, que continua a encantar diferentes gerações.
O repertório do grupo equilibra tradição e originalidade. Além das canções clássicas de Edmundo Bettencourt, Fernando Machado Soares e Luís Góis, o grupo também apresenta composições próprias, como a emblemática Balada de Santarém, de António Viegas Tavares. O grupo realiza ensaios regulares, que se intensificam antes dos concertos ou eventos importantes.

Evolução e modernização
Embora o grupo mantenha uma ligação forte com a tradição, João Luiz reconhece a importância da evolução. “Há grupos novos que têm criado coisas diferentes. Para mim, quem trouxe uma grande reviravolta ao Fado de Coimbra foi Luís Góis, que introduziu novas temáticas e melodias depois de sair da cidade”, destaca. Essa fusão entre o respeito pela tradição e a abertura à modernização garante que o Fado de Coimbra continua relevante e capaz de dialogar com os públicos contemporâneos. “É gratificante ver que o público, de várias idades, adere e aprecia. Isso mostra que a música de Coimbra ainda tem um lugar especial na alma portuguesa”, comenta João Luiz.

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